Saúde

Uma em cada cinco crianças tem problemas de saúde mental, diz psicóloga capixaba

Em 2016, uma escritora disse que foi 'a pior mãe do mundo' por um dia, depois de jogar o sorvete dos filhos fora por não agradecerem ao atendente. Mas qual a relação entre esses assuntos?

Thamiris Guidoni

Redação Folha Vitória

Você se recorda do caso de uma mãe que jogou o sorvete dos filhos fora para que aprendessem a respeitar as pessoas? Ela chegou a dizer, em um post nas redes sociais, que foi por um dia "a pior mãe do mundo”. Na época em que foi publicada, a mensagem da escritora americana Primak Sullivan viralizou nas redes sociais e muitas pessoas elogiaram a atitude.

Quem tem filhos ou precisa lidar com crianças e adolescentes, sabe como é difícil criá-los. Pensando em dar uma 'luz' para os que estão 'perdidos' ou não sabem como impor limites aos pequenos, o jornal online Folha Vitória conversou com a psicóloga capixaba Mariana Grassi Maciel Garcia, que falou sobre pontos importantes.

Jaime chegou a dizer que foi a 'pior mãe do mundo' por um dia

Sobre o caso da escritora, Mariana acredita que é preciso cautela em alguns casos. "Acredito que não cabe julgar a mãe por uma atitude sem conhecer todo o seu histórico, mas ela poderia repreender as crianças na frente do funcionário pedindo que a agradecesse por ter levado o sorvete. Jogar os sorvetes fora na frente de todos pode ser um limite imposto de forma equivocada, pois as crianças podem interpretar como humilhação e criar uma crença de desamor a partir desse episódio. Acho mais válido fazer uma psicoeducação, ou seja, mostrar o valor do próximo no momento do acontecimento", ressaltou. 

Veja o relato da mãe na íntegra aqui!

Além disso, a psicóloga fez pontuações importantes. Uma delas é o aumento do desenvolvimento de doenças mentais na infância e a responsabilidade dos pais. 

Veja alguns dados:

Qual é a relação entre doenças mentais e a responsabilidade dos pais?

As estatísticas retiradas de pesquisas realizadas durante os últimos 15 anos são alarmantes, de acordo com a profissional. 

-> 1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental;

-> um aumento de 43% no Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) foi observado;

-> um aumento de 37% na depressão adolescente também foi observado;

-> um aumento de 200% na taxa de suicídio foi observado em crianças de 10 a 14 anos.

Pais desesperados em saber como educar os filhos da melhor maneira para evitar tragédias buscam ajuda psicológica com frequência. De acordo com Mariana, as perguntas recorrentes são: o que fazer para que meu filho se interesse pelos estudos? Como impor limites sem ser rígido ou ultrapassado? Meu filho tem tudo, mas está deprimido e chegou a praticar automutilação, como posso intervir para ajudá-lo?

"É claro que a culpa não é dos pais, pois na maioria das vezes, os erros de criação ocorrem por falta de informação ou mesmo por todo “atropelamento” que a vida moderna impõe às famílias. Mas algo importante é preciso ser dito: os pais precisam impor limites claramente definidos; dar responsabilidades; evitar a proteção excessiva contra qualquer frustração ou erro, pois errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida", disse. 

Regras e limites são de extrema importância. "Todos passam por situações nas quais têm que lidar com limites ou regras. O limite na infância tem função estrutural importante na constituição psíquica dos sujeitos, estando intimamente relacionado com o desenvolvimento de aspectos como a capacidade empática, internalização e obediência a regras morais e sociais, capacidade de atrasar gratificação, de lidar com a frustração e de autorregulação do comportamento", ressaltou a psicóloga. 

E como todo mundo sabe, o ser humano é diferente um do outro. "As pessoas possuem diferentes temperamentos e não respondem de forma única. Toda a intervenção deve ser pensada dentro de um contexto, levando em consideração as necessidades da criança e da família."

>> Como os pais podem começar a impor limites aos filhos de maneira positiva?

-> Diálogo: esteja disponível para ouvir seus filhos e conectar-se ao universo deles;

-> Comunique-se com facilidade, evitando indiretas, sendo cordial e verdadeiro;

-> Deem exemplos de bondade e assertividade. Evite discussões na frente das crianças e adolescentes;

-> Cuidado com as palavras, pois elas têm poder. Algo dito não volta atrás. Verifique o seu nível de irritação antes de proferir qualquer palavra. As crianças e adolescentes tendem a internalizar emoções de forma interpretativa, gerando culpa, medo, podendo desenvolver crenças de desamor e rejeição;

-> Procure evitar rotulações do tipo: meu filho é tímido, minha filha é gorda, assim como rotulações extremamente positivas que podem gerar ansiedade, como: minha filha é a mais inteligente da turma, pois assim a criança pode deprimir-se quando não conseguir alcançar esse padrão de comportamento;

-> Organize a rotina: ter um planejamento com horários para estudo, lazer e obrigações com a organização da casa faz com que seus filhos adquiram responsabilidades sobre a própria vida.

-> Um dia, os filhos terão que "andar com as próprias pernas". Infelizmente, os pais não estarão presentes durante toda a vida dos filhos e o que vai ficar é a capacidade que os filhos terão de reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva. 'Dar tudo a um filho' não deve significar apenas bens materiais e sim educação e conexão emocional. Por fim, busque a qualidade de tempo com seus filhos: sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque e sonhe junto com eles".

Pesquisa sobre estado emocional das crianças, por Luís Rajos Marcos, médico psiquiatra

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