Não temos apenas um problema de gestão pública no Brasil

 Em interessante entrevista concedida a um tradicional jornal paulista na última sexta (15/03), o competente empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, fez críticas duras ao estado da gestão pública em nosso país. Gerdau não escondeu suas preocupações com a criação de mais um questionável ministério federal. São trinta e nova ministérios neste momento.

Sabemos todos que quantidade não é automaticamente sinônimo de qualidade. Para Jorge Gerdau, “quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período”. Não sabemos ao certo se estamos efetivamente no limite desse tempo e tampouco se novas contingências político-partidárias provocarão mais reconfigurações negativas na administração pública federal.

Podemos notar certas similitudes nos planos dos executivos estaduais e municipais com o modelo chamado por alguns de governabilidade ou governo de coalizão. Em um regime político democrático, ainda que muito imperfeito, espera-se que haja uma oposição política vigilante e construtiva. Essa não tem sido uma posição política exitosa nos últimos anos no Brasil. Por outro lado, deveria interessar ao cidadão brasileiro saber se o custo marginal de uma mera expansão quantitativa das estruturas de Estado ainda está aquém dos benefícios adicionais gerados. Suspeito que a expansão indiscriminada para o loteamento político-partidário da máquina pública não entrega os benefícios cidadãos que a justifiquem. Recorro novamente ao empresário Gerdau, “dentro da estrutura brasileira, o conceito de política atrapalha bastante a gestão”. Creio que concordamos todos que a forma como a política é jogada entre nós é prejudicial ao desenvolvimento brasileiro e se continuarmos por esse caminho dificilmente romperemos o delicado equilíbrio do subdesenvolvimento – grandes desigualdades sociais medidas por um Gini acima de 0,50, enormes desigualdades regionais e um clima de disputas federativas fratricidas.

Afinal, a forma como o jogo político se processa afeta o conjunto dos resultados econômicos e a própria qualidade das nossas instituições republicanas. Há quem afirme que os impasses federativos no Congresso Nacional já afetam negativamente o nível dos investimentos produtivos na nossa economia. O Espírito Santo viveu graves problemas institucionais no passado, incluindo a captura de estruturas de Estado por interesses nada republicanos. Nesse sentido, os dez anos do Novo Espírito Santo deveriam ser celebrados como um período no qual os capixabas conheceram melhorias gerais nas suas condições de vida. Suas instituições públicas renasceram das cinzas, não como uma Fênix, mas por conta dos esforços qualificados de colaboradores técnicos na reconstrução estadual comandada por uma liderança política esclarecida, o ex-governador Paulo Hartung. Ainda há muito a ser feito em terras capixabas e, para tanto, precisamos de continuidade ao bom trabalho já realizado.

Os desafios do desenvolvimento socioeconômico, em condições ambientais sustentáveis, ainda são enormes para os brasileiros. As lições dos dez anos do Novo Espírito Santo podem trazer luz ao debate do presente – planejamento estratégico, estabelecimento de prioridades e capacidade de execução de projetos. Para quem busca alguma renovação positiva na política brasileira, o esforço capixaba dos últimos dez anos pode servir de modelo de boa gestão pública. Restará buscar uma liderança à altura do desafio. Felizmente os capixabas ainda podem contar com o economista Paulo Hartung, seu legado político como estadista e um presente de liderança agregadora e construtiva.

Rodrigo Medeiros

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