GIRO POLÍTICO: O recado da Ales ao governo, a novela PT-PSB e o desabafo de Do Val

Gandini na sessão / crédito: Ellen Campanharo-Ales

Emenda de Gandini manda recado ao governo

O governo do Estado enviou para a Assembleia projeto que abre crédito suplementar no valor de R$ 609,5 milhões para diversas secretarias do Estado. O projeto entrou na pauta da sessão de ontem (12) e os deputados fizeram uma sessão extraordinária para votar a matéria.

Durante a discussão, o deputado Carlos Von (DC), que faz oposição ao governo, subiu à tribuna para dizer que votaria contra o projeto e denunciou que a suplementação para a Secretaria de Ciência e Tecnologia seria para bancar a campanha do ex-secretário da pasta Tyago Hoffmann, que é pré-candidato a deputado estadual.

Logo em seguida, o deputado Fabrício Gandini, presidente do Cidadania e aliado do governo, apresentou uma emenda retirando a suplementação de R$ 13 milhões da pasta de Ciência e Tecnologia e a transferindo para a Ação Social. Gandini alegou que o país passa por uma situação delicada, com muitas famílias passando fome e que o recurso seria para ampliar o investimento do Bolsa Capixaba, na transferência de auxílio aos mais pobres.

O deputado Dary Pagung, líder do governo, foi contra a emenda, afirmando que o recurso para a pasta de Ciência seria para custear a folha de pagamento. Porém, enquanto Dary discursava, Gandini mobilizava os demais deputados para votar contra a orientação do líder do governo e a favor da emenda.

O presidente do PSDB, Vandinho Leite – que ainda não decidiu se fica com Casagrande ou se apoia outro candidato ao governo – apoiou a emenda de Gandini, disse que recentemente a Casa aprovou um crédito de suplementação de R$ 30 milhões para a antiga pasta de Hoffmann e levantou suspeitas: “Mesmo se não tiver indício de corrupção, é um gasto desnecessário nesse momento”.

A emenda foi colocada em votação e foi aprovada na Comissão de Justiça, rejeitada na Comissão de Finanças e aprovada – com quatro votos contrários e sob aplausos – no plenário. Os aliados terem votado contra a orientação do líder do governo foi lido, nos bastidores, como um recado direto ao Palácio Anchieta sobre a insatisfação da base com relação a um suposto favorecimento a ex-secretários pré-candidatos, como Tyago Hoffmann, na pré-campanha eleitoral.

Como foi aprovada uma emenda aditiva anexa, se o governo quiser vetá-la, terá de vetar o projeto inteiro, que também foi aprovado ontem, em regime de urgência.

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Dia difícil para o Palácio Anchieta

A prisão do ex-secretário estadual da Fazenda Rogélio Pegoretti – acusado de fazer parte de um esquema de fraudes em impostos no comércio de vinhos que teria dado um prejuízo aos cofres públicos de R$ 120 milhões – virou munição para a oposição ontem na Assembleia. O ex-secretário foi preso na operação Decanter, deflagrada pelo Ministério Público do Estado (MP-ES) e pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz).

Deputados contrários ao governo não pouparam críticas durante os discursos. No meio das falas, outro caso foi relembrado: o do ex-subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari que foi alvo de operação da Polícia Federal. Ele é suspeito de receber R$ 800 mil de propina num contrato de compra de álcool em gel durante a pandemia.

A operação que teve como alvo Pegoretti ocorre apenas um dia após o governador anunciar sua pré-candidatura à reeleição. Como a Sefaz participou das investigações e da operação, aliados avaliam que o caso não deve respingar no governo.

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Decanter?

Decanter é um recipiente de fundo largo e abertura estreita que serve para separar sedimentos e aerar o vinho. Como esse recipiente aumenta a superfície de contato entre o vinho e o ar, o processo de oxigenação da bebida é acelerado.

Dessa forma, ele interfere positivamente para suavizar os taninos e evidenciar os aromas de determinados vinhos. É esse recipiente que dá nome à operação deflagrada ontem pelo MP-ES.

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LDO do governo do ES em votação hoje

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do Estado para 2023 será votada nesta quarta-feira (13) na Assembleia, durante a sessão ordinária que começa às 9h. O texto foi aprovado na Comissão de Finanças na última segunda-feira (11). O relator e presidente da Comissão, deputado Freitas, acatou 46 emendas e rejeitou 61.

Os deputados têm até as 8h de hoje para apresentar os destaques – uma espécie de emenda ao texto. Hoje será a última sessão antes do recesso parlamentar, mas os deputados só saem de férias se votarem a LDO.

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E em mais um capítulo da novela PT e PSB…

A presidente estadual do PT-ES, Jackeline Rocha, convocou para às 20h30 de hoje uma reunião com o diretório estadual para tratar da candidatura majoritária do partido. Na manhã de ontem (12), a cúpula petista se reuniu com o governador e com o presidente do PSB capixaba, Alberto Gavini, para tentarem chegar a um consenso. Mas a definição foi adiada, mais uma vez.

Segundo Gavini, não há mais nada que o PSB possa fazer. “Não há mais o que possamos falar. Da nossa parte entendemos que já conversamos tudo sobre esse assunto. O PT ficou de conversar internamente, de levar para o diretório e tomar a decisão coletiva. Só pedimos que eles não passassem dessa semana para nos dar a resposta, precisamos cuidar da vida”, disse Gavini.

Segundo o dirigente socialista, foi conversado sobre o programa de governo e a composição de uma futura gestão. Questionado se foi falado sobre vaga na chapa majoritária, Gavini disse que não entrou nessa fase ainda.

Na última segunda-feira (11), ao anunciar que disputará a reeleição, o governador Renato Casagrande disse que havia um pleito, por parte do PT, em indicar nome a vice e nome ao Senado, mas que isso não foi colocado como condição. Também afirmou ser um pedido da executiva nacional dos dois partidos que as legendas caminhem juntas no Estado.

Com a saída do socialista Márcio França da disputa ao governo paulista, ficou praticamente certa a retirada da pré-candidatura ao governo do senador petista Fabiano Contarato. Tanto que, segundo alguns militantes do PT ouvidos pela coluna, é pequeno o grupo que ainda resiste em querer manter a candidatura própria.

Na segunda, o governador disse, com todas as letras, que seu candidato é Lula e que é o único para quem fará campanha. “O meu partido e eu vamos fazer campanha para o Lula”, disse Casagrande, que é secretário-geral do PSB. A expectativa é que até quinta-feira pela manhã o PT faça seu anúncio oficial. Será que agora vai?

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Desabafo

O senador Marcos do Val (Podemos) publicou ontem um desabafo em redes sociais e grupos de conversas após a votação da LDO sem as emendas impositivas do relator, que ele tinha proposto em seu parecer. Do Val caiu em desgraça ao falar, durante uma entrevista ao Estadão, que pôde indicar R$ 50 milhões de emendas do orçamento secreto como forma de gratidão por ter apoiado a candidatura de Rodrigo Pacheco à presidência do Senado.

Ontem, o senador Alessandro Vieira denunciou Do Val, Pacheco e Davi Alcolumbre ao STF por supostos atos de corrupção. Ele também protocolou uma representação no Conselho de Ética contra os três senadores por quebra de decoro.

“É um preço alto que estou pagando por confrontar sozinho o sistema. Mudei as regras do orçamento tornando-as totalmente transparentes e tirei o poder de um único parlamentar a decisão de enviar bilhões de reais para quem ele escolhesse sem nenhum critério”, escreveu o capixaba num texto encaminhado por aplicativo de mensagens.

“A minha história e o meu mandato, totalmente transparente desde seu início e contando sempre com a parceria do Ministério Público do Espírito Santo, fiscalizando cada centavo dos recursos direcionados por mim, derrubam qualquer tentativa de denegrir a minha imagem. Isso que estão fazendo, além dos objetivos eleitoreiros, vem causando sofrimento à minha família”, afirmou.