Dicas para um desfralde consciente e sem traumas

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Psi. Renata Bedran

Pesquisas mostram que 30 a 50% das crianças que nós conhecemos tem algum problema relacionado ao desfralde.
A maioria dos pais acha que para a criança desfraldar basta colocar ela no penico e esperar ela urinar. No entanto, o desfralde é um processo que envolve desenvolvimento cognitivo, fisiológico e emocional.

No desfralde, o controle dos esfíncteres é um processo totalmente maturativo e não envolve aprendizado ou força de vontade. É fisiológico. Já o uso do banheiro, o ato de se secar, lavar a mão envolve aprendizado.

Devido a isso, bebês pequenos (que ainda tem o cérebro imaturo) são incapazes de controlar a micção e a evacuação. Assim que amadurecem esse sistema, entre 1 ano meio e 03 anos, a criança passar a ter controle e esse processo acontece de forma natural.

Uma das dúvidas mais frequentes dos pais é saber qual a melhor idade para desfraldar a criança, e como realizá-lo corretamente.

A idade ideal é a próxima dos três anos. E o desfralde correto, é o que chamamos de desfralde consciente. Ele deve ser guiado pela criança, ou seja, não são os pais e adultos que tiram a fralda das crianças, elas as largam.

O desfralde consciente possui algumas etapas:

1) Primeiramente, a criança é indiferente ao processo, não se incomoda e convive bem com as fraldas sujas. Além de não ter ideia de quando vai fazer ou já fez suas necessidades;

2) Na etapa seguinte, as crianças começam a perceber que já urinou. Muitas percebem, mas não se incomodam, outras já se incomodam e pedem para tirar a fralda. Nessa fase, a criança começa a ter consciência de xixi e cocô, mas ainda está bem distante do desfralde. Isso não é sinal de prontidão ainda. Essa etapa é importante para as que estão por vir, e ela deve ser vivida plenamente, como engatinhar antes de andar;

3) A criança começa a perceber que está fazendo. Essa etapa exige um nível maior de compreensão, de consciência corpórea e é uma etapa importante. É um momento legal para ensinar sobre o corpo e sobre as necessidades fisiológicas;

4) Agora, a criança começa a perceber que vai fazer. Agora sim vai começar o processo.

Nós adultos devemos respeitar e confiar na capacidade da criança e nos relacionarmos com os pequenos de maneira positiva e não proibitiva ou punitiva. Para isso:

– Não colocamos a criança sentada. A criança tem que ser o mais livre possível;

– Não perguntamos se ela deseja usar o vaso (perguntar é uma forma de forçar), exceto quando percebemos que não quer abandonar a brincadeira para urinar.

Aqui estão algumas dicas que podem facilitar o processo:

– Os utensílios devem estar visíveis;
– Os penicos podem ficar em vários ambientes da casa;
– Deve se ter apoiador de pés no banheiro;
– Pia adaptada para lavar as mãos;
– A criança pode picar o papel e puxar do seu jeitinho;
– Caso ela queira usar calcinha/cueca deixamos a sua disposição de escolha;
– Roupas fáceis de vestir.

É importante estarmos atentos, se a criança está dentro da zona de desfralde, que são os famosos sinais:

– A criança não quer tirar fralda, mas percebe que a fralda está suja;
– A criança começa a avisar que já urinou;
– Ela procura o banheiro para fazer
– A criança começa a achar interessante, se abaixa e faz xixi no ralo, logo antes do banho, por exemplo;
– Outro sinal importante é a criança ter fezes amolecidas, pois fezes endurecidas causam dor, e se a criança associar desfralde a dor, ela vai evitar tirar a fralda. A constipação é inimiga de qualquer desfralde.
Às vezes a criança começa a ter esses sinais, mas só uns 6 meses depois ela fala: “eu não quero usar fralda, quero usar calcinha”.

Para concluir, para a criança desfraldar, é muito importante que exista intencionalidade por parte dela, ou seja, a criança pede para tirar a fralda e fazer no vaso (ou penico). Ela não precisou de uma motivação externa, de um elogio ou de um incentivo. A vontade é dela.

Forçar a criança ao desfralde traz inúmeras consequências, como por exemplo: vários escapes, fazer xixi na cama, segurar demais o xixi ou o cocô, constipação, pesadelos, terrores noturnos, entre outros.

Quando o desfralde é guiado pela criança, você permite que a criança tenha suas próprias conquistas, tenha orgulho de si mesma. Nesse caso, ela não está desfraldando para te agradar, para te fazer feliz. Ela desfralda, pois, está crescendo e conquistando esse desenvolvimento, e ela valoriza isso por ela mesma, e não porque você vai dar um chocolate ou bater palma.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran