Como prevenir a dor da rejeição?

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Angela Camargo

Já falamos aqui que a felicidade pode ser criada pelo cérebro e por nosso comportamento, mas, e o sentimento de rejeição, será que o lado oposto da felicidade também ter a ver com o cérebro?

As frustações e rejeições surgiram da necessidade de vivermos em coletividade, fator fundamental para nossa sobrevivência. Elas fizeram parte do nosso processo de evolução.

Matthew Lieberman, professor da UCLA, fundador da área de Neurociência Social e autor do best-seller Social “Why our brains are wired to connect?”, afirma que o principal motivo pelo qual nossos cérebros cresceram ao longo da evolução é para aumentar nossa capacidade de trabalhar juntos em grupos maiores e aproveitar os benefícios disso.

E em uma linha paralela de raciocínio, Pedro Lima, pesquisador do InsCer (Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul), mostra que as vantagens do aprendizado humano incluem: adaptação a variações do ambiente, resultando em maior flexibilidade de respostas e estratégias e, ainda, adaptação a novos ambientes, lidando, consequentemente, com tudo que impedia isso de acontecer.

Assim, se aprendemos a nos adaptar, gostamos de viver em grupos, e se o sentimento de rejeição é uma consequência de tudo isso por que existe tanta dor na rejeição?

Todos nós, em um dado momento de nossas vidas, já nos sentimos rejeitados, criando um sentimento de dor de verdade, e como falamos isso foi fundamental para o aprendizado da vida em grupo da sociedade tal qual existe hoje.

Possuir a habilidade de aprendizado não significa estar confortável com essa sensação. Um exemplo de aprendizado desconfortável ocorre quando precisamos enfrentar situações que acontecem fora do que planejamos ou queremos, ou quando precisamos ocupar um ponto de vista diferente, por exemplo quando precisamos nos colocar no lugar do outro.

As ameaças que tivemos que lidar ao longo da história das civilizações, envolveram diferentes estruturas cerebrais em sua elaboração. Ativamos, nessa jornada de evolução, circuitos que reconheceram o perigo e que criaram respostas químicas e físicas em nosso corpo. Isso foi muito importante para chegarmos até aqui.

O neurologista Dr. PEDRO LIMA afirma que a razão de nossa sobrevivência é a nossa capacidade de reação ao estresse. Para o neurocientista, o estresse pode ser definido como a soma de respostas físicas e mentais causadas por determinados estímulos externos (estressores), os quais permitem, ao indivíduo (humano ou animal), superar determinadas exigências do meio ambiente.

Ocorre que foi só recentemente que a neurociência conseguiu comprovar os efeitos disso no nosso corpo. Lima cita um experimento (Cyberball), conduzido por Naomi Eisenberger, pesquisadora-chefe de neurociência social da University of California, em Los Angeles, que conseguiu entender os efeitos da rejeição no cérebro, através de um jogo eletrônico.

Durante o experimento, os efeitos dos desdobramentos do jogo no cérebro dos voluntários eram monitorados utilizando um equipamento de ressonância magnética funcional. Ao longo do jogo, quando as pessoas se sentiam excluídas, foi detectado angústia ou sofrimento, ou seja, com o experimento restou comprovado que o sentimento de exclusão pode causar o mesmo tipo de reação no cérebro que a dor física, por isso que dói tanto.

Dor física

Sabendo que a dor da rejeição será sentida por nós como uma dor física e que esse efeito é perceptível pelo nosso cérebro como lidamos com essa dor causada pelas frustações diárias? Se a vida pode ser considerada um jogo e aí um ganha e o outro perde isso estamos fadados a sempre sentir essa dor?

Bem, a teoria dos jogos, sistematizada pelo matemático John Von Neumann Nash e pelo economista Oskar Mongenstern pode ser aplicada aqui para se entender e explicar tecnicamente as consequências e momentos em que as decisões são tomadas levando em consideração as relações entre pessoas interdependentes.

Foi entendido através dos estudos da matemática que as atitudes e relações de cooperação dentro de um grupo refletem diretamente no resultado de todos.

A conclusão chegada é, em simples palavras, a comprovação em termos matemáticos e lógicos de que nos grupos em que há a cooperação os resultados são melhores do que em grupos em que há a traição de um dos membros por escolhas egoísticas, onde se pensa apenas na sua vantagem, comprovando que para o conceito de certo e errado existe um cálculo matemático que não é consciente.

Então, ainda que tenhamos aumentado nossa capacidade de viver e trabalhar em grupos e nos beneficiarmos disso, nossas ações têm muito impacto negativo na vida do outro. Da mesma forma, as nossas crenças têm impactam no nosso corpo, podendo causar inflamações e inclusive gerar doenças mais serias causadas pelo estresse.

Por isso um equilíbrio mental, ações que te fazem bem e elevam suas crenças e pensamentos positivos são capazes de ajudar não só a você, mas como todo um grupo do qual faça parte. Vamos, então, praticar isso para contribuirmos em sociedade e com a nossa própria saúde mental e bem-estar geral?

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Angela Camargo

Sócia fundadora da 4U – Startup de bem-estar físico e mental. Pós-Graduada em Neurociências e Comportamento pela PUC-RS. Doutoranda pela PUC SP. Master e Licenciada pela StarEdge dos cursos Avatar de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal no Brasil e nos EUA. Advogada Tributarista e Mestre em Garantias e Direitos Fundamentais. Prof. de cursos profissionalizantes sobre comportamento, empreendedorismo jurídico e inteligência emocional. @4uinteligenciaemocional