Halitose

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Dra. Fabrícia Suaid

A halitose, nome científico do mau hálito, é uma condição que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro desde os primórdios do tempo. No século 4 a.C. Diocles de Caristo, um médico grego, deixou escrito um documento em que recomendava a seus clientes que todas as manhãs colocassem uma fina camada de hortelã pulverizada nos dentes e nas gengivas e a esfregasse com os dedos para remover restos de alimentos e aromatizar a boca. Enquanto os romanos limpavam seus dentes com um pó composto por cinzas de ossos e dentes de animais associado a ervas e areia, os povos da Idade Média recomendavam bochechos com urina para eliminar o mau hálito.

De uma maneia geral, todas as pessoas durante a sua vida experimentam esta sensação de odor desagradável na boca, pelo menos ao acordar ou após ingestão de determinadas substâncias tais como alho, ou cebola. A halitose não é uma doença, e sim, um sinal ou sintoma de que algo no organismo está em desequilíbrio, que deve ser identificado e tratado. Existem mais de 60 causas para a halitose, porém, ao contrário do que muitas pessoas possam imaginar, o mau hálito raramente é um problema causado por desordens gástricas. A Associação Brasileira da Halitose vem tentando desmistificar a crença de que o estômago provoca o mau hálito, um grande mito na área de saúde. Aproximadamente 90% dos casos de halitose têm origem bucal, estando relacionadas principalmente à presença de saburra lingual e a alterações na gengiva e no periodonto.

A saburra lingual, também conhecida por língua branca, língua esbranquiçada ou língua saburrosa, está relacionada à formação de uma placa bacteriana na parte posterior da língua. Esta placa é originada quando há uma diminuição da produção de saliva ou uma descamação epitelial da mucosa bucal acima dos limites normais (minúsculos pedacinhos de pele que se desprendem dos lábios e bochechas) ou ainda, em ambas as situações. Existem meios de diminuir a formação da saburra lingual como, por exemplo, aumentando o fluxo salivar, se houver necessidade, ou diminuindo a descamação excessiva de células da mucosa bucal, através do tratamento de suas causas. No entanto, estes métodos podem demorar a ter resultados, ou ainda, ter resultados parciais. Desta forma, torna-se fundamental uma técnica de limpeza da língua que seja eficiente na remoção diária da saburra lingual favorecendo a manutenção de um hálito agradável.

A segunda maior causa de halitose de origem bucal é a inflamação na gengiva e no periodonto conhecida como doença periodontal. Só no Brasil, estudos epidemiológicos demonstram que, cerca de 20% dos indivíduos com 40 anos apresentam periodontite, sendo que essa prevalência aumenta com a idade. A doença periodontal inicia-se com uma inflamação na margem gengival, em resposta ao acúmulo de placa bacteriana na superfície dos dentes, resultando em vermelhidão da gengiva marginal, edema e sangramento gengival. O sangue proveniente da gengiva fica acumulado na boca, onde entra em processo de degeneração levando a alteração no hálito do paciente. Além disso, com o progresso da doença há um comprometimento dos tecidos que suportam o dente, levando à destruição de osso e ligamento periodontal e resultando em formação de bolsas, mobilidade dentária e recessões gengivais. As bolsas periodontais, localizadas entre o dente e a gengiva, acumulam colônias de bactérias que se alimentam de proteínas e carboidratos do sulco gengival e da saliva, gerando compostos voláteis responsáveis pelo odor desagradável do hálito. A doença periodontal constitui um ciclo vicioso com o “mau hálito”, pois o tipo de bactérias envolvidas nas duas patologias é semelhante. As mesmas bactérias que produzem compostos de odor desagradável são prejudiciais à gengiva e ao osso, agravando a doença periodontal e resultando em bolsas mais profundas com consequente aumento do acúmulo de bactérias e da produção dos compostos voláteis responsáveis pela halitose.

Uma vez identificada e tratada a causa da halitose, o hálito voltará ao normal. Praticamente 100% dos casos de halitose tem tratamento e, se paciente seguir as instruções recebidas, o mau hálito não voltará. O importante é procurar um dentista para fazer o diagnóstico correto da causa do mau hálito e seguir o tratamento adequadamente.

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Dra. Fabrícia Suaid

Cirurgiã Dentista. Especialista, Mestre e Doutora em Periodontia pela FOP-Unicamp, Professora Titular das Disciplinas de Periodontia e Implantodontia da Faesa, Coordenadora do Curso de Especialização em Periodontia da ABO.