Política

'Todos os salários de São Paulo estão defasados', diz Márcio França

Ainda desconhecido por mais da metade dos eleitores, o atual governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, trabalha para se expor e conquistar o voto útil em busca de uma vaga no segundo turno. Para isso, arrisca promessas ousadas, como zerar a fila da creche no Estado - com exceção da capital - oferecer 1 milhão de consultas com especialistas e indenizar passageiros de trem em caso de pane. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O sr. diz que fará 650 creches. São as que já foram prometidas pelo governo Geraldo Alckmin e não foram entregues?

Já entregamos 300, temos em obras 300 e outras 66 autorizadas por mim. É um grande avanço, mas tem uma defasagem. Para zerar a demanda, sem contar a capital que é muito grande, precisaríamos de 1.200 creches. A meta é zerar.

Não é difícil de cumprir?

Não acho. Fui prefeito da cidade mais pobre de São Paulo na época, São Vicente, e lá fizemos. Você não pode se conformar com as coisas que estão erradas e achar que não tem dinheiro. Dinheiro é uma questão de decisão política.

Falando em prioridades, é possível dobrar o salário dos professores, como diz Luiz Marinho?

É possível.

Faz a mesma promessa?

Não, mas acho possível. Um professor de São Paulo não pode ganhar menos do que outros professores estaduais do Brasil. Temos o maior orçamento. É questão de priorizar.

Vale para o policial militar?

Vale. Todos os salários de São Paulo estão defasados no mínimo, pela inflação, nesses últimos três anos, quando não conseguimos fazer nenhum tipo de realinhamento salarial. Agora, isso foi errado? Naquele momento ali atrás se tivéssemos dado os reajustes teríamos conseguido pagar todo mundo em dia como pagamos? Muitos Estados deram reajustes e atrasaram salários, décimo terceiro. Mas São Paulo vai voltar a crescer.

O sr. promete zerar a demanda por consultas e exames no Estado abrindo os AMEs (ambulatórios) aos fins de semana por seis meses. Por que esperar?

Não posso fazer isso agora por causa da legislação eleitoral, já que essa proposta vai gerar custos e está no meu programa de campanha. Outro impedimento é o orçamentário. Abrir os AMEs vai custar R$ 125 milhões, valor que precisa constar no orçamento. Para fazer isso agora teria de tirar de algum lugar.

Propõe indenizar usuários de trem em caso de pane completa. A proposta não deveria ser acabar com as panes?

É claro que o que temos de fazer é impedir o roubo de fios que provocam panes completas. Já determinei um envelopamento de ponta a ponta em todas as linha de trens. Não é caro, não é uma obra gigante. Mas e até lá? Enquanto isso, o passageiro largado no meio do caminho será indenizado. Nestes casos, de paralisação completa, o usuário vai ao caixa pegar cinco passagens, equivalente a R$ 20.

Também propôs a separação orçamentária das polícias militar e civil. Qual a vantagem disso? Elas não devem ser integradas?

Criou-se um mantra de que isso vai dificultar a integração entre elas. Na minha visão não. A vocação do policial civil é investigativa, não tem nada a ver com a vocação do policial militar, que é ostensiva, fardada. Para a população pouco importa isso, mas para a administração não.

E como melhorar a segurança?

Tecnologia, câmeras integradas às prefeituras, policial estimulado e bem remunerado e, finalmente e evidente, tratar da origem do problema, o que não estamos fazendo no Brasil. Há 20 anos atrás tínhamos 40 mil presos, estamos com 230 mil presos. Não é possível que as pessoas não percebam que a essa fórmula não dá bom resultado. Cada rapaz na Fundação Casa custa hoje R$ 11,5 mil por mês e tem 8 mil internados.

Mas o discurso de prender é o que mais faz sucesso hoje...

Fazer o quê? Eu confio no discernimento de São Paulo.

O cenário incerto nacional e o fenômeno Bolsonaro anteciparam a estratégia do voto útil. Acha que o mesmo vale para o Estado?

Sim. Vamos supor que eu não goste do PT e peguei antipatia pelo João Doria. Olho a pesquisa e vejo Skaf, que conheço o nome dele. Mas esse não é um voto consolidado, é o chamado voto passageiro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.