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Há quatro anos, unidade cardiovascular da Santa Casa não atende pacientes do SUS no ES

A cada 40 segundos, uma pessoa morre no Brasil, vítima de doenças cardiovasculares

A unidade não foi utilizada nenhuma vez nesse período para atender demandas do SUS no ES

Desde 2014, o hospital de caráter filantrópico Santa Casa de Misericórdia de Vitória conta com uma Unidade de Assistência em Alta Complexidade Cardiovascular. Contudo, aguardando habilitação do Ministério da Saúde (MS) há quatro anos, a unidade não foi utilizada nenhuma vez nesse período para atender demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) no Espírito Santo.

Durante esse período, o Centro realizou poucos procedimentos, a maior parte deles, por convênio e alguns pacientes do SUS com despesas arcadas pelo próprio hospital, segundo a provedora da Santa Casa. Somente no dia 21 de agosto de 2018 foi publicada a Portaria nº 2.599, que habilita o hospital como Unidade de Assistência em Alta Complexidade Cardiovascular.

Segundo a Santa Casa, em funcionamento, o serviço tem capacidade para realizar mensalmente: 100 procedimentos cirúrgicos (angioplastia com implante de stent, implante de marcapasso e cirurgia cardíaca); 200 procedimentos diagnósticos, como cateterismo; 600 exames diagnósticos, como o teste de esforço e ecocardiograma; e 1500 consultas de especialidades.

Em 14 de agosto deste ano, a Associação Brasileira de Direitos Humanos do Estado do Espírito Santo (ABDHES) enviou a denúncia à promotora Inês Thomé Poldi Taddei, expondo que a unidade não tem realizado procedimentos em pacientes encaminhados pelo SUS. Na denúncia também constam diversas imagens do laboratório parado, materiais de alto custo que seriam descartados por estarem perto do prazo de vencimento, macas e leitos vazios e aparelhos novos sem utilização.

A presidente da ABDHES, Andressa Nunes Pimentel, conta que levou um susto quando viu a toda a situação da unidade. "No dia 13 do mês de agosto, eu fui ver uma demanda e chegando nesse hospital, surgiram vários relatos de que havia um laboratório hemodinâmico no local. Eu fiquei abismada, porque tem muita gente morrendo na fila, crianças e idosos, e o laboratório, totalmente montado, sem atender a demanda da SUS", diz. "Lá funciona somente mediante particular, mas a demanda SUS não é atendida", complementa.

Provedora do hospital há mais de 10 anos, Maria da Penha diz que esteve várias vezes em Brasília, pleiteando a habilitação do espaço que, segundo ela, foi construído com verba própria. A gente realizou alguns procedimentos de planos, mas também arcamos com alguns procedimentos de SUS para não deixar a vida da pessoa ser perdida", fala Maria.

De acordo com ela, a previsão é de que em outubro os atendimentos comecem efetivamente. "A gente está só finalizando a nossa pauta com a Secretaria de Saúde para começarmos a ofertar o serviço, que eu acho que vai beneficiar muito as pessoas que precisam ter", garante.

A reportagem fez contato com o MS, mas não obteve retorno sobre a demanda até o fechamento desta matéria. 

Doenças cardiovasculares

A cada 40 segundos, uma pessoa morre no Brasil, vítima de doenças cardiovasculares. A média anual chega a 350 mil mortes, causas por três grandes problemas: infarto, insuficiência cardíaca e derrame, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. No Espírito Santo, juntos, o acidente vascular cerebral e a insuficiência cardíaca mataram 702 pessoas somente no ano passado. Mais de 6,1 mil internações foram registradas pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

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