O que são valores para você?

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

A vida é para ser vivida, como dizem muito bem os saudosistas e poetas. E nessa vivência/experimentação da vida, encontramos muitos padrões e repetições, a princípio. “Agora eu era herói, cantarolava o poeta.

Quando pequeno, não entendia ou não aceitava o fato de meu pai trabalhar o dia inteiro e, não muito raro, durante as madrugadas a partir de um telefonema da Santa Casa de Misericórdia de Araçatuba-SP. Ginecologista e obstetra, o telefonema anunciava mais uma vida carregada de potentes valores a despontar no mundo.

Em um processo de amadurecimento pelas mãos do tempo e da convivência familiar, esbocei um leve entendimento de que aquilo que acontecia e me desagradava, além de ser uma constante na atribulada vida de meu pai, era um nobre valor, meu, dele, nosso! Referência pelo exemplo e trabalho! Nunca se furtar ao mister do trabalho, essa era a máxima!

E o trabalho do meu pai fez com que enxergasse outros valores, como as relações interpessoais, os laços de empatia, a responsabilidade com a ética do ofício e com todos que, de algum modo, estiveram relacionados à rotina exaustiva do meu pai.

Além da Medicina, meu pai foi um exímio tocador de acordeon. Formado em Conservatório, transitou com proficiência entre os Clássicos e o Popular. Conheci, precocemente, Gardel, Mario Zan, Dominguinhos, Sivuca, Chopin, Brahms, Jacob do Bandolim, as lindas Guarânias paraguaias, melodias francesas, italianas e argentinas e tantos outros e outras pela maestria dos dedos e notas entrelaçados na Sacandalli de 120 baixos, dada de presente pelo meu avô. Que verdadeira loucura! Pequeno e já convivendo com os grandes! Quantas notas, sons, melodias, tangos, boleros e valsas executados com paradoxais sentimentos.

Somente na puberdade, internalizei o emaranhado de sentimentos advindos das execuções soberbas de meu pai e assumi a música e suas derivações como um valor. Trouxe-me, além do balançar dos pés e mãos e muitos bailes no avançar das noites, um estímulo visceral para compreender o mundo pelas notas lançadas ao sublime voo.

“Agora eu era o rei”, cantarolava o poeta. Percorri a longa jornada do Ensino Básico e cheguei ao Ensino Superior. Quais valores encontraria na Universidade? Teria espaço para a eloquência graciosa da música e para a assiduidade do trabalho? Sim, a partir do momento que a vida lhe mostra múltiplas vivências que serão ou não valoradas por você. Assumi com seriedade minhas obrigações, cada qual com seus respectivos valores. Aprendi e senti, com toda a carga de sentimentos, vitórias e frustrações, os fatos/ações/atitudes que precisavam de ser valorados por mim.

A vida me mostrou, também, o esporte. Evolução biológica e cultural abraçadas. Nobre em seu objetivo. Saúde física e mental transitando conjuntamente na alma de um atleta. Relações estabelecidas, respeito mútuo entre os vitoriosos e os perdedores. Êxtase. Extasiante. Extasiado. Os valores aprendidos e apreendidos em cada treino, jogo e competição. Saber reconhecer o adversário, saber reconhecer os seus e os nossos limites e as suas potencialidades. Inexoráveis valores!

A casa aumentou hoje. Somos dois Antonios, um Joaquim e a Karina, somados à equipe de apoio para conseguirmos o equilíbrio. As virtudes dos pequenos precisam ser apreciadas e descobertas para serem validadas e valoradas. Quando valores, acrescem-se os meus, das nossas famílias, dos nossos amigos e do nosso trabalho. Conhecimento e (re)conhecimento. Aprendizagem e (re)aprendizagens.

“Agora era fatal”, finalizou o poeta. Implacável e sábio tempo. Adulto, agora, consigo organizar os valores conquistados, aprendidos, (des)cobertos e assumidos para o entendimento da plenitude da vida como o grande valor.

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco