O perigo em rotularmos as crianças

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Psi. Renata Bedran

Muitos pais não percebem a frequência com que usam palavras que rotulam os filhos.
Os pais são os maiores influenciadores dos filhos. As crianças constroem e formam a autoimagem a partir do que ouvem dos pais, cuidadores, familiares e professores durante a infância. As palavras que ouvimos ao longo da vida, tornam-se referências inconscientes podendo exercer forte influência na nossa personalidade ao longo da nossa existência. Nem mesmo de “brincadeirinha” devemos dizer que as crianças são “birrentas”, “choronas”, “medrosas”, “gordinhas”, “boazinhas”, “teimosas”, etc.

Muitas vezes, falar que a criança tem determinada característica acaba fazendo com que ela desenvolva um comportamento e se fixe nele, sendo que ela poderia não ser só essa característica isolada.

Confundimos fatos com opiniões. A criança não atender ao que lhe foi pedido é um fato; considerá-la teimosa é uma opinião. A mente julga, e essa é uma das suas funções. O grande problema é acreditarmos em nossos julgamentos e tornar isso verdade absoluta. Apresentamos aos nossos filhos as nossas opiniões como se fossem fatos inquestionáveis. E na maioria das vezes, eles acreditam no que falamos e utilizam as histórias que contamos para construírem a historia da própria vida. As histórias que contam sobre nós determinam a forma como acreditamos que podemos conseguir amor e aceitação. É difícil encontrar alguém que tenha recebido rótulos na infância e que não seja influenciado por eles na vida adulta. Os rótulos geram uma ressonância que ecoa em nós por ano a fio.

O que pode parecer uma brincadeira inocente, pode limitar a personalidade e o desenvolvimento das potencialidades do seu filho. Nenhuma característica isolada define alguém. Ninguém é uma coisa só. Somos todos uma multiplicidade imensa de coisas, e acreditar que uma característica isolada define alguém significa limitar seu imenso potencial. Todos nós transitamos por diferentes facetas e temos o direto de poder fazer isso.

O rótulo, pelo contrário de que muitos pensam, não vai gerar mudança nem autorreflexão. Eles geram culpa, que acorrenta mais do que liberta.

Os rótulos considerados positivos são tão prejudiciais quanto os negativos, visto que limitam a existência de quem os recebe a apenas uma porção de si. Personagens aprisionam, e “a menina boazinha” também discorda, fica irritada, sente angustia e frustração.

Seria mais interessante para nós e para nossos filhos que parássemos de dizer quem são ou quem deveriam ser. Somos todos multifacetados e complexos, e não é justo reduzir os filhos a apenas uma característica, justamente a que menos gostaríamos que se manifestasse.

É importante deixar claro o quanto acreditamos no potencial de nossos filhos. Isso faz com que eles acreditem em si e enxerguem as infinitas possibilidades que a vida apresenta.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran