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Novela As Aventuras de Poliana é acusada de racismo e SBT se posiciona

Redação Folha Vitória

A novela As Aventuras de Poliana está sendo acusada de racismo pela blogueira Luciana Bento, por conta de uma cena que foi ao ar na última quarta-feira, dia 8. Na cena, Késsya, interpretada por Duda Pimenta, e a coordenadora Helô, interpretada por Eliana de Souza, conversam sobre o nariz da estátua da escola que apareceu na mochila da menina. Késsya diz que se o nariz da estátua tivesse aparecido na mochila de uma menina branca, ninguém duvidaria se a menina dissesse que não é culpada, mas pelo fato de ela ser negra, ninguém acredita.

- Só porque eu sou negra, todo mundo já fica desconfiado.

Eis então que Helô repreende Késsya, dizendo que o racismo não começa com os racistas, mas sim com o pensamento dos negros de se verem diferentes, e que se ela quer que os outros a vejam como igual, basta ela se enxergar como igual.

A blogueira Luciana publicou o vídeo da cena em sua página no Facebook, e argumentou contra o que foi dito:

A branquitude está se aproveitando da nossa imagem para reproduzir e propagar o seu discurso racista, fugindo da responsabilidade pelos seus atos. Com todo respeito ao trabalho das atrizes Duda Pimenta, que interpreta da menina Késsya, e Eliana de Souza, que interpreta a coordenadora Helô, essa cena é apropriação da nossa imagem negra para reprodução de um discurso racista branco, que vem da escritora da novela Iris Abravanel, da sua equipe de roteiristas, da direção e produção desta novela que não questionaram a violência simbólica e psicológica desse tipo de cena. Deslegitimar a percepção de uma menina negra da situação de racismo que ela viveu e, ainda, ensinar a essa criança que o racismo é culpa dos negros que se enxergam diferentes dos outros e que não se valorizam a partir da voz de uma mulher negra, é mais uma vez violentar a nossa subjetividade e nos colocar como responsáveis por um sistema de exclusão criado e mantido para garantir o privilégio branco. Por ser uma novela voltada para o público infantil, essa cena se torna ainda mais problemática, porque ofende as crianças negras que assistem e as induz a adotar uma postura passiva diante do racismo na escola. Quem propaga o racismo, diferente do que foi falado na cena, são próprios racistas, que ocupam os espaços de poder, escrevem novelas e utilizam nossa imagem negra para legitimar seus discursos de ódio.

Segundo a Folha de S. Paulo, o SBT se pronunciou em nota dizendo que a emissora tem como papel debater questões sociais como o enfrentamento do racismo e reforçou que a novela é uma obra de ficção para entreter, e não polemizar.

No Instagram, Luciana também falou do capítulo que foi ao ar na última quinta-feira, dia 9, que dava continuidade ao que ocorreu na quarta-feira. Nele, a família de Késsya também discordou da percepção da menina em relação ao racismo. Luciana escreveu:

Normal discordar, mas forjar a imagem do jovem que não tolera o racismo como um radical reforça o que se espera da população negra. Estamos sempre errados por reagir e combater o racismo com firmeza. O certo é desculpar, relevar, dar a outra face, tolerar, ignorar, aceitar que entendeu mal, aceitar que interpretou errado... Sigamos vigilantes.