(Foto: Reprodução/Instagram)
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Nos últimos dias, repercutiu em todo o mundo a morte de um influenciador fitness russo, de 30 anos, após iniciar um desafio alimentar extremo divulgado nas redes sociais. A proposta era consumir cerca de 10 mil calorias por dia, um valor muito acima do recomendado para qualquer adulto, com o objetivo de ganhar peso rapidamente para depois emagrecer e demonstrar sua capacidade de transformação física.

Segundo informações divulgadas pela imprensa, o influenciador pretendia ganhar aproximadamente 25 quilos antes de iniciar a fase de emagrecimento. Em menos de um mês, ele já havia ganhado cerca de 13 quilos, passando de aproximadamente 92 kg para 105 kg. Em seus próprios vídeos, relatava refeições compostas por grandes quantidades de doces, salgadinhos, fast food e pizzas ao longo do dia. Pouco antes de falecer, mencionou sentir mal-estar frequente e cogitava procurar atendimento médico.

Um ponto de partida que não representa a maioria

É fundamental destacar que esse influenciador não partia da mesma realidade de pessoas com sobrepeso ou obesidade crônica. Ele já possuía um corpo atlético, condicionado e com histórico de treino regular. Isso muda completamente a forma como o organismo responde a variações de peso e ingestão alimentar.

Indivíduos que convivem com obesidade por longos períodos apresentam alterações comportamentais, mudanças em circuitos cerebrais relacionados à fome e à saciedade, além de fatores genéticos e ambientais que influenciam diretamente o ganho e a manutenção do peso corporal. Por isso, comparar esse tipo de desafio com a jornada de quem vive essa condição é inadequado e injusto. Não se trata de falta de força de vontade, mas de uma fisiologia diferente.

Os riscos do excesso calórico em curto prazo

Mesmo por poucos dias, o consumo exagerado de calorias pode gerar impactos importantes no organismo. Uma ingestão diária de 10 mil calorias, especialmente quando baseada em alimentos ultraprocessados ricos em açúcar, sódio e gorduras, pode provocar:

  • Sobrecarga hepática, com aumento das enzimas do fígado
  • Sobrecarga renal
  • Elevação abrupta da glicemia e da insulina
  • Aumento de triglicerídeos e outros lipídios circulantes
  • Elevação de marcadores inflamatórios
  • Piora da função endotelial nas horas seguintes às refeições, aumentando o risco cardiovascular

Além disso, esse padrão alimentar é extremamente pobre em micronutrientes, fitoquímicos e antioxidantes, o que compromete ainda mais a capacidade do organismo de lidar com o estresse metabólico gerado pelo excesso.

Ciclos rápidos de ganho e perda de peso não são inofensivos

Outro ponto importante é a chamada variabilidade de peso corporal. Estudos mostram que ganhar e perder peso repetidamente, especialmente em intervalos curtos, está associado a maior risco de mortalidade geral, mortalidade cardiovascular, hipertensão e pior prognóstico metabólico, independentemente do índice de massa corporal.

Mesmo quando há uma fase posterior de restrição calórica, parte dos danos causados por períodos de excesso extremo não é completamente revertida. O organismo não funciona como um sistema que simplesmente apaga os efeitos de escolhas anteriores.

O alerta que fica: alimentação precisa de acompanhamento

Embora não seja possível determinar a causa exata da morte, é provável que existisse alguma condição prévia associada ao impacto dessa rotina alimentar extrema. O caso serve como um alerta importante sobre os riscos de mudanças drásticas na alimentação sem orientação adequada.

A alimentação influencia diretamente o funcionamento do fígado, dos rins, do sistema cardiovascular, do metabolismo e até do cérebro. Por isso, qualquer estratégia que envolva ganho ou perda de peso deve ser planejada de forma individualizada e acompanhada por um profissional qualificado.

O acompanhamento nutricional permite avaliar necessidades específicas, prevenir deficiências, reduzir riscos metabólicos e promover mudanças sustentáveis, sem expor o organismo a extremos desnecessários.

A verdadeira construção de saúde não acontece em desafios virais ou estratégias radicais. Ela acontece na constância, no equilíbrio e em escolhas alimentares orientadas, seguras e possíveis de serem mantidas ao longo do tempo.

Bruna Tommasi

Colunista

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio

Nutricionista graduada pela Universidade Vila Velha e pós-graduanda em Nutrição Esportiva e Estética. É apaixonada por promover saúde de forma prática, combinando ciência e estilo de vida para ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos com equilíbrio