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Em 3ª passagem pelo Palmeiras, Felipão é o mesmo de sempre, mas mais experiente

Redação Folha Vitória

Ele subiu ao palco e encarou centenas de pessoas que o esperavam motivadas. Não eram torcedores. Em sua primeira fala, uma questão direta que provocou o único momento de silêncio na plateia. "O que fazer na manhã seguinte ao seu pior dia no trabalho?" Felipão se referia ao 7 a 1 do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014. Referia-se a ele próprio. Perguntava aos participantes e os fazia pensar qual havia sido o "7 a 1" de cada um deles. Foram três palestras depois de sua volta da China, coincidentemente onde ganhou sete títulos. Felipão foi aplaudidos de pé. Usou o pior momento de sua carreira para motivar pessoas, fazendo do limão uma limonada.

Aos 69 anos, bigode cultivado desde os tempos em que era zagueiro botinudo do Caxias, em 1973, Felipão já chorou o que tinha de chorar após a pior derrota da seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Seu dia seguinte foi um inferno, embora não pudesse afogar as mágoas com os mais próximos - teve de continuar trabalhando na disputa do terceiro lugar com a Holanda - perdeu de 3 a 0 em Brasília, antes de assumir Grêmio e, depois, Guangzhou Evergrande.

O trabalho sempre o impulsionou, nos bons e nos maus momentos. E isso o faz deixar amigos e lembranças nos clubes em que dirige, como diz o presidente do Grêmio Romildo Bolzan Júnior sobre os anos de 1993/94/95 e 96, além de 2014/15. "Ele é correto, dedicado e muito responsável."

Quem o contrata sabe de antemão o que vem no pacote: lealdade, competência e comprometimento, além de franqueza e personalidade, gostem ou não dirigentes e atletas.

O Felipão que faz neste domingo seu primeiro jogo no comando do Palmeiras é o mesmo que começou a treinar o CSA em 1982, claro, com mais bagagem, mais vitórias e derrotas, mais alegrias e sofrimentos, experiência mundial, mas exatamente o mesmo homem que se casou com Olga e teve dois filhos - Leonardo, um advogado bem sucedido em Lisboa; e Fabrício, engenheiro elétrico com experiência internacional até voltar para Porto Alegre. A família cresceu e o técnico se diverte com os dois netos.

Há quem diga que somente Palmeiras e Grêmio o fariam voltar a trabalhar no Brasil. Tanto é assim que sua negociação com o clube paulista demorou algumas horas. Ele descartou o interesse de seleções para o ciclo até a Copa do Catar. Pediu um contrato de dois anos e meio para cumpri-lo e não renová-lo, com multa rescisória (exigida pelo Palmeiras) de um mês de trabalho.

Suas caminhadas continuam regulares para manter o peso e viver melhor. Não abre mão de uma ou duas taças de vinho nas refeições. Continua o motivador de sempre no vestiário. Mais ri do que reclama. Da China, trouxe alguns valores já cultivados no Brasil, como dedicação, disciplina, simplicidade e força de vontade. Olha para frente sem deixar de se importar com o presente. Ensina e aprende com os jogadores, muito mais novos do que ele agora, como atesta Ricardo Goulart, principal atleta do Guangzhou. "Sempre foi tranquilo, foi bom pra gente tê-lo aqui. Havia os momentos em que estava bravo, era mais exigente quando as coisas não estavam saindo da forma que poderiam, quando sabia que a gente poderia dar mais."

Ou seja, pelas declarações de Goulart ao Estado, Felipão nunca deixou de ser... Felipão. Na China, não era de se reunir com os brasileiros fora do ambiente de trabalho, pelo menos não com os jogadores. Tratava todos da mesma forma.

Portanto, a meses de completar 70 anos - em novembro -, o novo técnico do Palmeiras continua com suas caras e bocas, não vai se meter na política do clube (cuja eleição é no fim do ano) e pretende mandar a campo os jogadores que treinarem bem na semana. Se tiver de mandar recados, vai mandar. Quem não correr, não joga, mesmo que seja o mais badalado do time. Em sua sala na Academia de Futebol só entra quem ele convida. Não há cópias da chave.

O Palmeiras de Felipão vai ser competitivo, se puder jogar bonito, muito bem, se não puder, "fffuuuhh", paciência! O que motiva o treinador, e sempre o motivou, é conquistar títulos. Nos torneios mata-mata, Copa do Brasil e Libertadores, ele vai montar o time para ao menos empatar fora e engolir os rivais no Allianz Parque, com todas as armas que tiver, e isso inclui a força da torcida. No Palestra Itália, em sua primeira passagem, fez do estádio um alçapão. Treinava algumas vezes no local para deixar seus jogadores mais à vontade. Voltou ao time em 2010/12, antes de assumir a seleção, mas já com o estádio entregue à demolição. Foi seu auxiliar Murtosa que dirigiu a equipe na última partida do antigo estádio - derrota para o Boca Juniors por 2 a 0. A partir de agora, terá o novo estádio do Palmeiras ao seu lado.