Parar de fumar, eis a questão!

Foto de Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho
Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Todas as quintas, voltamos a pé, pai e filho, da escola até a nossa casa. Apresento a cidade a meu filho e meu filho apresenta-se ao dinamismo e à esperteza da cidade. Tudo muito humano e natural. Espetinho de boi certeiro no trajeto final banhado com um suquinho de laranja bem gelado. Em uma das voltas, lembrei-me de um samba-canção do Herivelto Martins e David Nasser “Pensando em ti”, datada de 1957. Eis o trecho para vocês recordarem:

Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que eu tento ler
Em cada frase tu estas
Nas orações que eu faço
Eu encontro os olhos teus…
E por aí vai.

O cigarro já escreveu com linhas românticas as espirais do tempo. O cigarro emblemático dos tempos de outrora, das colunas elegantes dos escritos dominicais, dos bailes regados a vinhos e champanhes, orquestras afinadas e melódicas, do “bad boy” da escola já não existe mais. O cigarro perdeu-se nos inúmeros malefícios que causa, como câncer de pulmão, de boca e pescoço, das cordas vocais, pâncreas e do fígado, além do envelhecimento da pele, do mau hálito, do escurecimento dos dentes e da fragilidade dos tecidos orais.

Como conseguimos, afinal, parar de fumar? Há uma regra específica? Um protocolo? Cada caso é um caso? Precisamos de ajuda médica? De remédios? De chicletes e adesivos de nicotina? Vamos lá!

Para parar de fumar, o primeiro passo fundamental é a força de vontade. Somos levados por tentações a todo momento e, para cumprir esse objetivo, a força e energia vitais para movermos montanhas precisam de ser ativadas. Não é tarefa das mais fáceis. Estamos lidando com dependência química causada por uma das substâncias mais poderosas do mundo: a nicotina, que chega em menos de 9s ao cérebro e causa sensação de bem-estar nas inúmeras tragadas durante o dia, em cada esquina, nas noites vazias ou em total solidão.

Outro ponto que deve ser destacado, além da força descomunal de vontade, é não passarmos pelos mesmos locais, mesas, escrivaninhas, portas, janelas, ruas, casas, condomínios, lojas e supermercados pelos quais passávamos e acendíamos um cigarro. Há sempre uma lembrança atordoante e angustiante acendendo um cigarro por você e para você. Drible, momentaneamente, esses fantasmas, crie outras situações, viaje por outros caminhos e ascenda a outro patamar sem acender um cigarro. Na hora da fissura, entre 3-4 minutos, respire fundo, beba bastante água gelada, masque um chiclete e espere a angústia e a vontade de colocar tudo a perder passar. E passa! E vai passando a cada dia! Cada vez mais! Cada dia mais! Até chegar ao ponto que seu cérebro-organismo- já não exige e suplica nicotina. Nunca se dê por vencido e não ache que venceu esta guerra! Os insultos e ameaças do cigarro são constantes e de todos os lados! Fuja, sem se reconhecer como covarde, mas sim como um vencedor.

A primeira semana sem o cigarro é muito difícil, principalmente nos três primeiros dias, com dores físicas e emocionais. Respire fundo, acalme-se e siga em frente. Um dia de cada vez! Não gere ou nutra expectativas prolongadas. Amanhã será outro dia, com certeza! Se precisar de ajuda, procure em unidades de saúde por programas antitabagistas, busque experiências vitoriosas e pessoas exitosas no mister de parar de fumar.

É possível, sim! Quem ainda não conseguiu, persista e em breve conseguirá. Os benefícios serão insuperavelmente maiores e com muita qualidade de vida! Nos cigarros que não fumo, te verei respirar!

Foto de Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco