A importância dos mosquitos para a saúde pública

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Há 4 anos, comprei um quebra-cabeça para meu filho mais velho, o Antonio, na época com 2 aninhos e meio. Chamou-me a atenção o tema do brinquedo, o maravilhoso mundo dos insetos.

Os insetos conquistaram, com muita eficiência, diversos ambientes. Na Terra, estão há muito tempo, sendo encontrados registros deles de épocas remotas. Pertencem ao Reino Animalia, Filo Arthropoda, juntamente com aracnídeos e crustáceos. Nossos amigos caranguejos e aranhas compartilham o mesmo Filo (grupo taxonômico) dos insetos, podem acreditar. Os insetos possuem corpo dividido em cabeça, tórax e abdome, e são hexápodes, ou seja, 3 pares de pernas. Além disso, possuem capacidade para o voo, são organismos pequenos, metamorfoseiam-se e se protegem com uma carapaça de quitina trocada periodicamente, o exoesqueleto, que evita, também, a perda de água, recurso muito valioso para os que se aventuram no ambiente terrestre. Insetos nos ajudam com a polinização, sem as abelhas não teríamos mel e café; são usados na criminologia- entomologia forense- e na pesquisa científica.

Abelhas, cupins, formigas, percevejos, besouros e moscas, carrapatos não! Borboletas, piolhos, joaninhas, gafanhotos, grilos, baratas e moscas, aranhas não! E os mosquitos? Insetos, absolutamente! E vamos a eles, um dos maiores predadores da humanidade, os famosos, perturbadores e impactantes em nossas vidas, os mosquitos. No 10.º andar do condomínio- transportado por algum objeto ou veículo (elevador)-, na sala de estar, na padaria, no salão de jogos, na banca de figurinhas, em lojas do shopping center, pernas, braços e pés, lá estão eles, com voos rasantes, zumbidos irritantes e alvos irritantemente certeiros.

O mosquito é um caso de saúde pública. Corpo dividido em três partes (tagmas), seis pernas, capacidade para o voo (dípteros-duas asas funcionais). Os mosquitos que chamamos de pernilongo pertencem à Família Culicidae, sendo a maioria hematófaga (fêmeas), ou seja, alimentam-se de sangue. Antes da fase adulta, vivem como larvas em meios aquáticos, essenciais para a postura dos ovos. Entre as doenças transmitidas pelos mosquitos estão febre amarela, dengue, Zika, febre Chikungunya, filariose e a malária.

O mosquito Aedes aegypti, muito famoso aqui no Brasil, chegou no Período Colonial (séc. XVI até início séc. XIX). Seus ovos viajaram em navios negreiros, resistindo por meses até eclodirem em contato com a água. O Aedes aegypti (fêmea) pica logo de manhã ou a tardezinha e suga o sangue quando pousa. Participou ativamente da epidemia de febre amarela no Brasil, início do século XX, veementemente combatida pelo sanitarista Oswaldo Cruz e, atualmente, é um risco eminente para a saúde das pessoas como transmissor dos sorotipos do vírus da dengue, do vírus da febre amarela (urbana), do Zika vírus e do vírus Chikungunya. É um personagem resiliente e com muita flexibilidade para se adaptar às diversas condições físicas, químicas e climáticas no país. Divide com sucesso o espaço urbano com o ser humano, adaptado à nossa generosidade em lhes oferecer inúmeros benefícios, como temperaturas médias e elevadas em boa parte do ano, água em abundância em recipientes multivariados, coloridos e a precariedade do saneamento básico em várias regiões do país.

Como podemos, então, nos prevenir com mais eficiência e resolutividade às doenças transmitidas por mosquitos, principalmente pelo Aedes aegypti?

Os mosquitos são animais sinantrópicos, ou seja, adaptam-se muito bem ao nosso estilo de vida. Devemos evitar água parada e sempre que possível esvaziar e escovar as paredes internas de recipientes que acumulam água. Não despejar lixo em valas, margens de córregos e riachos, mantendo-os desobstruídos. Devemos guardar os pneus em locais protegidos das chuvas. Além disso, latas e garrafas guardadas e emborcadas (de boca para baixo) para não acumularem água. Devemos diminuir/controlar a propagação dos mosquitos, interrompendo, de certa forma, o ciclo de vida deles.

Ademais, melhorar nossas ações no ambiente, produzindo menos resíduos e descartando-os de forma correta e adequada. Onde se encontram resíduos espalhados (lixo), temos pragas por perto, como baratas, ratos e mosquitos. Outra questão relevante gira em torno do saneamento básico, já discutido em publicação passada. Temos de pensar em meios saneados, com coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de espaços e territórios com água tratada, acondicionamento adequado e transporte dos resíduos e o controle de pragas.

Mosquitos, devemos temê-los, portanto? Minha resposta é sim, pelos impactos negativos na saúde pública e na qualidade de vida das pessoas.

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco