Por que ameaçamos as crianças?

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Psi. Renata Bedran

Se você não vier agora, eu vou embora sem você.
Se você me desobedecer, o policial vai te prender.
Se você desobedecer, o Papai Noel não vai trazer presente.
Se você não comer tudo, não tem sorvete.

Por que ameaçamos nossos filhos?
Uma das estratégias que usamos com crianças e que trazemos da nossa educação tradicional são as ameaças.

É mais fácil ameaçar do que conversar sobre a situação com a criança. As ameaças refletem a nossa impaciência e o nosso desejo de obediência imediata através do medo. Uma criança é um ser literal e extremamente dependente dos pais, então ameaçá-la a deixar ela no lugar ou ir embora sem ela traz como resposta a obediência e o medo de ser deixado para trás.

A relação entre pais e criança pode virar uma condicional do comportamento dela: meu pai/mãe vão me abandonar se eu for uma criança “ruim”. E como consequência gerar um medo dela de ser abandonada em outros lugares, independente do seu comportamento (como ela acha que os pais gostariam).

Além disso, ameaçar não é justo, já que ela é feita do mais forte para o mais frágil e também direcionada ao quem é o indefeso da relação (uma criança para sobreviver depende de um responsável). É uma expressão de poder sobre o outro (assim ele vai me obedecer, vou ter o controle da relação).

Essas “estratégias” são prejudiciais, mas a utilizamos, pois parecem menos violentas que uma palmada. No entanto, também são violências.

É importante pararmos para pensar enquanto adultos da relação, que quando um comportamento do nosso filho nos desestrutura, isso é apenas o gatilho para algo que temos internamente. As crianças são espelhos potentes para dores que não queremos reviver. E assim, ao invés de refletimos sobre o que nos afetou internamente, preferimos calar o comportamento desafiador dos nossos filhos através do uso de poder ou da força. A forma com que reagimos aos comportamentos desafiadores dos nossos filhos, diz muito sobre nossa infância. Deveríamos olhar com compaixão para nossa história, para nossa criança interior ferida. Os filhos são uma ótima oportunidade para que possamos entender nossa história, nossos sintomas e assim conseguirmos acolher e amparar não só as dificuldades deles, como as nossas também.

A nossa geração que tem hoje um acesso à informação como nossos pais não tiveram, nos proporciona a oportunidade de entender o desenvolvimento infantil e assim começarmos um novo normal com os nossos filhos. Os adultos (ao saírem do pedestal hierárquico) serão capazes de aprender novas maneiras de se relacionarem com seus filhos garantindo minimamente a saúde mental das crianças.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran