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Estrela quer 'modernizar' o jeito de ler um livro

Redação Folha Vitória

A crise que afeta o mercado editorial não assusta a Estrela, empresa que em seus 80 anos viveu momentos piores de instabilidade, principalmente na abertura econômica de Collor com a consequente invasão de brinquedos chineses.

Como parte de sua estratégia para se manter relevante neste século digital, ela acaba de anunciar a criação da Estrela Cultural, uma editora que propõe uma nova experiência de leitura ao misturar histórias, jogos e brinquedos. A estreia foi na Bienal do Livro de São Paulo, que encerra sua programação neste domingo, 11, quando a editora apresentou seus 18 primeiros lançamentos - eles já começam a chegar às livrarias. Até o fim do mês, sairão outros 5 livros. Até o fim do ano, serão 40. Essa é, aliás, a meta da nova editora: 40 livros por ano, privilegiando autores e ilustradores brasileiros.

"Para uma criança, tão importante quanto aprender a andar é aprender a virar sozinha a página de um livro. Somente assim ela vai conseguir escolher os melhores caminhos", diz o escritor Beto Junqueyra, publisher da editora. Para ele, a literatura ajuda a criança a aprender a se expressar melhor e a sentir o mundo de outra forma. "Hoje, ela é hipnotizada pela tela de um telefone ou do tablet e está perdendo a capacidade de sonhar", diz ainda.

"Estamos propondo uma nova forma de leitura, que seja mais moderna, mais interessante e mais interativa. É uma forma de incentivo à leitura e uma alternativa ao mundo digital", diz Carlos Tilkian, presidente da empresa.

Há editoras que publicam o chamado livro-brinquedo e há fábricas de brinquedo, como a Toyster, que já fazem livros com quebra-cabeça. A proposta da Estrela é um pouco mais elaborada. A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne adaptado pelo próprio Junqueyra e ilustrado por Danilo Tanaka, por exemplo, vem numa caixa parecida com a de um jogo que contém, além do livro, uma ampulheta e sete desafios para serem feitos durante a leitura. A obra integra a coleção Você na Aventura, com adaptações de clássicos, para crianças a partir dos 8 anos.

Tem também a coleção Cordel, com ilustrações inspiradas em xilogravuras, que podem ser completadas e pintadas, para a criança a partir dos 5 anos. Para as de 3 em diante, a editora está lançando a coleção Os Jardinautas, da bióloga Célia Hirsch e da ilustradora Gisele B. Libutti. Cada livro fala sobre três animais que vivem no jardim e ensina a reproduzi-los com a massinha que vem no kit.

Tudo com apelo educativo e, ao mesmo tempo, cara de presente. A Estrela sai na frente de outras editoras que tentam, mas têm dificuldade de entrar nas lojas de brinquedo - só recentemente algumas dessas lojas começaram a criar espaços para livros. Seus produtos estarão nesses espaços, e também na prateleira das massinhas e dos jogos.

Sem contar que apenas as redes Ri Happy e PB Kids, têm, ele diz, 260 lojas. "Se você pensar que a Saraiva, a maior rede de livrarias do País, tem 100 lojas, você ganha só com um cliente, 260 pontos de venda."

Mas o foco da editora não está apenas na venda em livraria ou em lojas de brinquedo. As compras que o governo faz para escolas, que sustentaram muita editora por muito tempo e que quando foram suspensas ajudaram a piorar ainda mais a crise que atinge o mercado editorial; as vendas para escolas particulares e também em igrejas estão na mira.

"O Brasil tem cerca de duas mil livrarias e pelo menos 20 mil pontos de venda de livros em igrejas e centros espíritas. É um mercado do qual não podemos abrir mão. Isso, sem contar que o governo está comprando 60 milhões de exemplares e que tem ainda todas as escolas particulares", comenta, otimista, Junqueyra. Tanto querem conquistar leitores em igrejas, templos e centros que a editora lança, ainda este ano, uma versão de A Arca de Noé que vai atender a todas as religiões.

E pensando em escola, estão criando produtos que valorizam a cultura nacional, indígena e africana - sempre de olho na Base Nacional Comum Curricular.

"E estamos muito focados, mas de forma sutil, na questão da inclusão. A Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, usa óculos. Temos outra história com uma personagem que tem vitiligo e no ano que vem lançamos um livro sobre autismo", conta. Mas quando o assunto é livro acessível, que possa ser lido por pessoas cegas ou com baixa visão, a editora não tem nenhum plano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.