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Técnica de Simone Biles e Nadia Comaneci evita comparação entre as duas ginastas

Redação Folha Vitória

Rio -

Aos 73 anos, Martha Karolyi se despediu da ginástica artística nos Jogos Olímpicos do Rio mostrando ao mundo mais uma de suas obras-primas: a (quase) perfeita Simone Biles. Coordenadora técnica da equipe norte-americana desde 2001, a romena foi fundamental para a instaurar a supremacia do país na modalidade.

Martha não apenas ajudou os Estados Unidos a colecionar medalhas, como desenvolveu um trabalho de base e deixou um enorme legado. Em conjunto com o marido Bela, transformou boas ginastas em campeãs olímpicas. A popularidade tinha motivo, o casal Karolyi estava por trás do “dez perfeito” de Nadia Comaneci nos Jogos de Montreal, em 1976.

Quarenta anos depois, Martha evita comparar o talento de Simone ao da ex-pupila. “São duas eras diferentes. Nadia chegou o mais perto que podia da perfeição, mas certamente as competências que mostrou não eram tão difíceis quanto às exigidas atualmente porque tudo está evoluindo”. Ainda assim, vê um ponto em comum entre elas: “São duas ginastas de altíssimo nível, quase fenomenais. Nadia influenciou a ginástica que era feita na época e talvez Simone possa ter o mesmo impacto”.

Capaz de identificar o potencial das atletas à distância, Martha aponta o que diferencia Simone das demais: “É uma ginasta extremamente forte e sempre foi muito elástica, essas características físicas combinadas com a força mental e a habilidade de se concentrar fazem dela um talento. Ela costuma trabalhar muito bem sob pressão. Com bons técnicos e a preparação certa, dará resultados”. Tem outro diferencial: o sorriso que abre ao fim de cada apresentação.

Com 1,45 metros de altura e 47 kg, Simone vem revolucionando a ginástica artística e só não é imbatível, ainda, em um aparelho, as barras paralelas assimétricas. Mas a união de potência física com incrível domínio dos movimentos faz com que ela destoe das outras competidoras. Aos 19 anos, é dona de 10 medalhas de ouro em Mundiais.

O talento precoce foi descoberto por acaso quando a ginasta tinha apenas seis anos. Em um passeio de sua escola em um centro esportivo de ginástica artística, mostrou naturalidade nos exercícios e impressionou. Não demorou muito para ser convidada a participar das atividades no local.

SUPERAÇÃO - A menina mostrou paixão pelo esporte desde o início. Talvez aquela prática esportiva a ajudasse a esquecer as turbulências da infância. Quando tinha três anos, Simone foi entregue ao serviço social dos Estados Unidos junto com a irmã Adria. A mãe, Shanon, era dependente de drogas e álcool e não conseguia cuidar da família. O pai, ausente.

O avô materno, Ronald, e sua segunda mulher, Nellie, decidiram tomar conta das meninas. Os dois irmãos mais velhos foram viver com a tia. Passou a morar em Spring, subúrbio perto de Houston, no Texas. Dois anos após entrar para a ginástica, Simone foi descoberta por Aimee Boorman, que é sua treinadora até hoje. Para ser uma das melhores do mundo, optou por estudar em casa, em 2012. A carga de treinos chegava a 32 horas semanais.

A atleta conquistou quatro ouros no Rio: por equipes, individual geral, saltos e solo, além do bronze na trave - que, na opinião de Martha, mostra que Simone é um ser humano. Foi só o primeiro passo de uma carreira que tem tudo para ser lendária.