Guerino x Casagrande: paternidade do Aeroporto de Linhares na briga política

A paternidade do Aeroporto Regional de Linhares é o novo pomo da discórdia entre o governo do Estado e a Prefeitura do município. Ou melhor, entre o governador Renato Casagrande (PSB) e o ex-prefeito Guerino Zanon (PSD). O pano de fundo é a eleição de outubro e a disputa pelo Palácio Anchieta.

Hoje (10) está prevista a vinda do ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, a convite da bancada federal capixaba, para a inauguração da pista de pouso e decolagem do aeroporto, que está em funcionamento desde o ano passado. A visita está marcada para as 9 horas e, logo depois, o ministro deve seguir para Colatina. A vinda do ministro ao Estado foi noticiada pela coluna no último sábado, mas só confirmada ontem (09) pelo Ministério da Infraestrutura.

A bancada teria avisado o governo do Estado sobre a chegada do ministro e o Estado decidiu organizar o evento para receber Marcelo Sampaio. No início da tarde de ontem, a assessoria do governo divulgou a agenda de Casagrande tendo como primeiro compromisso de hoje a inauguração do aeroporto. No comunicado à imprensa, uma ênfase: “70% das obras são do Governo do ES. Investimento de R$ 45 milhões”, diz a nota.

Nos bastidores, o burburinho era que o governo teria decidido participar e organizar o evento, mesmo com a pista já em funcionamento, para não deixar que o crédito da obra ficasse com o governo federal e com a Prefeitura de Linhares. E o burburinho parece ter chegado rapidamente ao Norte do Estado e em Brasília.

No final da tarde, o Ministério da Infraestrutura divulgou também nota sobre a agenda do ministro. O título: “Governo federal entrega nova pista do Aeroporto de Linhares”. E prossegue: “O Governo Federal, por meio do Ministério da Infraestrutura, inaugura nesta sexta-feira (10) a nova pista de pouso e decolagem do Aeroporto de Linhares, no Espírito Santo. No total, são 1.086 metros de extensão, com um investimento da ordem de R$ 30 milhões, sendo cerca de R$ 18 milhões em recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac)”.

Logo em seguida, foi a vez da Prefeitura de Linhares usar seu perfil oficial no Instagram para falar do evento. Numa nota oficial, em que promete trazer “alguns esclarecimentos”, a prefeitura elogia a bancada federal por levar o ministro a Linhares e faz críticas ao governo do Estado, afirmando que este teria causado prejuízos ao município.

“O Governo do Estado perdeu R$ 25 milhões de verbas federais para a construção do novo terminal de passageiros do Aeroporto, atrasando a entrega e trazendo prejuízo não só à economia de Linhares, mas à população do Espírito Santo. Mesmo sem o novo terminal de passageiros, cujos recursos federais foram perdidos pela administração estadual, a nova pista do Aeroporto que será inaugurada nesta sexta-feira (10) já está funcionando para receber aviões de pequeno porte. A administração municipal vai continuar conversando com o governo federal, com quem mantém boa articulação, para tentar garantir os recursos perdidos do novo terminal de passageiros, que permitirá à cidade receber voos comercias de até 130 passageiros”, diz trecho do comunicado.

A postagem da prefeitura ocorreu por volta das 20 horas de ontem e cerca de uma hora depois a resposta de aliados e servidores do governo do Estado já estava lá. Nos comentários da postagem, usaram primeiro o deboche, com questionamentos sobre a “Rodoviária do Guerino”. Depois, fizeram uma relação dos investimentos feitos pelo Estado no aeroporto.

“Os investimentos necessários para a operacionalização do Aeroporto de Linhares não se constituem apenas na obra da pista, que custou R$ 29.881.936,23 e o Governo Federal arcou com apenas R$ 17.929.161,74. O governo do Estado do Espírito Santo custeou todos os itens necessários para a implantação do aeroporto como: obra (R$ 11.952.774,49), outras despesas de reajuste/aditivo (R$ 11.952.774,49), remoção Torre LD 138KV (R$ 4.601.215,98), remoção rede LD 15KV (R$ 666.999,50), desapropriação (R$ 7.451.769,48), reforma TPS (R$ 2.712.416,42), Sistema de Navegação Aérea – PAPI (R$ 1.350.137,98)”. Os aliados do governo ainda escreveram que parte dos investimentos seria de competência municipal, mas que foi assumida pelo governo.

E o embate não parou por aí. Com relação aos R$ 25 milhões de verba federal que a Prefeitura de Linhares afirmou que o governo do Estado perdeu, o assessor do governador rebateu, no perfil do Instagram da Prefeitura: “O Governo do Estado não perdeu recursos. Preferiu fazer o terminal com recursos próprios o que irá acelerar as obras. Atualmente, a pista, feita pelo Governo do Estado, consegue receber cinco voos diários”.

A Prefeitura foi questionada sobre o episódio e a assessoria respondeu que tem a documentação que prova que o recurso federal foi perdido. Um e-mail com uma troca de conversas entre servidores da Prefeitura de Linhares e do Ministério da Infraestrutura foi enviado para a coluna.

O e-mail cita que o termo de compromisso número 16/2019 para a “realização de obras de edificações e infraestrutura complementar no Aeroporto de Linhares” foi extinto em 17 de novembro de 2021 por “decurso de prazo sem a execução do objeto celebrado”. Os documentos e ofícios que explicariam o motivo, porém, não foram enviados à coluna.

Outras polêmicas

Até a noite de ontem não havia a confirmação se o ex-prefeito Guerino Zanon iria participar do evento. O Aeroporto não é a única polêmica envolvendo Guerino e Casagrande. Após um longo período de silêncio, Guerino colocou o bloco na rua e começou sua pré-campanha rasgando o verbo com críticas ácidas ao governador, ao secretariado estadual e à gestão.

A estadualização do Hospital Geral de Linhares também tem sido alvo da briga política entre os dois. No último dia 1º, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) divulgou um comunicado sobre a dificuldade que estaria enfrentando com a Prefeitura de Linhares para estadualizar o HGL – medida essa que já teria sido aprovada por força de uma lei municipal.

No dia seguinte, em entrevista para o programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, na rádio Jovem Pan News Vitória, Guerino chamou o governo do Estado de “mentiroso”. “Tiveram três anos e meio pra estadualizar e enrolaram o povo. Onde vamos colocar 500 servidores municipais que estão lá dentro?”, questionou Guerino sobre o HGL.

Em eventos oficiais – em Santa Teresa e na Serra –, sem citar nomes, Casagrande rebateu algumas das críticas de Guerino: “Alguns adversários do governo – eu falo que é do governo porque eu vou tratar de eleição no tempo certo de eleição – me acusando de investir muito nos municípios. É papel meu fazer os investimentos. Se alguém está achando que estamos fazendo muito investimento nos municípios, pode continuar preocupado, porque eu vou fazer cada vez mais. E a gente faz nos 78 municípios do Estado, mesmo que não tenha relação política com o prefeito”.

No calendário eleitoral, a campanha ainda não começou. Mas o clima já é de disputa. E, ao que tudo indica, o tom vai continuar subindo entre as duas lideranças.

Em tempo…

Será que os parlamentares da bancada federal capixaba, principalmente Da Vitória e Neucimar Fraga, que estão trazendo o ministro da Infraestrutura ao Estado, terão jogo de cintura para lidar com o imbróglio que foi criado nesta agenda?

Em tempo… II

Da Vitória e Neucimar são do PP, partido que nacionalmente apoia o governo federal e a reeleição de Bolsonaro. No Estado, porém, o PP está na base aliada do governador Casagrande e até o momento, apoia a reeleição do governador – Da Vitória é até cotado para disputar o Senado na chapa do governo. Mas, Guerino tem se aproximado do PP, principalmente do deputado Evair de Melo, vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal.