Reconciliar o país é a prioridade número um

Se não ocorrer nenhum imprevisto – como as enormes filas de eleitores para votar no 1º turno que geraram atrasos para o início da apuração –, é bem provável que até as 21 horas deste domingo (30) já seja possível conhecer quem serão o presidente da República e o governador do Espírito Santo pelos próximos quatro anos. Em 2018, o resultado saiu antes das 19h30.

Independente de quem vencer a Presidência da República, e do plano de governo a ser implantado, antes até de formar a equipe, a prioridade número um do futuro governante precisa ser a de pacificar e reconciliar o país. O que não será tarefa fácil devido à radicalização que se tornou esse processo eleitoral.

Ontem (28), mais uma cena de violência política foi testemunhada. Após uma discussão com petistas, a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli e seus seguranças, com armas em punho, correram atrás de um homem pelas ruas de uma área nobre de São Paulo.

Vídeos, feitos por testemunhas, mostram o momento que o homem perseguido, um jornalista negro, foi encurralado ao correr e tentar se abrigar numa lanchonete. Na cola dele, Carla grita para ele deitar no chão. A lanchonete estava cheia e, assustados, os frequentadores saíram correndo.

Carla disse que foi agredida pelo homem, que teria sido empurrada e caído no chão. Vídeos que apareceram, até então, mostram uma discussão, o homem dizendo que era Lula, chegou a xingar o grupo todo que estava com a deputada, mas não mostra nenhuma agressão física. Ela teria caído sozinha após tropeçar, como mostra um dos vídeos.

Depois, em entrevista, Carla Zambelli foi questionada sobre estar portando armas em desobediência a uma resolução do TSE que proibiu o trânsito com armas de fogo entre sábado e segunda-feira (31). Ela disse que, conscientemente, não iria cumprir a resolução, alegando que “ordem ilegal não se cumpre”.

Não foi a única cena do sábado. Nas redes sociais circularam vídeos de discussão (e quase vias de fatos) entre mulheres – uma bolsonarista e um grupo de petistas –, uma adolescente de 13 anos levou uma pedrada na cabeça enquanto participava de uma carreata em apoio a Bolsonaro no Ceará e uma jornalista, que estava com adesivos do Lula, também foi agredida no Paraná.

Outros casos de violência política ocorreram ao longo da campanha e muitos terminaram em tragédia. O mais emblemático foi o de um tesoureiro petista em Foz do Iguaçu (PR) assassinado em sua própria festa de aniversário – que tinha Lula como tema –, por um bolsonarista que invadiu o espaço do evento atirando.

Não se tem relato, na história recente do país, de uma eleição marcada por tanta agressividade e ódio. As campanhas eleitorais também tiveram esse tom. Aqui no Estado, os debates e principalmente a campanha de segundo turno foram elevados à temperatura máxima, com troca de acusações e de ofensas, judicialização de propagandas eleitorais e ataques pessoais.

O Estado, o país, as famílias, as turmas no colégio, os ambientes de trabalho, os clubes, os times de futebol, as igrejas, os centros de convivência da terceira idade, os grupos de excursões, os amigos de infância, todos, de alguma forma, estão divididos.

A polarização política quebrou as relações, as conversas estão ásperas, a paciência está curta. Além disso, há um clima de temor no ar sobre os dias que estão por vir. Haverá respeito ao resultado das urnas? Haverá aceitação por parte do lado perdedor?

Durante a campanha, nem Lula e nem Bolsonaro conseguiram jogar água na fervura. Em 2018, quando o país também saiu dividido do embate, não foi feito por parte do Presidente nenhum gesto de pacificação e união do país. Pelo contrário.

Como se estivesse em permanente campanha, Bolsonaro esticou a corda, teve embates ferrenhos com a oposição e até com os aliados, ataques às instituições, flertes com o autoritarismo e com atos antidemocráticos. Sendo alçado para um segundo mandato, ele mudaria de postura?

Por outro lado, também não há nenhuma garantia que Lula possa restabelecer a normalidade e a paz no país, embora seja esse o lema de sua campanha. Além da forte oposição que enfrentará no Congresso, ele tem sido acusado pelo adversário de “querer vingança”, por ter sido preso e ter tido sua sucessora retirada da presidência. Ele nega tal intenção.

Fato é que há um clima hostil para qualquer um que vencer e uma probabilidade muito grande do país continuar nessa guerra por mais quatro anos. A questão é: o brasileiro vai suportar mais quatro anos dessa instabilidade política, que acaba refletindo na economia e na piora da qualidade de vida principalmente dos mais pobres? O Brasil não merece isso.

O Brasil quer paz. O Brasil precisa de paz para crescer e se desenvolver, para gerar empregos, atrair investimentos, para recuperar o tempo perdido na educação durante a pandemia, para cuidar dos seus enfermos. O Brasil precisa dispensar menos tempo para as picuinhas de Brasília e prestar mais atenção ao seu povo. Precisa formar novas lideranças, precisa seguir em frente.

E como diz um ensinamento de Jesus Cristo aos seus discípulos – tendo em vista que a Bíblia foi tão usada nesta eleição –: “Todo reino dividido contra si mesmo será derrubado”. O ensinamento descrito no Evangelho de Mateus pode vir a ser uma profecia e se cumprir. Mas também pode servir de orientação para que o futuro governante se conscientize de que reconciliar o Brasil com os brasileiros deve ser a sua principal missão, para assim conseguir dar o salto para o futuro que o país tanto aguarda e tanto adia. Bom voto!