Temer chega a Oslo, em meio a promessa de protestos
Um grupo de 50 brasileiros planeja uma manifestação em uma das principais praças da cidade ainda para esta quinta-feira. Presidente está hospedado em um hotel mais afastado
O presidente Michel Temer desembarcou na Noruega para a última etapa de sua viagem pela Europa na manhã desta quinta-feira, 22. A viagem ocorre em meio a declarações da Polícia Federal de que existem indícios de corrupção envolvendo o presidente e diante de um revés nos debates sobre a reforma trabalhista.
Na base aérea de Oslo, ele foi recebido apenas pelo chefe interino do Cerimonial do governo local, Sigwald Haugr. Além dele, estavam no local o comandante base aérea, assim como o embaixador do Brasil em Oslo, George Prata, e a embaixadora norueguesa em Brasília Aud Wiig. O Itamaraty garantiu que esse é o protocolo para qualquer chefe de estado no país.
Um grupo de cerca de 50 brasileiros ainda planeja para esta quinta-feira uma manifestação contra Temer em uma das principais praças da cidade. O presidente optou por se hospedar em um hotel mais afastado.
Membros do alto escalão do governo norueguês admitiram à reportagem que a viagem estava em uma situação "delicada" e "incerta" até a semana passada. Mas, diante dos interesses de empresas escandinavas no País, a agenda foi mantida.
Com um interesse limitado da imprensa local, a emissora pública da Noruega, a NRK, foi uma das poucas que destaca a viagem. Mas ela publicou nesta quinta-feira uma matéria insistindo nas acusações que sofre Temer e apontando que "os eventos no Brasil vão superar" os esforços do presidente em vender a ideia de estabilidade no País.
Lembrando que menos de 10% da opinião pública o apoia, a emissora também aponta que Temer chama seu "ex-amigo" Joesley Batista de "o criminoso mais perigoso" do Brasil. De acordo com a NRK, a crise no País tem tido um "forte impacto" nas empresas norueguesas.
No único encontro do dia, Temer se reunirá com 17 empresários do país por apenas duas horas. Cada empresa terá dois minutos para se pronunciar. O Estado apurou que muitos deles vão insistir em obter do governo sinais de "consistência" por parte das políticas do governo. "Nossa mensagem é que vamos investir no Brasil e no longo prazo. Mas também precisamos de regras transparentes e consistentes, tanto no lado regulatório como no aspecto fiscal", disse o gerente das operações da Statoil no Brasil, Anders Opedal. Na lista dos convidados está também a Associação dos Armadores Noruegueses, além da Hydro, Aker, Kongsberg Maritime, Knusen e DOF.
O governo pretende insistir na disposição em abrir seu mercado e nas apostas de um acordo comercial entre o Mercosul e a EFTA (bloco formado por Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein). Pela noite, o Palácio do Planalto indica que Temer terá uma "agenda privada".
Na sexta-feira, 23, Temer ainda se reúne com a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg. Mas não há a perspectiva de que acordos sejam assinados. Ele também estará com o presidente do Parlamento, Olemic Thommessen, e almoça com o rei Harald V.O presidente retorna ao Brasil ainda na sexta-feira.
Ambiente
Hoje, o ministro de Meio Ambiente, José Sarney Filho, ainda se reunirá com seu homólogo norueguês, Vidal Helgeser. A Noruega alerta que os cortes no orçamento do Ibama e a crise política que atravessa o País explicam o aprofundamento das taxas de desmatamento na Amazônia. Oslo ainda aponta que o veto Planalto às medidas provisória que reduziam a área de proteção ambiental não é suficiente para tranquilizar os doadores internacionais.
Em entrevista às vésperas da chegada de Temer ao país, Helgeser não hesitou em cobrar. Na semana passada, ele já havia enviado uma carta ao ministro José Sarney Filho criticando a situação ambiental no País. Agora, ele deixa claro que, se a atual tendência continuar, será "obrigado" a anunciar cortes nas doações. A Noruega é o maior doador ao Fundo da Amazônia e já destinou ao Brasil US$ 1,1 bilhão. Mas, para 2017, a liberação de recursos será reexaminada.
"Vimos grandes resultados na última década no Brasil e uma tendência preocupante nos últimos dois anos", disse o norueguês. "Esperamos que possamos ver um retorno a uma tendência positiva. Caso contrário, seremos obrigados a dizer que vamos reduzir o montante de nosso apoio", declarou.