Endometriose: uma doença nem tão silenciosa assim…

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Dr. Luiz Sobral

Esse ano quando a cantora Anitta resolveu contar sua história como portadora de Endometriose uma doença crônica, benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva, chamou a atenção para uma patologia que pode causar tragédias pessoais, antes de ser descoberta, não por ser tão silenciosa assim, já que dá sintomas muito característicos de cólica menstruais, dor pélvica e dor as relações, mas por apresentar uma dificuldade de diagnóstico que precisa ser superada. O atraso no diagnóstico pode ser de sete a dez anos. Podem causar ainda alterações intestinais cíclicas tais como distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação e dor anal sempre no período menstrual, alterações urinárias cíclicas tais como disúria, hematúria, polaciúria e urgência miccional também no período menstrual. Causa ainda Infertilidade e pode causar dor no ombro no período menstrual (endometriose diafragma).

Bastante prevalente atualmente acomete cerca de 10% da população feminina em idade fértil. Estima-se oito milhões de portadoras no Brasil. O diagnóstico pode ser feito numa consulta com especialista e confirmada com ultrassonografia bem-feita e ainda com exames de ressonância magnética. Muitas vezes, no entanto, só a laparoscopia é capaz de elucidar totalmente o caso.

No SUS desde 2016 iniciativas como a PORTARIA n.º 879, DE 12 DE JULHO DE 2016 que definiu o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Endometriose, com os critérios de diagnóstico e de tratamento, bem como os mecanismos de regulação, controle e avaliação da doença em todo o país, estando disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), dois tipos de tratamento: clínico e cirúrgico.

O tratamento clínico visa neutralizar o estímulo hormonal estrogênico nos focos de endometriose, suspendendo a menstruação e proporcionando melhora nos sintomas da doença, associado a medicamentos para o controle da dor. Em pacientes que não desejam engravidar, contraceptivos hormonais são utilizados e quando não tem respostas outras drogas estão disponíveis inclusive os agonistas do gonadotropin-releasing hormone (hormônio liberador de gonadotrofina, GnRH), tal como a gosserrelina.

E o tratamento cirúrgico é indicado quando os sintomas são graves, incapacitantes, quando não houve melhora com tratamento clínico, em casos de endometriomas grandes, de distorção da anatomia das estruturas pélvicas, de aderências, de obstrução do trato intestinal ou urinário e nas pacientes com infertilidade associada a endometriose que desejam engravidar. Com a chegada de novas tecnologias, o tratamento cirúrgico tem conseguido cada vez mais alcançar o objetivo de remover as lesões de endometriose com precisão. A laparoscopia assistida por robô é uma excelente ferramenta que vem ganhando espaço e adeptos. A chegada da cirurgia robótica como opção para o tratamento da endometriose é um fato recente e que vem se estabelecendo como opção segura e efetiva. Como em toda tecnologia que se preze, a constante evolução é o que faz toda a diferença e isso serve também para as ferramentas cirúrgicas que temos a disposição para tratar as nossas pacientes. Com a introdução da visão em 3 dimensões proporcionada pelas lentes e câmera utilizada na cirurgia robótica, o ganho visual é bastante significativo principalmente por proporcionar essa noção de profundidade e simplificar o entendimento das imagens geradas, permitindo movimentos de menor amplitude e mais precisos.

Cirurgia é a arte do restauro da obra de arte mais perfeita da natureza, o corpo humano. As habilidades, conhecimento e qualidades do artista farão toda a diferença no seu tratamento.

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Dr. Luiz Sobral

Médico Ginecologista e Mastologista. Cirurgia Robótica @sobralvieira