Por que a ultrassonografia morfológica do 1.º trimestre é tão importante?

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Dr. Coridon Franco

Na gestação os primeiros três meses compreende o período que chamamos de embriogênese, que é quando o bebê está transformando todo seu conjunto de células em órgãos e preparando todos os sistemas do corpo para iniciarem seu funcionamento como um todo, formando um organismo complexo, composto de variados sistemas que trabalham em perfeita sintonia. Para que essa sintonia seja o mais perfeita possível é fundamental que todos os sistemas sejam bem construídos e para que os sistemas funcionem de maneira correta, os órgãos que formam cada um dos sistemas do corpo devem ser elaborados da maneira como planejados.

O planejamento, ou trocando em miúdos, a receita para que essa obra fantástica que é o corpo humano seja formada a partir da união de duas células, um óvulo e um espermatozoide, está contida em duas fitas de aminoácidos, que nada mais é do que o nosso DNA.

Portanto, a embriogênese é a etapa da formação do bebê em que a receita contida na DNA terá sua primeira expressão em formatos dos órgãos e sistemas. Consideramos como período de embriogênese até cerca de 12 semanas de gestação, ou seja, três meses. Ao final desse período já teremos vários órgãos e sistemas com sua formação inicial bem estabelecida, ainda restando dois terços da gestação para que toda essa formação seja completamente realizada e que ocorra o amadurecimento dos órgãos para o corpo funcione como um conjunto de sistemas em perfeita sintonia.

Sendo assim o exame de ultrassonografia morfológico de 1.º trimestre que é realizado entre 12 e 14 semanas de gestação, portanto no período de transição entre o 1.º e 2.º trimestre da gestação se apresenta com um momento bastante propício para que posamos analisar o que foi realizado pelo bebê na fase da embriogênese, ou seja, na fase inicial do seu desenvolvimento.

A melhora das tecnologias vem permitindo avanços cada vez maiores e mais rápidos na avaliação médica da formação do bebê, permitindo que façamos uma análise bastante detalhada dos órgãos já nesse período entre o 1º o 2.º trimestre. Já podemos nesse período visualizar quase toda anatomia do coração, pernas braços, mãos e pés, coluna, rins e bexiga, algumas estruturas do cérebro em outros detalhes.

Além de toda avaliação de diversos órgãos de bebê nesse período da gestação temos a oportunidade de avaliar qual o bebê tem um maior risco de ter alguma síndrome genética, Síndrome de Down, por exemplo, e saber ainda qual gestante tem um risco maior para desenvolver a pré-eclâmpsia, que é a pressão alta na gestação.

Para sabermos se o bebê tem um risco maior de ter alguma síndrome genética medimos uma estrutura em todos os bebês chamado de translucência nucal. A translucência nucal é um espaço de líquido que existe embaixo da pele do bebê na região da nuca. Quando essa medida for maior que 2,4 mm identificamos que o bebê tem um risco um pouco maior de apresentar síndromes genéticas, mas não significa que obrigatoriamente tem alguma doença, sendo, portanto, necessário discutir com a família se desejam prosseguir na investigação com outros exames para confirmar ou afastar o diagnóstico de síndromes genéticas.

Para tentarmos identificar qual das gestantes tem um risco maior para desenvolver a pré-eclâmpsia, utilizaremos informações da família da gestante, seu histórico em gestações anteriores, a idade, relação peso/altura, medida da pressão arterial média e a medida da velocidade do sangue nas artérias uterinas da gestante, que só poderá se realizada por um exame de ultrassonografia com Doppler. Todos esses dados são analisados em conjunto e poderemos calcular qual o risco dessa gestante desenvolver a pré-eclâmpsia. Da mesma forma a gestante que for identificada como de maior risco não necessariamente desenvolverá a doença, mas receberá cuidados mais pormenorizados durante o pré-natal na tentativa de evitar a pré-eclâmpsia e suas possíveis complicações.

Assim sendo o período de transição do 1.º para o 2.º trimestre de gestação é considerado um período de ouro para o acompanhamento pré-natal por permitir em um período ainda precoce na gestação que identifiquemos quais gestantes e bebê precisaram de avaliações mais detalhadas e profundas e quais poderemos realizar um acompanhamento com preocupações habituais de todas as gestações.

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Dr. Coridon Franco

Médico. Mestre em Ciência, tecnologia e educação. Especialização em ginecologia e obstetrícia. Certificado pela Fetal Medicine Foundation. Membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR). Pós-graduado em gravidez de alto risco. @coridonfrancousg