O que acontece no cérebro da criança na hora da birra?

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Psi. Renata Bedran

A “birra” ou “pirraça”, é um grande desafio na criação dos filhos. A educação tradicional trata esses episódios desconsiderando o desenvolvimento infantil, a imaturidade emocional e o funcionamento cerebral.

Para entender melhor o que acontece no cérebro da criança na hora, vamos mergulhar no mundo da neurociência:

Nosso cérebro é dividido em cérebro reptiliano e cérebro mamífero. O Cérebro Reptiliano é a parte responsável pela nossa sobrevivência: grandes emoções como raiva e medo, impulsos e controle de funções como piscar e respirar. Os bebês já nascem com essa parte “pronta”. O cérebro Mamífero é a parte responsável pelos pensamentos, pela tomada de decisão com qualidade, pelo controle das emoções, pelas habilidades sociais. Essa parte do cérebro começa a se desenvolver na infância e só atinge a sua maturidade lá pelos vinte e poucos anos. É uma parte complexa, que só os mamíferos têm e que é mais evoluída ainda em nós, Homo Sapiens. Fazendo a comunicação entre essas duas partes do cérebro existe a amígdala. Ela quem processa as informações e expressa rapidamente as emoções frente aos “perigos” que nos deparamos, enviando informações para o corpo como fugir ou lutar.

Pois bem, num momento de raiva ou estresse intensos a amígdala “assume o controle” e impede que o cérebro reptiliano se comunique com o cérebro mamífero. Ou seja, nesse momento só existe reação, sem raciocínio. Não existe possibilidade de controle dessas emoções. Assim acontece durante a birra.

A criança precisa se acalmar para voltar a pensar e só então conseguirá aprender algo sobre a situação. Se acalmar significa reconectar, integrar essas duas partes do cérebro novamente. Nós como pais, temos a função de acalmar as crianças e se for preciso contê-los (protegê-los) para evitar que se machuquem ou machuquem alguém.

À medida que ajudamos e ensinamos como podem se acalmar (co-regulando), com o tempo elas serão capazes de se acalmarem por elas mesmas. Quando as crianças voltam ao seu estado normal, elas já são capazes de entender e aprender. No entanto, eu sugiro conversar com a criança sobre os motivos que desencadearam a explosão emocional (o que pode, o que não pode, o que é preciso fazer), quando você e elas estiverem realmente disponíveis emocionalmente e com tempo para isso, por exemplo, na hora de colocar os filhos para dormir.

Não é fácil passar por situações de birra, principalmente pelos sentimentos ruins que essa situação nos desperta. Então é essencial que saibamos sobre o desenvolvimento infantil, a imaturidade emocional das crianças pequenas para lidar melhor com nossos sentimentos e com os da criança. É fundamental acolher as crianças nos estados em que precisam de acompanhamento de um adulto, para conduzi-las no caminho do autocontrole e da inteligência emocional.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran