'Ted 2', o ursinho de pelúcia cínico e desbocado volta a atacar
São Paulo - O humorista Seth MacFarlane recorre ao que ele chama de "método científico" para determinar se uma piada é ofensiva demais. Antes de usá-la em filme, na TV ou em uma apresentação, ele costuma testá-la com desconhecidos. Se pelo menos oito pessoas rirem, num grupo de dez, a brincadeira está aprovada. "Quando a piada funciona, não importa se ela soará ultrajante para alguns ou se aumentará as minhas inimizades, que são muitas", conta MacFarlane, criador de Uma Família da Pesada e cocriador de American Dad!, séries de animação que refletem o seu gosto pelo escracho, pelo humor negro e pelo politicamente incorreto.
Um dos roteiristas mais bem pagos dos EUA, MacFarlane insulta seu alvos favoritos (como negros, gays, transexuais, obesos e cegos) em Ted 2, a continuação da história do ursinho de pelúcia cínico, desbocado e obcecado por drogas e sexo - que ele mesmo dubla nas telas. Nem Jay Leno e Robin Williams (morto no ano passado) escapam da irreverência do comediante de 41 anos, responsável pelo roteiro, direção e produção do longa. Os ataques de 11 de setembro e ao jornal Charlie Hebdo também são citados, num contexto discutível.
"Toda obra que emprega o uso de animação, inclusive Ted, tem certa licença criativa, como acontece também na ficção científica. O autor se sente mais à vontade para cutucar pontos sensíveis, já que a abordagem não é totalmente realista. É essa desculpa que uso, quando me questionam se as minhas piadas vão longe demais", diz MacFarlane, ao Caderno 2, do jornal O Estado de S.Paulo, rindo. "Por trabalhar cerca de 12 horas por dia, produzindo muito material, já não tenho o distanciamento necessário para avaliar se o humor é abrasivo demais. A única pergunta que me faço é: o material é inteligente e engraçado o suficiente para merecer o risco que sempre corro?"
Revisitar Ted foi um desafio que MacFarlane percebeu que teria de encarar assim que o primeiro filme estourou nas bilheterias. Realizada com US$ 50 milhões, a produção totalizou renda de US$ 550 milhões, em 2012. "Não sou louco para recusar um cheque polpudo", brinca, lembrando que foram "semanas de desespero" até encontrar uma trama que justificasse o retorno dos personagens.
"Por mais que o público goste de ver Ted doidão, aprontando todas na companhia do melhor amigo, John (Mark Wahlberg), sabia que eu não poderia contar a mesma história." Fazer o urso lutar por direitos civis foi a solução para trazê-lo de volta. Após se casar com a jovem caixa de supermercado (Jessica Barth), o urso quer ter um filho - o que obriga o casal a discutir inseminação artificial e, posteriormente, adoção. Ted só não imaginava que a adoção seria proibida, por ele não existir aos olhos da Justiça. Resta então ao protagonista pedir ajuda à advogada maconheira (Amanda Seyfried), para que Ted seja considerado humano e não apenas propriedade de alguém.
"Inicialmente, pensei em fazer Ted e John atravessarem os EUA com um carregamento de drogas. Mas Família do Bagulho estreou antes, quando eu ainda escrevia o roteiro, estragando tudo", afirma, referindo-se à comédia em que Jennifer Aniston e Jason Sudeikis são forçados a contrabandear maconha do México. Aniston já foi alvo de brincadeira de MacFarlane, quando ele a chamou de ex-stripper ao apresentar a cerimônia do Oscar, em 2013. Antes de a atriz pisar no palco, acompanhada de Channing Tatum, ele disse: "Pelo menos um desses dois é honesto sobre seu passado como ex-dançarino". Tatum, sim, foi stripper em casas noturnas de Miami, o que lhe valeu o convite de Steven Soderbergh para estrelar Magic Mike.
"Como comediante, não posso me dar ao luxo de poupar essa ou aquela personalidade", diz MacFarlane, desafeto de Adrien Brody, desde que o ridicularizou em Uma Família da Pesada (no qual Brody foi citado como um ator que ninguém quer ver). "Sempre encaro as pessoas que satirizei. Algumas até me surpreendem por levarem na esportiva, como Tom Cruise." Embora já tenha insinuado várias vezes que Cruise é homossexual, MacFarlane foi bem recebido pelo ator quando eles se conheceram em Londres, no ano passado. "Cruise parece entender que zombo justamente dos artistas que mais admiro." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.