Sem festa. o 'elopement wedding' é para fugir e viajar
Fugir para casar está na moda. O motivo só não é mais o mesmo. Em vez de um amor proibido, os noivos agora procuram uma experiência intimista, em um lugar deslumbrante, e - se possível - econômica. O nome também mudou para elopement wedding ou, em versão abrasileirada, casamento a dois.
O termo "elope" é datado do século 16 e significa fugir secretamente para casar, segundo o Dicionário Oxford. Como nas origens, alguns pares revelam a decisão apenas após a cerimônia, às vezes pelas redes sociais.
Em geral, o elopement wedding ocorre ao ar livre ou em espaços públicos. A paisagem é um dos pontos mais valorizados na hora de escolher o local, muitas vezes fora do País. A estratégia, antes adotada por artistas, virou opção ao mini wedding, casamento para grupos pequenos.
É o caso dos empresários Anderson Hernandes, de 43 anos, e Fernanda Guscinskis, de 31, que planejaram durante cinco meses o casamento no Brooklyn, em Nova York. "A gente sempre fez as coisas só nós dois. Quisemos fazer uma coisa diferente, fora do cotidiano", conta Hernandes.
Os dois já moravam juntos havia quatro anos quando decidiram oficializar a união. "Foi a coisa mais linda da minha vida, só nós dois: eu arrumei ela, ela me arrumou. Escolhemos o vestido juntos e o meu traje também, saímos do hotel e fomos de metrô até o casamento."
O casal organizou tudo sozinho, de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde reside. Chegaram em Nova York dois dias antes de celebrarem a união diante de um juiz de paz.
Após o casamento civil, foram filmados e fotografados pela região, em locais como a Ponte do Brooklyn, jantaram em um restaurante apontado como um dos "mais românticos do mundo" e seguiram em lua de mel por sete dias.
Os EUA também foram cenário do casamento da assistente administrativa Erica Veloso, de 36 anos, e do agente especial norte-americano Ezio Veloso, de 50 anos, que escolheram a Union Station, em Washington, onde moram. Diferentemente da maioria, contudo, não fizeram registros da cerimônia.
"Nós não queríamos um fotógrafo na estação porque o meu esposo é reservado, não queria chamar muito a atenção", conta Erica, que utilizou um vestido estampado na cerimônia, enquanto o marido preferiu uma camisa social, sem terno.
A data escolhida foi 11 de setembro de 2017. "Tem um significado muito forte. Ele é do corpo de segurança diplomático americano, um veterano, prestou serviço militar. A gente gosta de dizer que transformamos um dia muito triste em um dia feliz."
Segunda união
Em comum, os dois casais estão no segundo casamento. É também o caso da optometrista Ana Paula Roman, de 32 anos, e do gerente comercial Marcelo Roman, de 36 anos. "Realizei o sonho de casar na igreja, mas vi que aquela pompa não faz um casamento dar certo", diz Ana.
A ideia do casamento a dois surgiu enquanto pesquisava destinos para a lua de mel na Europa. "Pensei: por que não celebrar do nosso jeito? Me apaixonei pela ideia ao buscar pela internet", conta. "Casar em Paris, diante da Torre Eiffel, era algo que fazia meu coração acelerar."
Após a cerimônia, que foi simbólica, com celebrante, violinista e equipe de foto e vídeo, eles fizeram um tour fotográfico pelo entorno e jantaram em restaurante na frente da torre. "O que vale mesmo é o casal. Às vezes, muitos deixam de celebrar porque querem viajar, ou deixam de viajar por causa da festa. Mas é possível juntar os dois."
Há, também, quem opte por destinos brasileiros, como a estudante de Ciências Sociais Ester Torres, de 29 anos, e o doutorando em História Oligário Pereira, de 34. "Aqui não faltam opções. Difícil é encontrar uma equipe de fotógrafos que entenda esse tipo de cerimônia, que não é um ensaio", conta Ester.
A ideia inicial era casar em uma praia no Rio e passar a lua de mel em Foz do Iguaçu, mas, ao contarem o destino da viagem aos fotógrafos, receberam a sugestão de a união ocorrer nas Cataratas do Iguaçu. "Nunca planejei um casamento tradicional. Vi que uma atriz (Débora Nascimento) casou no deserto (Dubai). Achei legal a história e encontrei informações na internet", diz. "Minha família é do Rio e a maior parte da dele vive em Portugal. Seria impossível juntar." Para Ester, "foi mais intenso e menos burocrático". "Festa envolveria todo mundo, cumprimentar, tirar foto. Acho que não iria curtir tanto."
Cerimônias de 20 minutos
O elopement wedding ganhou força no Brasil há cerca de dois anos, após a modelo Isabeli Fontana casar com o músico Di Ferrero nas Maldivas. Segundo assessores de casamento, os casais que optam por esse tipo de união em geral já moram juntos e custeiam sozinhos a cerimônia.
A economia e o gosto por viajar é, para muitos, pontos decisivos. "É mais comum nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, há adaptações, como levar a mãe e irmãos", conta a proprietária da assessoria Casa de Dois, Roberta Canuto, de 34 anos.
De acordo com ela, os destinos mais procurados são Paris, Toscana e Cancún, além de praias brasileiras. No litoral norte de São Paulo, por exemplo, Roberta já realizou três eventos do tipo. Em relação ao staff, ela diz que costumam ser seis pessoas, entre fotografia, vídeo, maquiagem e cabelo - bem menos que os 40 ou 60 profissionais que trabalham em festas maiores.
Em geral, a cerimônia dura cerca de 20 minutos. Ela estima que um evento no litoral norte paulistano custa R$ 15 mil, valor que sobe R$ 1 mil por convidado em uma festa tradicional.
Rede em Paris
Para dar conta da demanda, a assessora Joyce Arruda, de 35 anos, da Mariée Eventos, criou uma rede de colaboradores em Paris, com profissionais radicados na França. "A grande vantagem é não ter estresse preparativo."
Por ser uma experiência mais intimista, Joyce destaca a importância na escolha de quem vai celebrar a união. "No meu caso, o celebrante entra em contato com os noivos de forma separada, faz uma série de perguntas e reflexões. A cerimônia é cheia de significado, toca o coração. Não é só a questão de casar fora, das fotos."
Segundo a assessora, o custo de contratar uma equipe no exterior é de ¤ 2,5 mil a ¤ 3 mil (o equivalente entre R$ 11,7 mil e 14,1 mil), além do valor da assessoria de casamento, que não revela. A antecedência indicada é de quatro a seis meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.