Política

Reforma não pode ser empurrada goela abaixo, diz economista da Rede

Redação Folha Vitória

A proposta de reforma da Previdência é um tema impopular porque o governo não a discutiu com a sociedade, disse nesta sexta-feira, 10, o economista André Lara Resende, responsável pelo capítulo econômico do Programa de Governo da candidata à Presidência, Marina Silva (Rede).

O economista é o convidado da Série Estadão FGV Ibre "Os Economistas das Eleições", em São Paulo. O problema, de acordo com Lara Resende, é que o governo construiu a proposta da Previdência com base num acordo com as forças de apoio ao governo, sem a participação da população.

"Não se faz uma reforma como a da Previdência empurrando-a goela abaixo na população", disse o economista. Para ele, uma reforma previdenciária não pode ser feita de forma a prejudicar os mais pobres. Contudo, Lara Resende não tem ainda uma proposta de reforma previdenciária fechada.

Paralisia da estrutura governamental

Criticando a paralisia da estrutura governamental, o economista André Lara Resende afirmou que a capacidade de o Brasil entregar superávit fiscal passa pela reforma da Previdência e por uma reforma tributária. "Temos de criar urgentemente um superávit fiscal de 1,5% a 2% do PIB. Não é fácil e possível sem a reforma da Previdência e tributária", declarou, durante o debate promovido pelo Grupo Estado em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

A proposta do economista para a Previdência é de uma reestruturação, sem que se seja instituído um regime de capitalização inicialmente. "Não podemos fazer a capitalização pois a transição de modelos gera um custo adicional", comentou.

Alianças

Em sua fala inicial, Lara Resende criticou a atuação de "forças tecnocráticas" em benefício próprio e em detrimento ao crescimento econômico. "Forças patrimonialistas estão inviabilizando o crescimento. O Judiciário e o Supremo estão politizados. Se observarmos o Banco Central com esta lupa, também veremos a atuação de grupos de interesse", declarou. "Não se pode aliar a quem paralisou o País", emendou.

"Estas forças não eleitas, que deveriam funcionar com racionalidade e de forma impermeável à captura corporativista e patrimonialista dos interesses de saquear a sociedade, estão no limite", afirmou o economista da Rede.

Bancos

Um dos temas mais recorrentes do debate econômico entre a população, o spread bancário foi tratado pelo economista. "Os bancos têm razão quando dizem que o spread no Brasil, embora alto, é fruto da alta inadimplência. Como a taxa é muito alta, aqueles que são bons pagadores, pagam muito, enquanto os maus pagadores pega carona", declarou.

Para ele, a rentabilidade dos bancos no País está mais relacionada à concentração e às taxas cobradas dos clientes. "A rentabilidade é altíssima nos bancos, mas não é no crédito, é no sistema de pagamento. Ganham muito em transferências, taxas de serviço, etc. É aí que a concentração faz a rentabilidade ser absurdamente alta", aponta.

Salário mínimo

A política de reajuste do salário mínimo poderá ser alterada em um eventual governo de Marina Silva, candidata ao Palácio do Planalto pela Rede Sustentabilidade, afirmou Lara Resende. "Temos um volume muito grande de gastos do governo atrelados ao salário mínimo. Estas despesas precisarão ser revisitadas", comentou, destacando que a atual política de reajuste do salário mínimo, com recomposição da inflação medida pelo INPC somada à taxa de crescimento real do PIB apurada dois anos antes, gera pressão adicional sobre as contas públicas.

Para ele, a política de reajustes pode ser mais atrelada a ganhos de produtividade. "Faz sentido atrelar o salário mínimo ao desempenho do PIB", afirmou.

Questionado pelo colunista do jornal O Estado de S. Paulo Celso Ming se, em caso de retração da economia, o salário mínimo seria cortado, Lara esclareceu que não. "A correção seria feita por uma média móvel de três a cinco anos, para evitar distorções como essa", disse Lara Resende.

Independência do BC

O economista comentou ser contrário à independência formal do Banco Central. Para ele, faz mais sentido uma independência prática do que independência formal ao BC. "Um BC formalmente independente não resolve nada", disse. "O Banco Central não pode ser um quarto poder. O Banco Central precisa se submeter ao governo."

Mundo globalizado

A despeito da onda protecionista deflagrada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, não haverá um refluxo do comércio internacional nos próximos anos, disse Lara Resende. Ele fez a afirmação em resposta a uma pergunta da plateia sobre se via nas ações do presidente dos EUA uma coisa passageira ou se é algo que veio para ficar. Para Resende, é uma onda que deve passar.

"Não haverá um refluxo da globalização nos próximos anos. Por isso, o Brasil tem que se preparar para continuar em um mundo globalizado", disse o economista.