Entenda como a inteligência artificial pode afetar o mercado editorial

Imagem de Polina Zimmerman em Pexels

Escrever um livro nunca foi uma tarefa simples. Independentemente do gênero e da temática, os escritores sempre levaram tempo até que a obra fosse publicada. Mesmo grandes autores, como João Guimarães Rosa, precisaram fazer várias revisões e correções antes de apresentar a história que criaram ao público.

A tecnologia, porém, parece que também pode facilitar essa questão. Por meio de robôs que
respondem a comandos humanos, é possível obter trechos e tramas completas com rapidez. O mais famoso do momento é o ChatGPT, recurso desenvolvido pela OpenAI e que vem sendo testado por pessoas do mundo todo.

A novidade, no entanto, pode não ser tão vantajosa para todos os mercados. No caso do setor de livros, caso a tecnologia substitua os escritores, esses profissionais perderiam espaço, e a própria arte da escrita teria menos valor. Afinal, qualquer pessoa estaria apta para desenvolver uma história. A questão vai além e merece um olhar mais atento para ser analisada.

Facilidade de criar e publicar

Ao olhar para o mercado editorial é fácil perceber que a facilidade de criar e publicar livros não é recente. Desde que os livros digitais se popularizaram, várias pessoas que antes não tinham como pagar pela impressão puderam apresentar a própria história aos leitores.

Nesse caso a dinâmica é até simples. O autor pode utilizar um editor de texto, como o da Microsoft, fazer as correções sugeridas pela ferramenta e fechar o arquivo em um arquivo confiável. Em geral, as pessoas fazem a conversão de Word para PDF, para que possam enviar para as editoras e plataformas.

A Amazon é um exemplo de plataforma onde é possível disponibilizar um e-book com facilidade. Além das ferramentas disponíveis, a Amazon não cobra pela publicação e remunera os escritores com 70% dos royalties sobre as vendas.

Como o e-commerce americano é um dos sites mais populares da atualidade, as chances são grandes de o livro ser visto. Sem contar que o autor pode fazer campanhas nas redes sociais para incentivar a leitura e, consequentemente, as vendas.

Tecnologia como autora

Para algumas pessoas, porém, a literatura pode ser mais do que uma forma de expressar as próprias ideias e uma história nova. Há quem enxergue os livros digitais como uma maneira de ganhar dinheiro e/ou se tornar uma personalidade conhecida.

Nessas situações, não importa tanto a originalidade do texto ou a arte de escrever. Por isso, já existem usuários de inteligência artificial que estão usando esse aparato para produzir algo. Segundo notícias recentes, algumas pessoas conseguiram produzir um livro inteiro com o robô.

Ainda que não seja necessário produzir cada linha, os autores do trabalho precisam dedicar algum tempo na revisão e conferindo se a trama ou informações têm sentido. Ou seja, a tecnologia cria a maior parte do conteúdo, mas pode não ser tão eficiente para se auto-lapidar.

Vale destacar que a inteligência artificial utiliza dos dados que já possui para desenvolver algo. Ao solicitar a criação de uma história com bruxos, existe uma grande chance de haver alguma referência ao Harry Potter, por exemplo. É como se o robô só enxergasse de acordo com um repertório disponível, e não fizesse criações completamente novas.

Problema além da tecnologia

Para quem adora ler livros, a literatura mais tradicional continuará existindo, afinal, há muitas pessoas que desejam colocar as próprias ideias, sentimentos e teorias no papel. Os escritores não serão substituídos, mas conviverão com àqueles que criam histórias com a tecnologia. Basta olhar para o passado para ver como gêneros musicais, por exemplo, não deixarão de ser aprendidos e tocados quando novos foram criados.

Como os usuários puderam perceber, os robôs não têm experiência de vida e emoções próprias. Dependendo da pergunta que se faz a um chat, ele pode responder que criou algo a partir de dados, pois não tem a consciência humana. Considerando que boa parte dos livros são criados a partir de vivências pessoais, isso não é passível de ser desenvolvido por uma tecnologia que não ri, chora, ama, etc. Por mais que a tecnologia evolua, com avanços de algoritmos e maior quantidade de dados, nunca será possível pensar como um humano – ainda que possa chegar perto.

Por sua vez, o mercado editorial não tem um inimigo na tecnologia artificial. Na verdade, existe uma tendência recente de que as pessoas estão lendo menos. Sejam livros físicos ou digitais, as editoras estão lutando para trazer os eleitores para as histórias. Segundo dados do Brasil de Fato, cerca de 44% dos brasileiros não leem.

Fatores como qualidade da educação, pouco histórico cultural e até as distrações atuais, como os smartphones, podem explicar por que o interesse é baixo. Em outros países mais avançados que o Brasil, por exemplo, a França, a média de leitura de livros por ano chega a 21. Aqui as pessoas leem em média 5 – quando leem.

Ainda que a inteligência artificial assuste neste momento, por ninguém saber aonde irá levar a todos, ela não é o principal inimigo dos escritores e das editoras. A própria cultura brasileira já dá sinais há anos de que é preciso um investimento maior no incentivo à leitura.

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