Medicina Periodontal: a saúde começa pela boca

Foto de Dra. Fabrícia Suaid
Dra. Fabrícia Suaid

Desde a Antiguidade, existem relatos sugerindo que certas doenças podem ter repercussão sobre a cavidade bucal e vice-versa. Já dizia o pensador chinês Confúcio que “a saúde começa pela boca”. E ele tinha razão. Gengiva doente pode ser sinônimo de corpo doente. Nesse contexto, surgiu o termo “Medicina Periodontal”, representando um novo paradigma que procura correlacionar diferentes doenças sistêmicas com as doenças periodontais, inflamação nos tecidos que suportam o dente, que leva à destruição de osso e ligamento periodontal, resultando em formação de bolsas, mobilidade dentária e recessões gengivais. A ideia de que pode haver relação entre certas condições sistêmicas e a cavidade bucal não é recente: os primeiros relatos resultantes de pesquisas científicas datam de 1890, período que ficou marcado na história da odontologia e da medicina como “Era da Infecção Focal”.

Segundo a Medicina Periodontal, a boca de uma paciente com periodontite funcionaria como um reservatório de bactérias que poderiam migrar pela corrente sanguínea e atingir órgãos distantes como, por exemplo, o coração e o pulmão. Este aumento da carga bacteriana no sangue afetaria a integridade da parede dos vasos sanguíneos promovendo alterações físicas e metabólicas, e resultando em um comprometimento sistêmico. Estudos científicos observaram que placas de ateromas (placas de gordura que diminuem o calibre dos vasos sanguíneos) apresentavam bactérias oriundas da cavidade oral, entre elas, bactérias associadas à doença periodontal. Relatos da literatura indicam que pessoas com doenças periodontais são duas vezes mais suscetíveis a doenças cardíacas do que aquelas com gengivas saudáveis.

Além de poder aumentar o nível de bactérias no sangue, a doença periodontal também resulta na liberação de várias moléculas bioativas que podem promover diversas alterações no metabolismo do paciente. Pesquisas mostram que diabéticos com doença periodontal grave apresentam significativa piora do controle metabólico da doença quando comparado com aqueles com envolvimento periodontal mínimo.

Embora se saiba que mais trabalhos ainda são necessários para comprovar a real relação entre a doença periodontal e alterações sistêmicas, a Medicina Periodontal tem contribuído para alterar um pouco a visão de dentistas, médicos, enfermeiros e pacientes com relação à saúde oral. Os profissionais da área de saúde deveriam deixar de encarar as doenças periodontais como problemas restritos à cavidade bucal e entender que o tratamento periodontal representa a manutenção da saúde dentro de um contexto multidisciplinar. Da mesma forma, os pacientes devem estar cientes de que uma boca saudável é importante não apenas para a autoestima e o convívio social, mas também como importante fator de prevenção para diversas doenças.

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Dra. Fabrícia Suaid

Cirurgiã Dentista. Especialista, Mestre e Doutora em Periodontia pela FOP-Unicamp, Professora Titular das Disciplinas de Periodontia e Implantodontia da Faesa, Coordenadora do Curso de Especialização em Periodontia da ABO.