O banho de água fria que as urnas trouxeram a Casagrande

O governador Renato Casagrande (PSB) vai para a disputa do segundo turno com uma certa vantagem com relação ao seu oponente, Carlos Manato (PL). Durante todo o período de apuração das urnas ele se manteve à frente e terminou com 46,94% dos votos válidos (976.652) contra 38,48% de votos válidos (800.598) de Manato.

Porém, o resultado frustrou eleitores do socialista, seus aliados e, por que não dizer, até o próprio governador. Embora tenha dito que estava preparado para disputar em dois turnos e que sempre manteve o pé no chão, fato é que a campanha de Casagrande trabalhava com a vitória já neste domingo (02) e a euforia da véspera da eleição virou preocupação. Não apenas com relação ao desgaste de ter de enfrentar mais um mês de campanha, mas também com relação à derrota de sua candidata ao Senado e ao novo desenho da Assembleia Legislativa para o ano que vem.

Durante coletiva de imprensa que deu logo após o resultado, Casagrande criticou as pesquisas eleitorais que, segundo ele, erraram no país todo e no Estado. Porém, a pesquisa Real Time Big Data, encomendada pela Rede Vitória em parceria com a Record TV, e divulgada na última quarta-feira (28), apresentou um cenário com tendência de crescimento para Manato e de queda para Casagrande.

A pesquisa mostrou que Casagrande tinha 53% dos votos válidos, 6 pontos percentuais a menos do que o registrado em levantamento do mesmo instituto em agosto, quando somou 59%. Já Manato, apresentou crescimento de 5 pontos percentuais, saindo de 25%, em agosto, para 30%, na última quarta. A pesquisa também mostrou que Guerino (PSD) apresentava 7% dos votos válidos e que estaria empatado, dentro da margem de erro (de 3 pontos percentuais), com Audifax, com 8%. Guerino teve 7,03% dos votos e Audifax, 6,51%.

Essa tendência de queda, porém, parece ter passado batido pela campanha de Casagrande, como também a baixa transferência de voto, apontada na pesquisa, para a candidatura à reeleição da senadora Rose de Freitas (MDB).

A pesquisa mostrou que, entre os eleitores de Casagrande, apenas 48% votariam em Rose. Esse dado chamou a atenção principalmente quando comparado à candidatura oposta: entre os eleitores de Manato, 76% votariam também em Magno Malta.

Casagrande já foi governador com Magno Malta no Senado, relação entre os dois sempre foi cordial, embora o cenário hoje seja outro. Mas, a derrota de Rose, candidata oficial da chapa do governo que contou com uma coligação de 11 partidos, abalou os ânimos. Tanto que Rose não quis nem se manifestar, ontem, após o resultado. De manhã, ela e Casagrande estiveram juntos, votando.

O novo desenho da Ales

Caso o governador seja reeleito no próximo dia 30, a nova formação da Assembleia Legislativa é algo também que pode trazer dor de cabeça para o socialista. A maior bancada eleita é do PL, com cinco deputados. Em seguida, vem o Republicanos, com quatro deputados. Os dois partidos, de direita, estão hoje no campo oposto ao do socialista.

O PSB, partido do governador e que hoje conta com a maior bancada no parlamento – cinco deputados – conseguiu eleger apenas três deputados, com uma votação que deixou a desejar. O ex-secretário Tyago Hoffmann, uma das principais apostas do Palácio Anchieta, foi o sétimo mais votado (32.123) ficando atrás de eleitos do PT, PL, Republicanos, Podemos e Psol, que não contaram com a mesma estrutura e apoio.

Os partidos que hoje fazem parte da coligação de Casagrande na disputa à reeleição conseguiram eleger 15 deputados, ou seja, metade da Casa. Na hipótese de Casagrande ser reeleito e que esses 15 permaneçam firmes na base aliada, o governador ainda teria de trabalhar na articulação para conseguir ter maioria. Não que todos os outros 15 farão parte de uma possível oposição, mas hoje são de partidos que apoiaram e ainda apoiam outros candidatos ao governo.

O segundo deputado estadual eleito mais votado é Capitão Assumção (PL), um dos principais opositores a Casagrande na Ales, com as diferenças extrapolando o campo político do debate no parlamento para o campo jurídico, com processos tramitando na Justiça.

Do mesmo partido está o jovem e também eleito Lucas Polese, que usa bastante suas redes sociais e o Instituto Liberal do Espírito Santo (Iles), do qual faz parte, para atacar Casagrande. Também já foi alvo de processos.

Não que a nova formação da Assembleia irá tirar o sono de Casagrande agora, até porque ele tem coisas mais urgentes para tratar como reconfigurar sua campanha para a disputa do segundo turno. Mas é um cenário que não pode sair do radar. Até porque os eleitos podem contribuir nesses 27 dias que faltam para a próxima ida às urnas. E a contribuição deles, junto às suas bases, pode ser decisiva.

Em tempo: Seguindo a tradição, o capixaba não deu vitória ao petismo na disputa presidencial. No Espírito Santo, Bolsonaro venceu com 52% dos votos – 12 pontos percentuais à frente do petista, que teve 40% dos votos dos capixabas. Manato atrela sua imagem a de Bolsonaro. Já Casagrande não atrela sua imagem a de Lula, embora tenha declarado voto no ex-presidente.