As 10 indefinições para as eleições de outubro no ES – Parte I

Crédito: Secom/ES

O primeiro turno das eleições gerais deste ano, que vai definir os rumos do País e do Estado, ocorrerá no dia 2 de outubro, daqui a exatos 105 dias. E a pouco mais de três meses da eleição, considerada por alguns analistas políticos como a mais importante das últimas décadas, ainda há muita indefinição em terras capixabas.

A coluna “De Olho no Poder” listou 10 perguntas ainda sem respostas sobre as eleições capixabas. São questões que vem sendo debatidas nos bastidores, gerando muita especulação, mas que só devem ser respondidas aos 45 do segundo tempo, ou seja, no prazo final das convenções partidárias (em agosto). Abaixo, a primeira parte dessas indagações.

1 – Casagrande vai disputar a reeleição?

A primeira das indagações e com maior potencial de mexer no tabuleiro político é a questão da participação ou não do governador no pleito. Embora o PSB, os aliados, o secretariado, todo o mercado político, Deus e o mundo garantam que o governador Renato Casagrande é candidato à reeleição, ele ainda não admitiu publicamente que está no jogo.

As agendas frenéticas de Casagrande pelo interior do Estado, os discursos de continuidade que tem feito e a ausência de outro nome sendo preparado pelo PSB ou pela base aliada para disputar o Palácio Anchieta fazem crer que sim, que Casagrande vai tentar um novo mandato.

Porém, por mais que pareça certo e óbvio ter Casagrande na disputa, é bom lembrar que a política capixaba costuma dar algumas reviravoltas, ou se fazer de “nuvem” e mudar a cada olhada. Longe da coluna querer fazer qualquer comparação pessoal, mas em 2018, o então governador Paulo Hartung, cotado também para disputar a reeleição, somente em julho daquele ano descartou a possibilidade de concorrer. Até então, havia a expectativa que ele disputasse.

2 – PT e PSB estarão no mesmo palanque?

Filiação de Contarato ao PT

O Espírito Santo é um dos três estados do país em que ainda impera o impasse entre PT e PSB. Após o governador declarar voto em Lula e os dois partidos que formam a federação com o PT – PV e PCdoB – se manifestarem a favor do apoio a Casagrande, ficou a cargo do PT dar uma resposta se vai retirar a pré-candidatura ao governo do senador Fabiano Contarato e apoiar o PSB ou se mantém a candidatura de Contarato, caminha independente do governador e faz um palanque exclusivo para Lula.

A pressão nacional para que as duas siglas cheguem a um consenso é grande. Mas, desde a visita do ex-ministro Sergio Moro à Residência Oficial da Praia da Costa que PT e o PSB andam se estranhando. Outras coisas também estariam em jogo caso o PT abra mão da candidatura própria, como a possibilidade de indicar nomes para a chapa majoritária, o que encontra resistência na base. Na chapa presidencial, o PSB (com Geraldo Alckmin) é vice de Lula, mas a chapa de Casagrande, caso ele dispute a reeleição, não deve ser definida tão facilmente.

A ida do PT para o palanque do PSB também não é de toda tranquila. O governador quer reunir, no projeto que ele disse que irá liderar, o maior número de siglas – de vários espectros ideológicos e políticos – para uma “Frente Ampla Capixaba”. Mas algumas legendas não aceitam dividir palanque com o PT, assim como também o PT tem dificuldade em dividir palanque com outros presidenciáveis que não seja Lula. No Estado, o PT está em silêncio e o prazo para tomar a decisão, que era dia 15, foi adiado para essa semana.

3 – Quem será o candidato ao Senado apoiado pelo governo?

Crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O MDB tem a senadora Rose de Freitas; o Podemos, o ex-secretário de Segurança Coronel Ramalho; o PP apresenta o deputado federal Da Vitória; o Avante tem fortalecido o nome do pastor Nelson Junior e o PSDB tem mais de um nome para oferecer. O que esses partidos têm em comum? Todos estão na disputa pela bênção do Palácio Anchieta para concorrer à única vaga ao Senado em jogo neste ano.

Até o momento há pelo menos 12 partidos que já manifestaram o interesse de disputar o Senado, sendo que cinco estão na base do governo. Até a convenção, esse número deve afunilar e os partidos da base aliada devem chegar a um acordo. Ao menos, essa é a expectativa do presidente do PSB, Alberto Gavini, que em conversas anteriores com a coluna disse que há o encaminhamento para que o governo apoie um único nome ao Senado.

Todos os cinco têm suas razões para pleitear a vaga: Rose assumiu o MDB e sacrificou uma candidatura própria ao governo (a de Guerino Zanon) para apoiar Casagrande e também ter, em troca, o seu apoio à reeleição. Na aliança, ela também leva o tempo de TV de uma das maiores siglas do país.

O PP tornou-se no Estado uma legenda robusta, com uma chapa de peso para as eleições deste ano. A sigla do poderoso presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, foi uma das primeiras a cobrar a participação na chapa majoritária e apresenta o nome de Da Vitória, coordenador da bancada federal capixaba e aliado de primeira hora do governador.

O Podemos é a sigla de um dos ex-secretários estaduais mais influentes na gestão (Gilson Daniel) e do ex-secretário de Segurança. Ter um agente das forças de segurança, como Coronel Ramalho, num posto majoritário poderá atrair voto de militares (categoria bastante próxima do bolsonarismo) ao projeto de Casagrande.

Já o Avante aposta que o nome do pastor Nelson Júnior, criador do movimento “Eu escolhi esperar”, pode atrair o voto religioso, principalmente de jovens e conservadores, católicos e evangélicos, para somar ao projeto. Sem generalizar, é certo que boa parte do eleitorado evangélico tende a votar num representante da religião nas eleições.

Por último, o PSDB formou uma federação com o Cidadania – partido que tem uma aliança histórica com o PSB – e conta com nomes de peso e alguns já testados para a empreitada. Entre eles estão: o ex-senador Ricardo Ferraço, os ex-prefeitos Luciano Rezende e Juninho, e o empresário Léo de Castro. O presidente do PSDB, Vandinho Leite, conhecido por seu pragmatismo e por sempre valorizar o passe tucano, já disse que o PSDB seria protagonista no processo eleitoral e sinalizou que pode mudar de lado caso não encontre espaço para os tucanos no ninho de Casagrande.

Além da questão de quem será apoiado pelo governo há uma outra, ligada a essa, que tem surgido nos bastidores: as siglas aliadas preteridas na escolha poderão lançar um nome avulso ao Senado?

4 – Todos os pré-candidatos ao governo vão disputar?

Contando com o governador, que ainda não admitiu se disputará a reeleição, há hoje nove pré-candidatos ao governo: Casagrande (PSB), Carlos Manato (PL), Fabiano Contarato (PT), Guerino Zanon (PSD), Audifax Barcelos (Rede), Erick Musso (Republicanos), Felipe Rigoni (União), Aridelmo Teixeira (Novo) e Capitão Sousa (PSTU). Um número de concorrentes considerado grande para o eleitorado capixaba e que analistas políticos apostam que irá diminuir.

Se o PT fechar mesmo com o PSB, a pré-candidatura ao governo de Contarato cai. Há também a sinalização de que a Executiva nacional de alguns partidos irá cobrar pontuação em pesquisas para dar o aval às candidaturas ao governo nos estados. União e Republicanos estariam nesse bolo.

Isso acontece porque a prioridade das legendas é a disputa federal. Os partidos precisam eleger deputados federais para sobreviverem. É o número de cadeiras na Câmara Federal que determina o tempo de TV e rádio e a quantidade de recursos ($$) que os partidos irão receber para as campanhas, além da atuação no próprio Congresso como a participação em comissões, por exemplo. Por isso, se a sigla tiver de escolher onde vai investir recursos: se em candidaturas à Câmara Federal ou se em candidaturas majoritárias com baixo desempenho nas pesquisas, ela vai escolher a primeira opção. E, sem dinheiro, ninguém faz campanha eleitoral.

Outro ponto é que não basta ter apenas a própria legenda como fiadora da candidatura. Os candidatos precisam de aliados, coligações, uma base formada por outras lideranças e partidos para fortalecer o palanque e construir a campanha. A campanha eleitoral muitas vezes é comparada a uma guerra: ninguém sai para lutar despreparado, sem exército e sem aliados. Do contrário, já sai fadado à derrota. E essa busca por aliados para “sair à guerra” leva ao quinto questionamento.

5 – Quem vai fechar com quem?

Sousa: chapa puro-sangue?

Nos bastidores as conversas estão frenéticas. Tem partido que toma café com um pré-candidato, almoça com outro e janta com um terceiro. Possíveis indicações de nome ao Senado, de suplentes de senador, de vice na chapa e composição para o novo governo fazem parte das negociações que, embora algumas já estejam alinhavadas, ainda não estão fechadas. O martelo só será batido nas convenções e até o último dia de prazo há possibilidades de mudanças e reviravoltas.

Hoje quem tem a maior quantidade de partidos na aliança é o PSB, que não revela quantos e nem quem são por questão de estratégia política. O partido do governador contaria até com o apoio de sigla que já anunciou aliança com outro pré-candidato ao governo. Mas tudo é mantido em sigilo.

Mas tem também sigla e pré-candidato que anunciam com quem está fechando, até para mostrarem para o mercado que não estão isolados. O PL, com Manato, tem o PTB como fiel escudeiro e está tentando avançar para outras legendas conservadoras, mas encontra barreira por conta do Republicanos, com a pré-candidatura de Erick Musso, que já fechou com o PSC, Patriota e Agir36 (antigo PTC).

Rede tem a federação com o Psol, fechou com o Solidariedade recentemente e tem se aproximado do PSDB. Guerino, do PSD, diz estar fechado com o PMB35 e com o Democracia Cristã (DC). E o PT, com Contarato, está na federação com PV e PCdoB – os dois partidos já declararam apoio a Casagrande.

Os demais partidos e pré-candidatos ou vão para disputa em chapa puro-sangue – o PSTU, provavelmente – ou ainda estão negociando, uma vez que os acordos fechados hoje poderão ser refeitos, com outros atores, até a convenção. Há uma palavra e uma intenção. Mas não há uma garantia. É a tal da “nuvem”, que sempre muda na política (principalmente a capixaba).

 

Na próxima coluna serão abordados os outros cinco questionamentos ainda sem resposta para as eleições no Espírito Santo.