Quantas “dores de cabeça” temos na vida? Entenda

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Dra. Camila Resende

Você diante de algum problema já se pegou usando alguma expressão tipo “Nossa! que dor de cabeça isso vai me dar!”. Não é à toa que comumente quando temos algum problema nos referimos a ele como “uma dor de cabeça”.

Essa expressão faz todo sentido pois, assim como os desafios da vida, as dores de cabeça são muito frequentes (dificilmente alguém nunca terá vivenciado pelo menos um episódio de dor), podendo ser de vários tipos, origens e intensidades. Vindo do Latim CEPHALEA, do Grego KEPHALAIA, cefaléia é o termo médico utilizado para definir essa dor.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) as cefaléias atingem mais da metade da população mundial. A boa notícia é que a maioria delas são primárias, ou seja, a cefaléia e suas manifestações constituem o distúrbio em si e os exames complementares (tomografia do crânio, ressonância do crânio, exames de sangue, líquor e etc) não a justificam.

Por sua vez, as cefaléias secundárias são a minoria e apresentam-se como consequência de uma doença adjacente, seja ela neurológica ou sistêmica.

Muitas vezes a cefaléia primária leva o paciente a questionamentos e dúvidas como por exemplo: “Se tenho tanta dor de cabeça como pode meus exames não mostrarem nada?”. É importante entender que a normalidade dos exames não significa que o paciente não tenha nada.

Neste caso, não há uma lesão estrutural visível, mas existem outras estruturas envolvidas como os grandes vasos intracranianos e a dura-máter, os terminais nervosos periféricos do nervo trigêmeo que inervam tais estruturas e os sistemas moduladores da dor no cérebro.

Considerando o grande grupo das cefaléias primárias, a mais frequente é a cefaléia tensional, seguida pela enxaqueca. Outros tipos de cefaléia primária incluem as cefaléias trigeminoautonômicas (ex: cefaléia em salvas), cefaléias relacionadas a frio, pressão externa, tosse, etc.

Uma vez que nesta classificação os exames não apontam para a causa, o ponto chave consiste em uma história clínica o mais completa possível e exame físico geral-neurológico minucioso. A velha máxima de que “a clínica é soberana” (infelizmente muitas vezes esquecida nos tempos atuais) ecoa nestes casos.

Em relação as cefaléias secundárias as causas podem ser muito variadas: cefaléia secundária a processos infecciosos (Ex: meningite), transtornos vasculares cerebrais (Ex: aneurismas), trauma craniano/cervical, transtornos cerebrais não vasculares (Ex: Tumores), uso ou supressão de substâncias, causas sistêmicas (Ex: hipertensão arterial, hipoglicemia).

Como mencionado anteriormente, a maioria das cefaléias é primária e não está relacionada a nenhuma doença grave. Porém, em alguns casos ela pode ser o único sintoma de uma doença ameaçadora à vida. Por isso, devemos conhecer os sinais de alarme:

1- É a pior dor de cabeça que você já sentiu? Surgiu de repente e forte?
2- Recentemente as características da sua “velha dor de cabeça” mudaram e se tornaram mais intensas?
3- Você tem mais de 50 anos e a dor é nova?
4- Há outras alterações sistêmicas ou neurológicas associadas (febre, sonolência, rigidez do pescoço, paralisias, agitação, convulsões, etc)?
5- História de câncer, déficit de imunidade, transtorno de coagulação (inclusive uso de anticoagulantes)?
6- A dor está piorando progressivamente e não melhora com medicação?
7- Houve traumatismo recente na cabeça?
8- A dor piora aos esforços?
Se você está com dor de cabeça e respondeu SIM para algum dos questionamentos acima, recomenda-se consulta imediata com um especialista.

Retomando o nosso título, desejo que o número de desafios na vida de cada um seja menor que o amplo universo de “dores de cabeça” à qual estamos susceptíveis (alta prevalência, frequência variável, muitas formas de apresentação – são mais de 150 tipos).

Por hora foquem nos sinais de alerta! Na sequência discutiremos um pouco sobre os principais tipos de dor de cabeça. Até o próximo artigo!

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Dra. Camila Resende

Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). @dracamilaresende