Torcida única em clássicos divide opinião de times paulistas, mas gera mais renda
São Paulo - A nova determinação da Secretaria de Segurança Pública que impõe torcida única nos clássicos disputados em São Paulo divide a opinião dos clubes, mas indiretamente traz uma vantagem financeira: sem os visitantes, as rendas das partidas tendem a ser maiores.
Por questões de segurança, ao delimitar espaço dos visitantes, em geral 5% da carga total de ingressos, é preciso criar espaços vazios nas arquibancadas, separando as torcidas rivais. Na prática, separar 2 mil lugares para os visitantes implica em perder outros 2 mil lugares. É o que acontece, por exemplo, em estádios como o Itaquerão e o Allianz Parque.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apurou que Corinthians e Palmeiras veem com bons olhos, do ponto de vista financeiro, a nova decisão da Secretaria de Segurança após o rastro de violência deixado por causa do clássico do último domingo disputado no Pacaembu.
Em declarações antes das brigas de domingo, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, já disse ser favorável à torcida única no estádio. Além do ganho financeiro, na visão dele, jogos com torcidas únicas fazem com que o torcedor comum tenha menos receio de ir ao estádio.
Em vídeo gravado após os episódios de domingo, Nobre afirmou que é preciso medidas mais drásticas em relação a atitudes contra os torcedores que vão aos estádios em busca de confusão.
"Toda e qualquer medida que venha no sentido de coibir a violência no futebol terá o apoio do Palmeiras. Porém, não adianta se iludir achando que o simples fato de ter torcida única vai acabar com a violência. Os vândalos travestidos de torcedores podem se agrupar e promover selvageria como aconteceu no domingo passado, mesmo não podendo ir ao estádio", disse o dirigente.
Nobre ainda cobrou mudanças nas leis do País. "Importante o estado ser municiado de recurso para efetiva correção dessa violência. Importante ter leis mais duras para que esses bandidos tenham certeza de punição. Só quando realmente punirem aqueles que sujam a imagem do futebol, as coisas vão começar a mudar", afirmou.
O Corinthians ainda não se pronunciou sobre a decisão das autoridades de obrigar jogos com torcida única.
O presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, não acredita que impor torcida única irá acabar com a violência entre as organizadas. O dirigente disse que isso é um problema de segurança pública e não dos clubes. "Torcida única é horroroso, mas a morte de um torcedor é mais horroroso. Agora já que as autoridades são incompetentes para conter a violência, torcida única é uma decisão correta", afirmou Modesto em entrevista à reportagem do Estado.
Já o São Paulo explicou que vai se reunir nesta quinta-feira para discutir e formalizar uma posição da diretoria sobre as mudanças anunciadas no começo da semana pela Secretaria de Segurança Pública para as torcidas organizadas. No encontro, os dirigentes também vão analisar como ficará a relação com as torcidas.
Em janeiro, o presidente do clube, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, admitiu dar dinheiro para as facções, entregar ingressos e ajudar no Carnaval. Dias depois o Ministério Público começou a investigar a relação do São Paulo com as organizadas.
OUTRAS PUNIÇÕES - Antes e depois do clássico de domingo, conflitos em quatro pontos transformaram a cidade em um cenário de guerra.
Além da adoção de torcida única em clássicos em São Paulo, a Secretaria de Segurança vai obrigar que a compra de ingressos seja unicamente online, com o cadastro prévio dos compradores, e os clubes não poderão repassar os bilhetes aos torcedores organizados.
Todas as torcidas organizadas também estão proibidas de levar faixas, adereços, instrumentos musicais ou qualquer identificação. "O problema não é esse, dar benefício à organizada, uma vez que o problema (violência) não está no estádio. Não é briga de torcedor, é briga de bandido", afirma Modesto.