Como lidar com os erros das crianças de uma forma positiva?

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Psi. Renata Bedran

Nós, seres humanos, estamos em constante aprendizado. Às vezes acertamos, às vezes erramos, tentamos corrigir nossos erros, erramos de novo, evoluímos. Isso vale para todos nós independente da idade, crianças, jovens, adultos.

O crescimento nunca termina, concorda? Então por que somos mais exigentes com as crianças para que elas não errem e menos compreensivos com os erros dos pequenos?

Quando as crianças erram, os adultos têm que fazer um esforço extra para não cair no padrão de julgamento que aprendemos durante toda a vida. Sim, volta e meia elas fazem algo que achamos que não deviam, de um jeito que achamos inadequado: pegam nas coisas com a mão suja, derrubam suco pela casa, mancham a roupa nova com comida, entre muitos outros exemplos.

E às vezes vem na ponta da língua o famoso: “Presta mais atenção, todo dia eu tenho que falar a mesma coisa com você! Você faz tudo errado!” Quando um adulto falava assim com você, como você se sentia? Um misto de vergonha, raiva, culpa? Vontade de retrucar: “Eu não faço tudo errado! Eu estava prestando atenção sim!”.

Mas como questionar os adultos e ser ouvido, ainda mais em um momento desses de falha e aborrecimento? No final das contas a criança começa a acreditar nos adultos e no discurso de que as falhas são somente uma questão de falta de cuidado e atenção. Esse discurso pode se enraizar de uma forma profunda e acompanhar a criança até a vida adulta.

Já reparou que nós quando erramos nos punimos. Falamos para nós mesmos “como somos burros ou algo parecido”. O ideal seria respirarmos fundo e nos acolher. Temos que repetir para nós mesmos: “Está tudo bem, você fez o seu melhor, aprenda com os erros e siga”. Afinal, já foi provado cientificamente que o encorajamento, confiança e carinho também são poderosos propulsores de mudanças.

Nós que fomos criados a base de elogios diante dos acertos, temos muita vergonha quando erramos. Seja porque na nossa cabeça só é digno de respeito quem acerta, ou quem ganha, seja porque nos acostumamos com elogios e elogios só conseguem ser verbalizadas quando acertamos ou vamos relativamente bem.

De tanto ouvirmos que para fazer tudo certo, era só querermos, passamos a acreditar que perfeição é só uma questão de dedicação e força de vontade. Que a gente pode viver sem cometer erros. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. A gente vai cometer erros, porque eles fazem parte da vida.

A disciplina positiva nos convida a ver os erros como oportunidade de aprendizagem, e é assim que deveríamos encarar.

Uma das verdades mais poderosas que podemos oferecer as nossas crianças é que elas saibam que ainda estamos aprendendo. Nenhum de nós chegou lá ainda. Todos ainda temos que evoluir. Isso livra seus filhos de precisarem ser perfeitos ou esperar perfeição dos outros já que eles sabem que a vida é uma jornada desde o dia em que nascemos até o fim.

Um exercício que eu faço é sempre que eu cometo um erro, e principalmente na frente de uma criança, eu me acolho e não me condeno.

Esses dias, por exemplo, errei o caminho de ir para escola da minha filha (estava indo para o caminho da escola de música) e já estávamos atrasadas. A minha primeira reação foi brigar comigo mesma dizendo (sua sonsa, errou o caminho). Mas respirei e disse: “tudo bem, é normal entrarmos no automático de vez em quando, ainda bem que consegui perceber a que estava na direção contrária”.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran