Saiba quais os cuidados tomar para não virar um "profissional Pinóquio"

Cristiano Stefenoni

Quando se trata de currículo, a mentira tem pernas curtas e consequências longas. Isso porque o candidato pode ser desmascarado em uma entrevista e fechar as portas para outras oportunidades e, caso consiga burlar o processo, o risco de demissão no novo emprego é grande, como aconteceu com o diretor geral do grupo americano Yahoo, Scott Thompson, demitido no início de maio por ter incluído um falso diploma em ciências da computação. Segundo uma pesquisa feita em agências de seleção pela Control Risks Group, 34% dos candidatos mentiram no histórico profissional, enquanto 32% forjaram dados acadêmicos. Entre os flagrados, 40% buscavam cargos executivos.

Um levantamento feito pela equipe do Trabalhando.com revelou que as cinco principais mentiras mais contadas em currículos são em relação a: formação acadêmica, fluência em idioma estrangeiro, falsa experiência na área, acréscimo de atribuições no cargo anterior e supervalorização dos últimos cargos. O prejuízo não é só para o profissional, mas também para a empresa contratante, que irá arcar com os custos de um funcionário despreparado e com as despesas de uma rescisão de contrato, e também para a agência de seleção, que perde tempo em um negócio onde cada minuto vale muito dinheiro.

A prática se tornou tão comum que já tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei para torná-la crime sujeito a pena de detenção. O Projeto de Lei nº 6561/09 estabelece pena de dois meses a dois anos de detenção para quem inserir informações falsas no currículo para satisfazer interesse pessoal, causar danos a terceiros ou habilitar alguém a obter cargo, emprego ou qualquer outra vantagem.

“Mentir no currículo ‘queima o filme’ do candidato e certamente o prejudicará em outros processos seletivos. Algumas empresas até toleram a falta de certas qualificações, principalmente, porque dão treinamento, ou seja, estão dispostas a abrir mão de uma habilidade por outra. Mas mentir é fatal. Cedo ou tarde a pessoa revelará quem realmente é, perdendo com isso, uma vaga que poderia ser sua se tivesse sido sincera”, alerta a consultora de treinamento e desenvolvimento da Psicoespaço, Marianne Limonge.

Profissional treinado para identificar as mentiras

O que a maioria dos candidatos esquece é que os recrutadores são profissionais treinados para identificar falsas informações. Isso acontece tanto na primeira fase, no caso a avaliação do currículo, como nas outras etapas da seleção, geralmente, na entrevista e na dinâmica de grupo.
“Quando se trata de fluência em outro idioma, por exemplo, é feito um teste escrito e oral para ver se o nível de conhecimento da pessoa corresponde ao que ela diz no currículo. No caso das experiências profissionais, nós entramos em contato com as empresas para checar se as referências conferem. Já as formações acadêmicas, pedimos que o candidato traga os diplomas devidamente registrados”, explica Limonge.

De acordo com a consultora, além de todo esse cuidado por parte das agências de seleção, as empresas contratantes também têm o hábito de verificar as informações dos futuros funcionários. “Por isso é fundamental estar atento, em especial, às informações que você coloca nas redes sociais, como Facebook, Twitter e Orkut”, ressalta.

Omitir tem o mesmo efeito que mentir

E se engana quem pensa que o problema está apenas em fraudar os dados do currículo. Para o recrutador, omitir informações importantes, na tentativa de ser chamado para uma entrevista, tem o mesmo efeito que a mentira. “O candidato costuma omitir a idade, o verdadeiro período de experiência, os motivos pela qual saiu da empresa, e ainda não coloca as datas de conclusão dos cursos e nem do tempo de serviço”, destaca a coordenadora de recrutamento e seleção da Selecta, a psicóloga Luciana Baraviera. Para evitar situações constrangedoras, a orientação é ser sincero sempre e nunca omitir informações importantes. “Seus dados profissionais, quando são sinceros, podem ser muito mais interessantes para as empresas do que você imagina, portanto, fale a verdade sempre”, finaliza.

As mentiras mais comuns nos currículos:
– Formação acadêmica
– Fluência em idioma estrangeiro
– Falsa experiência na área
– Acréscimo de atribuições no cargo anterior
– Supervalorização dos últimos cargos
– Salário anterior
– Tempo de permanência na última empresa
– Diploma em curso de informática
– Participação em trabalhos voluntários
– Garantia de mobilidade e flexibilidade
– Estado civil
– Idade
Fonte: Trabalhando.com

Para não errar no currículo

FORMAÇÃO
É importante dizer em qual período ou ano que você está no curso, seja ele superior, técnico ou de formação básica. De preferência, coloque as datas (verdadeiras!) de início e conclusão.

IDADE
Alguns cargos exigem pessoas recém-formadas, ou seja, subentende-se que a empresa procura jovens para sua equipe. Em outros cargos, a experiência é fundamental, então, a maturidade contará muitos pontos. O problema não é colocar a idade, mas sim, para onde e para que cargo você enviará o currículo. Isso sim fará a diferença.

IDIOMAS
Algumas pessoas não falam nem português direito e querem afirmar que são fluentes em inglês. No geral, para a empresa, só existem dois níveis de conhecimento: os que sabem e os que não sabem. Caso não tenha segurança na língua estrangeira, fale a verdade e diga que está estudando. Não faz nenhum curso de idiomas? Aí o problema já não é do currículo, mas sim de suas prioridades.

EXPERIÊNCIA
Entenda que os gestores de empresas diferentes, mesmos os concorrentes, conversam entre si. Faz parte da estratégia do mercado. Em outras palavras, mentir para um é mentir para todos. A pouca experiência ou a falta dela pode até ser um problema, mas inventar algo que não existe pode dificultar, e muito, a recolocação no mercado.  

PRODUTIVIDADE
Cuidado com os números exorbitantes do seu “sucesso”, com aqueles dados que só você sabe, mas que são quase impossíveis de serem checados. Também evite se elogiar em excesso, como se fosse o último biscoito do pacote. Aliás, se você fosse tão insubstituível assim, não estaria procurando um emprego, não é mesmo?

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