Cinco já foram indiciados por mortes em procedimentos estéticos no Rio
No mês de julho, foram registradas mortes de três pacientes
Pelo menos quatro mulheres morreram por complicações em procedimentos estéticos no Rio de Janeiro, sendo três delas no mês de julho. As mortes estão sendo investigadas pela polícia e resultaram no indiciamento de cinco pessoas, sendo três médicos e duas mulheres que participavam dos procedimentos cirúrgicos, mas não tinham qualquer formação profissional. Os casos acendem o sinal para os cuidados na hora de buscar este tipo de procedimento e a qual profissional recorrer.
No Brasil, a procura por tratamento estéticos e cirurgias plásticas é grande. No ranking mundial, ficamos atrás somente dos Estados Unidos. No ano passado, foram realizadas 1,5 milhão de cirurgias plásticas no país, sendo 60% estéticas e 40% reparadoras, conforme dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC). Do total de pacientes, 80% são mulheres e 20% são homens. As cirurgias mais procuradas são implantes mamários de silicone (mulheres), lipoaspiração (homens e mulheres) e na face (homens e mulheres).
Segundo os especialistas, o mês de julho é um dos mais buscados pelos pacientes – nesse período as cirurgias aumentam em 50% no país - por causa das férias escolares e da temperatura mais amena para o pós-operatório por conta do inverno. E o estado do Rio, junto com São Paulo, são os maiores polos de cirurgias plásticas no país.
Riscos
Na busca por um corpo ideal, muitos pacientes acabam não avaliando os riscos de cada procedimento e se o profissional é habilitado. “No Rio de Janeiro, tem muita gente tentando fazer estética sem estar com a formação habilitada adequadamente. E como a gente tem essa procura muito grande, as pessoas acabam se submetendo a um risco desnecessário”, alerta o presidente da SBPC regional Rio de Janeiro, André Maranhão.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Nelson Nahon, destaca que o exercício ilegal da medicina por não médicos deve ser denunciado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à polícia.
Nelson Nahon esclarece que, do ponto de vista legal, qualquer médico pode assumir o que vai fazer, mas ressaltou que o ideal é que seja qualificado. “Ninguém vai colocar um ‘stent’ [pequeno dispositivo expansível de forma tubular que objetiva evitar o entupimento das artérias] no coração se não for com um cardiologista. O mesmo ocorre em relação a procedimentos invasivos que devem ser feitos por cirurgiões plásticos”.
É o caso do médico Denis César Barros Furtado, de 45 anos, preso em um centro empresarial na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, por causa da morte da bancária Lílian Calixto. Ela morreu horas depois de ter passado por uma bioplastia – aumento dos glúteos – no apartamento do médico. Ele não tinha especialização em cirurgia plástica. Conhecido como Dr. Bumbum, Denis Furtado vai responder pelos crimes de homicídio doloso duplamente qualificado e associação criminosa.
Cerca de 6,3 mil profissionais estão credenciados pela SBCP em todo o país. A entidade alerta que cirurgia plástica só deve ser feita em ambiente hospitalar.
Ministério Público
Cinco pessoas foram indiciadas pela polícia pelas mortes. Procurado pela Agência Brasil, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que, no momento, nenhuma ação foi movida sobre esses casos.
Conheça os casos
- O primeiro caso de grande repercussão foi da bancária Lilían Calixto, 46 anos. Ela morreu horas depois de ter sido submetida a um procedimento estético no apartamento de Denis César Barros Furtado, de 45 anos. O médico foi preso em um centro empresarial na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, junto com a mãe, Maria de Fátima Furtado (médica que teve o registro cassado em 2015), que ajudava o filho nos procedimentos estéticos. Conhecido como Dr. Bumbum, Denis Furtado chegou a ficar foragido. Foi presa também a namorada de Denis, Renata Cirne, solta na última terça-feira (7) por decisão liminar. Eles vão responder pelos crimes de homicídio doloso duplamente qualificado e associação criminosa. Se for condenado, o médico poderá pegar até 36 anos de prisão.
- A professora Adriana Ferreira, de 41 anos, morreu, no dia 23 de julho, uma semana depois de passar por uma lipoescultura, feita pela médica Geysa Leal Corrêa. O consultório dela foi interditado pela polícia em Niterói, região metropolitana do Rio, para perícia técnica. Segundo o marido de Adriana, ela teria passado mal e reclamado de falta de ar. Foi levada para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde chegou sem vida. Adriana era professora no município de Paracambi e mãe de dois filhos.
- A modelo Mayara Silva dos Santos, de 24 anos, morreu, no dia 20 de julho, horas após uma cirurgia para preenchimento dos glúteos com silicone. O procedimento foi feito em uma clínica na Barra da Tijuca. Ela sofreu uma parada cardiorrespiratória. No último dia 25, a massoterapeuta Patricia Silva dos Santos, chamada de Paty Bumbum, foi presa por envolvimento na morte da modelo. Sem formação profissional, Paty Bumbum aplicava silicone industrial, com seringas de uso veterinário, nas pacientes. Ela foi detida em casa, no bairro de Curicica, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. No local, foi encontrado silicone industrial, seringas e equipamentos que seriam utilizados nos procedimentos. Paty Bumbum foi transferida na tarde de segunda-feira (6) para o presídio de Benfica.
- Mariana Batista de Miranda foi presa, na manhã do dia 30 de julho, acusada pela morte de Fátima Santos de Oliveira em decorrência da aplicação de silicone industrial nas nádegas, no dia 16 de março de 2018. Fátima morreu um mês após o procedimento. Mariana foi detida em casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense. O laudo de necropsia confirmou que o procedimento estético foi a causa da morte e que a paciente morreu de choque séptico. Segundo as investigações, ela exerceu a profissão de médica ilegalmente e também prescreveu medicações à vítima após tomar ciência das complicações provocadas pelo procedimento. As investigações mostraram que Mariana tem uma carteira de técnica de enfermagem, com validade até 30 de novembro deste ano. Ela foi denunciada por homicídio doloso e exercício ilegal da profissão.
Denúncia
As denúncias podem ser feitas ao Disque-Denúncia, por meio do telefone (21) 2253-1177.