Tragédia em Mariana foi 'sinal que serve para todas as mineradoras', diz Hartung
Em entrevista ao site de VEJA, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirmou que o rompimento da barragem eliminou os poucos sinais vitais ainda presentes no Rio Doce
No último sábado (05), completou-se um ano do preocupante rompimento da barragem da Samarco, em Mariana-MG. Quando a lama chegou ao rio Gualaxo do Norte, a preocupação foi ainda maior, pois sabia-se que os rejeitos de minério não deixariam destruição apenas em Minas Gerais. O Espírito Santo também foi atingido por grandes prejuízos oriundos da tragédia.
Em entrevista ao site da revista VEJA, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirmou que o rompimento da barragem eliminou os poucos sinais vitais ainda presentes no Rio Doce, ressaltando que "o rio já estava muito mal antes do desastre".
Questionado pela revista sobre o tempo de reação da denúncia do Ministério Público, em 20 de outubro, em que 22 duas pessoas e quatro empresas foram responsabilizadas pelo rompimento da barragem, Hartung disse que não discute atuação da Justiça, mas afirmou que o governo do Espírito Santo agiu com rapidez para minimizar impactos da tragédia. Ele destacou que foram mantidas conversas com Minas Gerais e governo federal, para procurar um caminho que levasse ao ressarcimento dos danos socioambientais e socioeconômicos.
O governador disse ainda que preferiu a assinatura de termo de compromisso e evitar a judicialização para assegurar o ressarcimento. Isso porque, segundo ele, há um histórico de demora nos resultados, e passar 30 ou 40 anos discutindo essa questão seria inviável.
Confrontado com o fato de o Espírito Santo ter sido o primeiro a entrar com ação na Justiça contra a Samarco, Paulo Hartung disse que "num primeiro momento, a empresa fez corpo mole diante da tragédia e entramos na Justiça, junto com o governo federal e o de Minas Gerais". Para ele, isso trouxe controladoras para a mesa de negociação, sendo assim, puderam discutir um termo de compromisso para enfrentar os efeitos da tragédia.
Hartung comentou sobre o questionamento da Justiça a respeito de a população não ter sido ouvida para o termo de compromisso. "Algumas pessoas falaram com pouco conhecimento profundo sobre o documento produzido. É um documento de qualidade. A própria fundação Renova [responsável pela gestão dos programas socioambientais na região tem um conselho com a participação da população. Os prefeitos participaram de todo o processo".
O governador citou que as famílias afetadas pela tragédia estão recebendo dinheiro da Samarco, porém, ele ressalta que a ideia é desenvolver bases econômicas de uma nova fonte de renda, sustentável, para a região do Vale do Rio Doce. "Precisamos ter a maturidade intelectual de reconhecer que o Rio Doce ia muito mal antes do desastre, que acabou por destruir o tênue equilíbrio ecológico que o sustentava. Precisamos recuperar o Rio Doce... Esse desastre triste e lamentável chamou a atenção para a situação do Rio Doce e dos recursos hídricos do país", disse.
Questionado sobre não haver nenhuma política pública para ajudar essas pessoas, Paulo Hartung avalia que quem deve fazer o ressarcimento é o responsável pelo desastre, na visão dele a Samarco. Porém, o governador explica que é a favor de que a empresa volte a operar nos estados atingidos, desde que cumpra com as obrigações ambientais, como qualquer outra mineradora.
"Ela é importante para o Brasil? É. É importante pra Minas Gerais? Sim. Para o Espírito Santo? É. Mas só será importante para o Brasil, para Minas Gerais e para o Espírito Santo se cumprir a legislação ambiental. Se ela se enquadrar nas normas ambientais. E ainda torço para que a mineração no mundo reflita sobre esse acontecimento trágico de fundão. São processos que precisam ser aperfeiçoados. Torcemos para que isso sirva de reflexão... Que o desastre sirva para as empresas como um elemento que eles possam aperfeiçoar os processos dele. Tem um sinal que serve para todas as mineradoras do planeta", sugere.
Paulo Hartung ainda se disse satisfeito com a atuação do governo federal na ocasião da tragédia e definiu como precisa a ação da ex-ministra do Meio Ambiente.
Sobre o novo governo, Hartung comentou que espera que todos cumpram com a sua parte. "O que nós precisamos é continuar agindo com os governos, discutindo com a sociedade, com as prefeituras, com o poder local no Vale do Rio Doce e com as diversas representações da sociedade civil discutindo e agindo. Espero que a Renova evolua com seu trabalho também. Ela tem volume de recursos importantes disponível que precisa ser alocado para recuperar o Rio Doce. Recuperar o rio é possível seguindo esse roteiro que desenhamos a muitas mãos".
O governador lembrou que o Espírito Santo vive um regime de chuvas irregular desde dezembro de 2014 e o rompimento da barragem "destruiu o tênue equilíbrio ambiental que o Rio Doce estava vivendo e o desastre teve impacto brutal". Hartung afirma que está apreensivo com as chuvas previstas para esse período, uma vez que podem agravar a situação.
Questionado sobre o que tem feito para que a lama não atinja o litoral do ES novamente, Hartung ressalta que não sabe o tamanho do problema que pode enfrentar, mas precisa estar junto com a Defesa Civil, com estrutura montada. "Estamos numa contingência, mas com preocupação", finaliza.
As informações são do site de VEJA.