Grupo ligado a Casagrande no comando do maior bairro de Vitória

A disputa entre Prefeitura de Vitória e Governo do Estado foi replicada na eleição para o comando da Associação Comunitária de Jardim Camburi (ACJAC). O maior bairro de Vitória, com aproximadamente 60 mil moradores e 25 mil eleitores, foi às urnas no último domingo (29) e escolheu a chapa 1 para estar à frente do bairro pelos próximos três anos, ou seja, durante a eleição nacional deste ano e a municipal, de 2024.

A chapa 1, encabeçada pelo gerente da Secretaria de Estado do Esporte, Bruno Malias, teve 1.225 votos contra 760 da chapa 2, liderada pelo sargento da PM Harley Glaucio, que é também conselheiro de Segurança de Vitória.

Além de atuar no governo do Estado, Bruno é filiado ao PV e contou com o apoio de lideranças de vários partidos, entre eles o Cidadania, como o deputado Fabrício Gandini e o vereador Maurício Leite; do PT, como a vereadora Karla Coser e seu pai, o ex-prefeito João Coser; do Psol, com a vereadora Camila Valadão; e do PSB, com o ex-deputado Givaldo Vieira.

Bruno, inclusive, explicou que formou uma “frente ampla”, com pessoas de vários partidos da comunidade em sua chapa, para concorrer à eleição. “Temos que derrubar esses muros que nos separam ideologicamente e trabalhar o que temos em comum. Formamos uma frente ampla. Eu acredito muito nessa capacidade do diálogo. Na hora de discutir o bairro Jardim Camburi, as siglas não cabem. Acredito muito na construção de base. A Associação de Moradores não pode estar apenas na mão de um grupo político”, disse Malias.

Já Sargento Harley, gravou um vídeo afirmando que sua chapa era apartidária e disse que não pediu apoio a nenhum político, mas nos bastidores contou com o apoio velado de algumas lideranças e de secretários da Prefeitura da capital. Um dos maiores entusiastas da chapa 2 foi o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento, Tecnologia e Inovação de Vitória (CDTIV), Evandro Figueiredo, que, segundo vereadores, teria pedido voto para Harley em nome do prefeito Lorenzo Pazolini.

“Várias pessoas me ligaram para fazer vídeo comigo e eu disse que não iria fazer nada de cunho político. Mas se a pessoa quisesse nos ajudar, por que eu iria desprezar?”, disse Harley, que nega ser de oposição ao governo do Estado.

O peso do bairro em outubro

Jardim Camburi não é só o maior bairro de Vitória. Seu colégio eleitoral é maior do que muitas cidades no Estado e tem sido palco de movimentações políticas importantes para as eleições de outubro. Pazolini escolheu a inauguração de uma escola no bairro (a Emef Padre Guido Ceotto), no último dia 14, para fazer graves acusações de suposta corrupção em contratos de obras do governo do Estado.

A região sempre foi conhecida por ser reduto do deputado Gandini, mas em 2020, quando ele disputou a Prefeitura de Vitória, sua votação deixou a desejar. O deputado, que ficou em terceiro lugar no pleito, teve 6.210 votos no bairro, pouco mais do que Pazolini, que teve 5.965 votos, e Coser, que somou 5.103 votos. Já no segundo turno, os votos de Gandini migraram para Pazolini, que foi o mais votado em Jardim Camburi.

A derrota do grupo de Pazolini no mesmo bairro onde ele foi o mais votado em 2020 não é um bom sinal para seus aliados que disputam em outubro. O pré-candidato ao governo do grupo é o presidente da Assembleia, Erick Musso, que tem andado a tiracolo com o prefeito nos eventos oficiais da cidade – inclusive esteve presente na inauguração da escola palco das acusações contra o Palácio Anchieta.

O resultado da eleição gerou tanto barulho e burburinho que tomou praticamente toda a sessão de ontem (30) da Câmara de Vitória. A sessão durou 1 hora e 24 minutos e pelo menos 1 hora e 10 minutos foram destinados a debater a eleição em Jardim Camburi. Karla Coser iniciou os debates pedindo uma moção de aplauso à chapa vencedora.

Denninho levantou suspeitas sobre a votação, afirmando que nunca havia acontecido em dois pontos, mas sempre em um único lugar. Chegou a dizer que a eleição pode ser contestada. Questionado se tinha apoiado a chapa 2, Denninho disse que não pediu votos, mas estava torcendo pelo grupo e que só passou pelo bairro no domingo para “cumprimentar o pessoal”.

Luiz Emanuel disse que secretários pedirem voto em nome do prefeito e perderem é muito ruim, mas que não tinha ciência do envolvimento direto de Pazolini. Mauricio Leite chegou a ler, indignado, o pedido de voto na chapa 2 por parte de Evandro, em nome do prefeito. Já Camila afirmou que usaram a foto dela em montagens e fake news durante o pleito.

Contestação na Justiça?

A chapa 2 está discutindo se entra na Justiça para anular a eleição de Jardim Camburi. Isso porque a votação foi realizada em dois pontos – na escola Elzira Vivácqua e no condomínio do Atlântica Ville –, diferentemente das votações anteriores, que tinha um único ponto de votação.

“Vou alinhar com o pessoal, mas não descarto. Teve gente que não conseguiu votar porque o CPF já tinha sido usado por outra pessoa. Foi usado um aplicativo para evitar que a mesma pessoa votasse duas vezes, mas muitas nem conseguiram votar”, afirmou sargento Harley.

Já Bruno Malias – que foi apoiado pelo atual presidente da associação, Aloisio Muruce – disse que as duas chapas concordaram em ter dois locais de votação. “Lutar para calar uma comunidade não me parece ser muito inteligente”. Também comentou sobre críticas que recebeu na Câmara de Vitória: “Acho que a sessão da Câmara tem perdido muito tempo falando de mim, tem assuntos mais importantes na cidade para debater”. Ele nega que terá postura de oposição ao prefeito Pazolini. “Sou independente”.