Animais sinantrópicos: quem são e quais os riscos

Foto de Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho
Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

A cidade e seus monumentos, movimentos e (des)construções permitem uma série de relações (ecológicas) entre os seres vivos, cada grupo ou população tenta e busca, à sua maneira, mecanismos e ferramentas para sobreviver. Produzimos, consumimos e descartamos.
Animais sinantrópicos são aqueles que se adaptaram a viver nas cidades junto ao homem e independente da manifestação da vontade dele. Não são os animais domésticos, criados e cuidados para diversas finalidades, como companhia (cães, gatos e pássaros), produção de alimentos ou transporte (galinha, boi, cavalo, porcos) dentre outros. Quem são, portanto, os animais sinantrópicos? São as aranhas, carrapatos, escorpiões, mosquitos, ratos, barbeiro entre tantos outros. E nesse rol, chamam atenção os animais que podem causar danos e agravos à saúde da população como vetores/transmissores de agentes causadores de doenças. Destaco nesta coluna os mosquitos e os ratos. Os mosquitos deixarei para uma outra coluna, alçarei como protagonistas os ratos.
Como todo ser vivo, os animais sinantrópicos necessitam de alguns fatores para sobreviver: água, alimento, acesso e abrigo. Em um país tropical, água não é um fator limitante no meio, mas abrigo e alimento se tornam mais ou menos vantajosos a esses animais a depender das nossas condutas e atividades na cidade.
Contarei uma breve história a vocês. Todos os dias, pratico atividades físicas na orla de Camburi, que começam às 5h. Os esportistas da madrugada já são conhecidos. Corredores e andarilhos, pessoas de bike, canoas e caiaques lançados ao mar. Curiosamente e de modo furtivo, uma ratazana compõe o cenário. Cordialidade espantosa. Nome de batismo científico Ratus norvegicus. Nos movimentos de aquecimento e alongamento, a ratazana volta para sua toca, uma fresta em um muro de contenção. Nada de bom dia! Nada de acenos! Complacência e respeito mútuos. Ela não atrapalha minhas atividades e eu não interfiro no seu retiro depois de tantas voltas, saltos, equilíbrios em fios e meios fios e banquetes sortidos pela praia, como lixo orgânico inadequadamente disposto ou tratado. Cardápio variado! Dentes incisivos proeminentes raspados, gastos e prontos para uma nova e animalesca aventura. O lixo doméstico é seu point preferido. Alimentos ainda não estragados escolhidos pelo olfato e paladar apurados, refinados; são considerados onívoros.
Esses roedores adaptaram-se muito bem às condições oferecidas/ofertadas pelo nosso meio, pela dinâmica da cidade e pela convivência próxima ao homem. São considerados, portanto, animais sinantrópicos. Saem à noite a procura de alimentos ainda não estragados e gostam de roer materiais diversos para controlar os proeminentes dentes incisivos. Se não bastassem essas diversas ações, atitudes e características, temos impactos relevantes na saúde pública relacionados às doenças, como Leptospirose- doença conhecida no Espírito Santo, principalmente em épocas de chuva intensa, causada pela bactéria Leptospira interrogans, que se aloja nos rins dos roedores, são hidrofílicas (gosto pela água) e saem pela urina dos roedores; Peste Bubônica, conhecida como Peste Negra, é causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida pela pulga que infesta os roedores. É bastante rara e já causou a morte de 30% da população na Europa na Idade Média e as salmoneloses, causadas pela bactéria Salmonella entérica e transmitida por meio de água ou alimentos contaminados pelos ratos. Afeta mais crianças e idosos. É uma enfermidade altamente contagiosa. Além disso, são frequentes ainda os acidentes causados pela mordedura desses animais.
O que devemos fazer, então? Adotar medidas preventivas, como acondicionar corretamente o lixo dentro de sacos plásticos, em latas com tampas apropriadamente fechadas e limpas periodicamente, de preferência sobre estrado, para que não fiquem diretamente em contato com o solo; dispor o lixo na rua somente na hora que o coletor passa para recolher, não jogar lixo a céu aberto ou em terrenos baldios; evitar o acúmulo de entulho ou materiais inservíveis que possam constituir abrigo aos ratos; manter terrenos baldios limpos e murados para dificultar a acessibilidade desses roedores.
É imprescindível que a população se aproprie de conhecimentos para adotar as melhores medidas relacionadas ao seu meio, ao seu entorno, à sua cidade, para que danos e agravos à saúde não sejam tão impactantes e indesejáveis.

Foto de Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco