Carrapato estrela: o que ele pode causar e quais os riscos para a saúde

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Recentemente, tive o privilégio de ministrar algumas aulas sobre o intercâmbio entre saúde humana, saúde animal e ecossistemas. O conceito que abraça as três vertentes disciplinares intitula-se Saúde Única (One Health). O que vemos e presenciamos hoje são “invasões” que desequilibram, desestruturam ou quebram a harmonia existente entre os humanos, os animais e os meios naturais envolvidos, trazendo impactos negativos-até muito agressivos- para a qualidade de vida das pessoas e, também, para o sistema de saúde.

Muitos animais estão bem adaptados às condições da cidade, das ruas e bairros, com alimentos diversos compondo cardápios variados, água em excesso, da chuva ou parada e o aconchego de abrigos e lares, pequenos, médios ou grandes. Fatores demasiado atrativos para pombos, mosquitos, baratas, roedores, morcegos, formigas e carrapatos.

Esses animais são chamados de sinantrópicos, pois se adaptam muito bem ao modus operandi da sociedade cosmopolita, como já mencionamos em outra ocasião nesta coluna. Trataremos, dessa vez, dos carrapatos.
Quem são os carrapatos, afinal?

Os carrapatos são artrópodes (corpo segmentado, com partes articuláveis) pertencentes à Classe Arachnida, parasitas externos de vertebrados, alimentam-se de sangue para os estágios de vida e desenvolvimento e são classificados como aracnídeos. Muitos o confundem com os insetos, mas são aracnídeos como as aranhas e os escorpiões. Temos recebido notícias de casos ou acidentes envolvendo carrapatos com impacto significativo na saúde pública.

É de extrema relevância o conhecimento sobre os carrapatos, as doenças transmitidas por esses vetores e os mecanismos para evitarmos os riscos de transmissão de doenças. Dentre as doenças relacionadas, trataremos sobre a Febre Maculosa.

A Febre Maculosa é transmitida pela picada do carrapato infectado por bactérias do gênero Rickettsia, especialmente a espécie Rickettsia rickettsii. No Brasil, os carrapatos de maior relevância para a transmissão da doença pertencem ao gênero Amblyomma, parasitando animais de grande porte, como cavalos e bois e também cães, aves, gambás e, especialmente, capivaras.

Os principais fatores de risco que potencializam as chances de contrairmos a doença são viver em áreas em que haja infestação de carrapatos e casos da doença. Como medidas preventivas ou de cuidado à infecção pelo carrapato, se transitarmos por áreas de risco, é indicado o uso de roupas claras, com o objetivo de identificar mais facilmente o carrapato, uma vez que é mais escuro.

Além disso, é conveniente usar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas, para evitarmos o contato do carrapato com a pele. Verificar, sempre que possível, se os animais de estimação estão com carrapatos ou se você mesmo está com o aracnídeo aderido ao corpo ou à roupa.

Caso encontre um carrapato aderido ao corpo, removê-lo com uma pinça (próximo ao aparelho bucal do animal), com cuidado e segurança, e não o apertar ou o esmagar contra a pele.

A remoção deve ser o mais rápido possível. Depois de removê-lo- o indicado é removê-lo inteiro, lavar a área da picada com água e sabão e observar o aparecimento de possíveis sinais e sintomas característicos da doença, como febre, náusea e vômito, dores musculares, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e solas dos pés. No início, os sintomas se confundem com os de outras doenças. É preciso muito cuidado para fechar o diagnóstico.

O mundo está nos mostrando sinais que devem ser entendidos. A leitura dos avisos e orientações dos órgãos oficiais de saúde e o entendimento da ciência são ferramentas indispensáveis para isso. Devemos buscar uma abordagem e um estilo de vida que visem otimizar de forma sustentável e equilibrada a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas. A estrela dessa vez, ou melhor, o estrela dessa festa é o carrapato.

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco