O paciente sempre pode optar entre usar alinhadores ou aparelhos fixos?

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Dra. Daniela Feu

Será que qualquer pessoa pode utilizar os alinhadores transparentes e aproveitar as vantagens de um tratamento com esse tipo de aparelho? A princípio sim, mas saiba que cada tipo de aparelho tem suas indicações, vantagens e desvantagens, então por mais que possa se tratar praticamente tudo com alinhadores, nem sempre essa é a melhor opção para seu problema ortodôntico.

Resumindo, é o diagnóstico do problema que vai definir essa questão. O tratamento ortodôntico não visa só o movimento dentário, é preciso analisar a situação das bases ósseas e como vai ficar a face para decidir qual aparelho usar. Além disso, é necessário olharmos as limitações biológicas e o perfil de cada paciente.
Tudo isso tem a ver com a eficácia do dispositivo. O aparelho, invisível ou metálico, funciona por meio de uma pressão aplicada a fim de que o dente vá para a posição desejada. Só que a biomecânica muda totalmente se compararmos os alinhadores e os aparelhos fixos.

No modelo mais tradicional, os braquetes servem como ponto de apoio para os fios metálicos que vão, junto com elásticos e amarrações, gerar força sobre os dentes, e esses braquetes e fios podem ser de diversos tamanhos, formatos e calibres, dependendo do objetivo. O ortodontista posiciona os braquetes nos dentes no local adequado e individualizado e vai monitorando a pressão e a evolução a cada consulta de acompanhamento — geralmente, de 30 em 30 dias.

Já os alinhadores envolvem todo o dente com um material plástico especial, cuja constituição é segredo e diferencial para cada empresa, e geram força em diversas direções. Eles são fabricados a partir de um planejamento digital do tratamento: cada placa movimenta em média 0,25mm cada dente, empurrando para uma ou mais direções simultaneamente e, na maioria dos casos, utilizando um apoio de resina fixado no dente para conseguir de fato aplicar a força necessária para empurrar ele para a direção desejada. Após sete, dez, doze ou quatorze dias de uso, os dentes são “empurrados” e o paciente começa a utilizar a placa seguinte, com outras microalterações. Funciona assim até a correção total.

Cada sistema de forças terá vantagens e desvantagens frente ao problema oclusal que você tem, ou seja, em alguns casos é mais previsível empurrar os dentes (alinhadores) e em outros casos é mais simples puxar esses dentes (aparelhos fixos). Em alguns casos é uma grande vantagem que os dentes estejam encapsulados em casulos (alinhadores) e em outros não, isso pode atrapalhar a evolução do caso.

E qual é o problema de usar alinhador para tratar seu caso se ele não for a melhor opção? Geralmente um aumento no tempo do tratamento e os desafios que serão enfrentados nas consultas de acompanhamento, mas isso não inviabiliza seu tratamento. Por décadas tratamos más oclusões muito desfavoráveis para serem tratadas com aparelhos fixos usando aparelhos fixos porque não tínhamos outra opção. Isso tornava o tratamento mais complexo e extenso, mas ao longo dos anos fomos aprendendo a contornar essas dificuldades e controlar bem o tratamento durante as consultas de manutenção/ acompanhamento. O mesmo está acontecendo gradualmente com os alinhadores. Estamos evoluindo e aprendendo cada dia mais e fazendo planejamentos eficientes para cada tipo de caso.

A única coisa que não pode faltar nesse tipo de tratamento é a colaboração. Se você não está disposto a usar suas placas de dia e de noite (removendo-as apenas para se alimentar ou em algumas ocasiões especiais), aí esse tratamento não está indicado para seu caso. Os alinhadores só serão eficientes se ficarem mais de 20 horas agindo nos seus dentes. Alinhador guardado na caixinha não vai resolver o problema de ninguém!

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Dra. Daniela Feu

Cirurgiã Dentista Graduada em Odontologia pela UFES. Especialista em Ortodontia pela UERJ. Mestre e Doutora em Ortodontista (UERJ). Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia (BBO). Diretora do Colégio de Diplomados do BBO. Editora associada da Revista Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e editora da Revista Clinical Orthodontics. @dani_feu