Ramalho cita “lealdade” ao escolher o governo. Mas o governo, escolherá Ramalho?

“Lealdade”, “fidelidade”, “apoio”, “reconhecimento” foram as principais palavras usadas pelo coronel da reserva da PM Alexandre Ramalho (Podemos) para justificar a escolha por ficar na base do governo após receber convite para mudar de legenda e ter um espaço garantido e confortável para realizar o seu projeto de disputar o Senado.

Em entrevista ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, que foi ao ar ontem (23) na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), o ex-secretário estadual de Segurança Pública detalhou os motivos para não ter aceitado ir para o União Brasil a convite do pré-candidato ao governo da legenda, deputado Felipe Rigoni.

“Houve sim essa questão de entrar na chapa do União Brasil. Mas numa conversa com o governador e com o Gilson Daniel, entendemos que nós ocupamos uma das pastas mais difíceis e desafiadoras do governo. Por todo processo de lealdade ao governador, por todo processo de caminhar junto nesses dois anos e pelo apoio que recebi – porque não teve pauta de segurança pública que não entrasse no gabinete do governador Renato Casagrande, todos os assuntos de segurança pública são discutidos diretamente com ele – então seria muito ruim pra minha imagem, para nossa equipe de governo, para nosso relacionamento se eu fosse para um partido onde o candidato ao governo faz oposição ao governador. Então, essa lealdade ao governador que me fez permanecer no Podemos”, justificou Ramalho, que também elogiou Rigoni. “Felipe é uma figura que me causa muita satisfação de ter conhecido, merece todo nosso respeito”. Conforme mostrou a coluna de ontem, Rigoni ainda não desistiu de ter Ramalho em sua chapa e mantém conversas com ele.

Em outro momento da entrevista, Ramalho citou a fidelidade do Podemos ao governo do Estado. Questionado se havia alguma possibilidade do Podemos mudar de lado e apoiar outro candidato ao governo, para ter garantida a disputa pelo Senado, Ramalho descartou. “Não vejo essa possibilidade não, pela fidelidade do próprio presidente do partido (Gilson Daniel), pela amizade, pelo companheirismo, investimentos que o governo fez em Viana enquanto Gilson era prefeito. Também pela oportunidade dele ser secretário, por ter pessoas importantes no partido que são ligadas ao governador”.

Ramalho deixou claro que dificilmente o partido vai abandonar o barco ou encostar o governador na parede exigindo fazer parte do processo majoritário. Mas, o coronel também reluta em abrir mão do projeto de disputar o Senado. Ele sabe que a concorrência é acirrada e que a chance de não receber a bênção do Palácio Anchieta é real. Que embora tenha a garantia do partido para disputar, não tem a garantia a do governador em receber apoio.

Por isso, Ramalho já tem debatido e, como ele mesmo disse, “insistido” com o Podemos sobre a possibilidade de levar adiante uma candidatura ao Senado avulsa, ou seja, sem o apoio formal do governador que já sinalizou que só deve apoiar um nome na disputa ao Senado. “É isso que eu tenho conversado com o presidente do partido (Gilson Daniel). De insistir na minha candidatura ao Senado, mesmo que seja de forma avulsa, porque a legislação permite isso. Mesmo estando hoje na aliança com o governador, que pudéssemos ter o nosso nome como pré-candidato ao Senado”, afirmou Ramalho, que diz confiar no seu potencial.

O ex-secretário tem rodado o Estado e participado – quando dá – das agendas do governo. “Gasolina está R$ 8”, justifica, pela ausência em algumas. Diz que quer ir para o Senado para fazer com que a pauta da segurança pública entre de vez nos debates do Congresso, que a cobrança em cima das polícias é desproporcional se comparada à feita ao Judiciário e ao Congresso “que é quem debate a legislação penal”. Ele tenta também se diferenciar do deputado federal Da Vitória, também oriundo das forças policiais e cotado para disputar o Senado, pelo PP.

Além de Da Vitória, a senadora Rose de Freitas (MDB) também está na área disputando o apoio do Anchieta. Ela é a dona da cadeira no Senado e vai disputar a reeleição. O PSDB também colocou como condição fazer parte do projeto majoritário para apoiar um pré-candidato ao governo e ainda há a possibilidade do PT entrar no jogo, caso retire a candidatura ao governo do senador Fabiano Contarato – que, aliás, se reuniu ontem com a presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann.

Ramalho sabe que tem um duro páreo pela frente. Hoje, 12 partidos querem colocar candidato para a disputa. A corrida para Ramalho – e para todos da base aliada do governo –, é dobrada: primeiro ele precisa vencer os concorrentes internos da frente ampla que vai fechar com o governador. Para, só depois, tentar conquistar o voto do eleitorado.

O presidente do Podemos, Gilson Daniel, foi procurado pela coluna para comentar as falas de Coronel Ramalho, mas não retornou aos contatos até o fechamento desta edição.

Ramalho, Casagrande e Caus – Crédito: Hélio Filho

Governo do Estado x PF x Prefeitura de Vitória

Ramalho foi questionado, na entrevista, sobre os ruídos com a Polícia Federal – no episódio da força-tarefa de segurança no Estado –, e com a Prefeitura de Vitória – no caso das imagens do cerco inteligente. Ele explicou porque o Estado não participa da força-tarefa proposta pela PF. “Um programa de segurança pública é estadual. O que nós pedimos à Polícia Federal foi para que fosse estabelecido um protocolo dentro da força-tarefa, mas que a força-tarefa estivesse no guarda-chuva do programa Estado Presente”. Esse pedido teria sido encaminhado para Brasília e até a saída de Ramalho da Sesp não teria recebido retorno.

Com relação à reclamação de policiais de Vitória que estariam tendo dificuldade de acesso às imagens geradas pelo Cerco Inteligente, na capital, Ramalho disse que tudo já foi resolvido. “Foi uma questão técnica”, disse ele, negando haver componente político nos dois episódios.

Casagrande x Hartung

Por ter atuado nos governos de Casagrande (secretário da Segurança) e de Paulo Hartung (comandante da PM), Ramalho foi questionado qual era a principal diferença entre os dois governadores com relação à segurança pública.

“São duas personalidades importantíssimas para o Espírito Santo, que lutaram muito e merecem respeito. A principal diferença é que o governador Casagrande puxa a pauta da segurança pública para o seu gabinete. Acho muito corajoso do governador estabelecer um programa de governo voltado para a diminuição dos homicídios. Pouquíssimos governantes fazem isso”, avaliou.

Armas para a população e câmeras na farda dos policiais

Ramalho também foi questionado sobre sua posição com relação a dois temas polêmicos que, vira e mexe, ganham destaque nos debates do Congresso e da sociedade. Sobre as políticas públicas que facilitam ao cidadão ter uma arma, ele disse ser a favor.

“O cidadão honesto, digno, que paga seus impostos e quer ter a arma de fogo para proteção da sua família, da sua propriedade e da sua dignidade, eu não vejo problema nenhum, desde que ele passe por um treinamento, cumpra todas as etapas estabelecidas”.

Com relação aos policiais usarem câmeras durante o trabalho, Ramalho disse que mudou sua percepção com relação ao tema após conhecer a experiência da PM paulista. Segundo ele, as câmeras ajudam a proteger e a defender os policiais em casos de operações que terminam com vítimas. “Mudei completamente minha visão”.

Cantinho do pensamento

Ramalho contou que em janeiro, quando disse ao governador que teria interesse em disputar o Senado, Casagrande o orientou a “pensar melhor”. “Ele disse que o Senado seria uma consequência um pouco mais à frente, que eu pensasse no partido e na possibilidade de disputar para deputado federal”. O ex-secretário, porém, descartou a possibilidade de disputar a Câmara Federal.

E vice?

Ramalho também foi questionado se toparia ser vice do governador. Ele disse que não tem interesse, mas que estaria à disposição do partido. “Sou um fiel escudeiro”.

Lula ou Bolsonaro

Embora apoie a reeleição do governador Casagrande, que é do PSB, partido que está na chapa do ex-presidente Lula, Ramalho apoia Bolsonaro. Mas enfatizou que não é radical. “Não sou radical, não sou extremista, sei dialogar com todos e quero dialogar com todos, independente do lado”.

Questionado se não haveria constrangimento de dividir o palanque com petistas, caso seja o nome escolhido pelo governador para o Senado, ele disse que a decisão de dividir ou não o palanque com o PT será do partido (Podemos).

Na íntegra

Ramalho também falou dos desafios que enfrentou à frente da Sesp, fez um raio-X dos crimes que acontecem no Estado, sobre as organizações criminosas que atuam principalmente na Grande Vitória, sobre suas principais bandeiras na pré-campanha e as articulações que tem feito. A entrevista na íntegra pode ser conferida aqui: