Bactérias alojadas na boca podem matar?

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Dra. Martha Salim

Diversas bactérias vivem na nossa boca, que são importantes e participam do início do processo de digestão dos alimentos, mas quando alcançam a corrente sanguínea, podem causar infecções, principalmente se estivermos vulneráveis. E se essas infecções não forem corretamente tratadas, uma infecção no dente ou na gengiva pode virar um problema mais grave, se espalhar para outros órgãos, como pulmão, coração e cérebro e até mesmo levar à morte.
Podemos observar ao longo dos anos alguns relatos e reportagens que mostram pessoais publicas ou da população geral que morreram em decorrência de infecção dentária.

Esses relatos geram uma discussão frequente sobre o tema: bactérias alojadas na boca podem matar? E a reposta é SIM!

Bactérias originas da cavidade bucal podem atingir a corrente circulatória através de processos infecciosos originados dos dentes, gengivas ou em procedimentos cirúrgicos.

Qualquer foco infeccioso localizado na cavidade bucal pode disseminar as bactérias para o sangue e atingir órgãos vitais como cérebro ou coração.

Algumas doenças que comprometam a saúde das pessoas, como diabetes, que tenham imunidade reduzida por causa de doenças e até mesmo o estresse exagerado podem predispor a progressão as infecções odontológicas e esta se tornar generalizada. Além disso, pessoas que possuem as defesas naturais do organismo mais frágeis, como crianças pequenas e idosos, estão mais propensas a sofrerem consequências graves de infecções

Além disso, uma infecção na boca pode, em algumas condições, ser silenciosa. Isso ocorre principalmente quando fazemos algum tratamento que acaba com a dor, mas não elimina o foco infeccioso – ou seja, as bactérias.

As bactérias bucais podem se disseminar na corrente circulatória e se alojar no coração, principalmente em pacientes com doenças cardiológicas importantes. Essa é quadro grave chamado endocardite infecciosa e nos dias atuais ainda causa alto índice de mortalidade.

A AHA (American Heart Association ou associação americana de cardiologia) publica periodicamente a relação dos casos que são mais susceptíveis a essa infecção e nos quais é recomenda o uso prévio de antibióticos como forma preventiva antes de procedimentos cirúrgicos, principalmente odontológicos. Entretanto, em sua última atualização no ano de 2021, foi ressaltado a importância da manutenção de uma boa saúde bucal e que os cuidados odontológicos regulares são tão importantes para prevenir casos de endocardite infecciosa quanto o uso preventivo de antibióticos em um procedimento odontológico.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a ida ao dentista ao menos uma vez por ano. Nas consultas, o dentista deve fazer higienização dos dentes, verificar se há fratura, cárie e inflamação ou focos de infecção na boca. Além disso, exames radiográficos odontológicos devem ser realizados em caso de maiores suspeitas.

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Dra. Martha Salim

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP); Mestrado em Patologia Bucodental (UFF); Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ); Capacitação em Odontologia Do Sono; Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso; Graduação em Odontologia (UFES); Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS). Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim