Reaproximação pós-crise: Pazolini aceita convite de Casagrande e marca presença no Palácio Anchieta

Pazolini no Palácio Anchieta / crédito: Hélio Filho

Numa sinalização que os tempos são de paz e que há uma aproximação política sendo costurada, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), compareceu na manhã desta segunda-feira (06) ao Palácio Anchieta para acompanhar a entrada do governo do Estado na Força-Tarefa de Segurança Pública.

É a primeira vez que ele pisa no palácio após ter feito denúncias contra o governador de suposta corrupção em contratos de licitação para obras na capital e ter azedado a relação, que já não era boa, entre ele e Casagrande. A denúncia foi feita em maio e arquivada, pela PGR, em outubro.

Pazolini não só participou do evento, como posou para foto e teve também um momento de fala, onde engrandeceu o trabalho da força-tarefa. “Tenho certeza que essa integração e cooperação serão virtuosas para os capixabas. Muito feliz nessa manhã”, disse Pazolini.

Ele também foi flagrado conversando ao pé de ouvido com o governador, em tom cordial, e o cumprimentando, num abraço meio tímido, porém respeitoso. Parecia estar bastante à vontade na sede do Poder Executivo estadual, com o governador, com a equipe do governador e com outros prefeitos.

A cena chamou a atenção de alguns presentes, principalmente dos que acompanharam os embates políticos, dos últimos anos, entre o governo do Estado e a prefeitura da Capital.

Em maio do ano passado, durante um evento numa escola municipal, Pazolini disse que participou de uma reunião em 2021, “num palácio no centro da cidade, com nome de uma autoridade católica” em que teria sido oferecido, por uma autoridade, investimentos na capital sob a condição de que as obras seriam feitas por uma empresa já determinada. “A licitação já tinha ganhador”, disse Pazolini, à época.

Embora não tenha citado nomes, ficou bastante claro para todo o mercado político que Pazolini estaria se referindo ao Palácio Anchieta e ao governador Renato Casagrande.

No mesmo dia do evento, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) entrou com uma representação no Ministério Público Estadual para que o prefeito dissesse a quem estava se referindo e que apresentasse provas, sob pena de ser processado.

O Ministério Público deu cinco dias para o prefeito dar esclarecimentos. Antes do fim do prazo, porém, Pazolini procurou a Polícia Federal e entregou documentos que supostamente provariam a denúncia.

Por citar autoridade com foro especial (Casagrande), a PF encaminhou os documentos para análise da Procuradoria Geral da República (PGR), que arquivou a denúncia em outubro passado por “ausência de justa causa para a instauração do procedimento investigatório, decorrente da inexistência de elementos de materialidade e autoria”.

A denúncia foi o estopim para uma relação que já não era muito boa desde a época em que Pazolini era deputado. Ele fazia parte do G-8, o grupo da oposição ao governo do Estado, e as divergências com Casagrande acompanharam Pazolini da Assembleia para a prefeitura.

Casagrande e Pazolini se cumprimentam / crédito: Fabi Tostes

Em muitos assuntos referentes ao governo e à prefeitura, a postura foi de embate. Foi um bate-cabeça em questões como as obras na Rodovia das Paneleiras, o aquaviário, o terreno que seria a sede da Polícia Técnico-Científica, o monitoramento das imagens do cerco eletrônico, entre outras coisas.

Dificilmente os dois eram vistos num mesmo evento. Juntos, então, nem pensar! Chegou ao ponto do prefeito não comparecer ao desfile cívico do dia 7 de Setembro, que foi realizado na capital, nem para hastear a bandeira. Mas, ao que tudo indica, os tempos agora são outros.

“Temos um bom diálogo”

Questionado pela coluna De Olho no Poder se a sua presença no Palácio Anchieta seria um sinal de aproximação com o governador, Pazolini respondeu: “Temos dialogado intensamente. Os nossos secretários têm dialogado com os secretários estaduais. Os nossos servidores têm dialogado muito, buscando melhoria de vida para a capital capixaba. É um diálogo de forma muito técnica”, disse o prefeito.

Ele não soube precisar há quanto tempo não pisava no Palácio Anchieta. “Tem bastante tempo”, disse ele, afirmando que nunca chegou a conversar com o governador sobre a questão da denúncia. “Nosso assunto é de políticas públicas, tratar da vida da população, então tudo que tiver de integração e cooperação, Vitória sempre participará, como sempre participou”.

Questionado, então, porque resolveu comparecer à sede do Poder Executivo Estadual agora, Pazolini disse que recebeu o convite e aceitou:

“Nós temos buscado distensionar as relações. De fato, há uma boa vontade, que é recíproca. Eu fui procurado, disse que não haveria problema nenhum, como não há e sempre estive à disposição. O cenário eleitoral terminou, né? Nós estamos focado em administrar bem a cidade”.

Segundo Pazolini, há um “bom diálogo” entre ele e o governador. “Nós passamos por um período de pacificação, temos um bom diálogo. Todas as parcerias que forem boas, nós estaremos juntos”.

“O governo sempre esteve aberto”

Casagrande confirmou que convidou Pazolini para participar da solenidade ontem (06) no Palácio Anchieta: “Eu convido o prefeito para todas as solenidades do governo aqui em Vitória”. Disse também que o governo sempre esteve aberto a Pazolini.

“Da minha parte, sempre o governo esteve aberto, institucionalmente, a dialogar com todos os municípios e instituições. Então, nós não saímos do lugar. Estamos no mesmo lugar em termos de posicionamento e respeito, independente de posições, de entendimento e de visões políticas e administrativas”, disse Casagrande à coluna.

E acrescentou: “É minha tarefa saber respeitar as instituições e meu desejo é sempre trabalhar com todos os municípios”.

Questionado, porém, se havia alguma movimentação para levar o partido de Pazolini (Republicanos) para a base aliada – como já se especula no mercado político –, Casagrande negou. “Não tem essa conversa. Nossa conversa é mais administrativa e institucional”.

O governador disse que não conversou com Pazolini sobre a denúncia que o prefeito fez contra ele e que tem relação institucional com o republicano. “É um processo que tramita na Justiça, vai continuar tramitando, mas isso não impede que a gente tenha as nossas relações institucionais”.

Além de Pazolini, os prefeitos Sergio Vidigal (Serra), Arnaldinho Borgo (Vila Velha), Euclério Sampaio (Cariacica) e Wanderson Bueno (Viana) também participaram do evento. Eles já fazem parte da força-tarefa, com as Guardas Municipais.

 

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