Saiba como aliviar a carga mental que sobrecarrega as mães

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Psi. Renata Bedran

Vamos falar de uma carga que por ser invisível para quem não a sente, não é levada em consideração. É a carga mental da maternidade.

São preocupações que acompanham o cuidador primário da criança que geralmente é a mãe, 24 horas por dia, quase impossíveis de serem desligadas. Mesmo após uma (pequena) parcela dos parceiros entenderem que a tarefa do cuidado da casa e dos filhos deve ser totalmente dividida, o que se divide, na realidade, é a execução dela. O planejamento, a gestão e a responsabilidade em si continuam, em grande parte, com o cuidador primário, que geralmente é a mulher/mãe.

O que quero dizer é que, em muitos casos, se o parceiro vai ao mercado, antes houve o gerenciamento da mãe sobre o que precisa ser comprado. A mãe que viu o que esta faltando em casa, e fez a lista, provavelmente com a especificação de cada marca de produto que eles usam em casa. É a mãe que vai a uma reunião da escola e ajuda na lição de casa, é a mãe está diariamente no grupo no grupo de WhatsApp, verificando se o uniforme está ficando pequeno, se o filho brigou com alguma criança.

Historicamente, é possível entender porque as mães enfrentam esta carga maior. As mulheres foram criadas de maneira mais submissa, se colocando em segundo plano, nunca como protagonistas da própria vida. É esperado que elas estejam sempre prontas a ajudar desde meninas. Quando você vai numa loja de brinquedos você percebe que o corredor das meninas tem brinquedos que tem o significado de cuidado: boneca, fralda para boneca, mamadeira da boneca, pia de lavar louças, panelas.

A menina fica doutrinada desde muito cedo a cuidar. Muitas vezes os meninos são proibidos de cuidar de boneca, brincar de casinha ou fazer comidinha porque vivemos numa sociedade machista, mas é isso que faz hoje o marido não ajudar. Os meninos têm o direito de aprender a cuidar. E as meninas têm o direito de crescer junto com meninos que cuidam também.

Isso tudo leva a mulher a crer que a responsabilidade da felicidade e da harmonia familiar está centrada na mulher e, especialmente, na figura materna. E, esse heroísmo, essa figura romantizada da mãe, na realidade, é uma prisão. Quando você sai sem a criança é de costume ouvir: cadê seu filho? Como se só a mãe tivesse a responsabilidade de ficar com os filhos.
A mesma lógica acontece quando vemos uma criança tocando o terror em algum lugar, nós nos perguntamos: cadê a mãe dessa criança? Nunca perguntam cadê o pai dessa criança.

A divisão de tarefas ainda é muito desigual, e a sociedade continua encarando como ajuda o papel desempenhado pelos pais, supervalorizando quando eles fazem o mínimo, levando em consideração de que toda a responsabilidade das demandas da casa e das crianças é da mulher. Somado a isso, é esperando da mulher que ela tem que dar conta de estar linda, magra, com as unhas feitas, cabelo feito, sobrancelha feita.

Tem que ter uma carreira, senão você esta encostada. Se você tem uma carreira, as pessoas pensam: e seus filhos, quem irá cuidar deles?
O resultado são mulheres exaustas, deprimidas, com ansiedade, dificuldade para dormir e sem energia para aproveitar os momentos de lazer sozinhas ou ao lado do companheiro e dos filhos. Os relacionamentos, naturalmente, também são afetados por brigas e desentendimentos.

A solução para o casal melhorar a sobrecarga mental em cima da mulher ou do cuidador primário, passa prioritariamente pelo diálogo. Reconhecer a sobrecarga é o primeiro passo para transformar a realidade.

Em alguns casos, poderá ser necessário que a mulher busque ajuda profissional, como acompanhamento médico e psicológico, para conseguir regular o sono e a alimentação, sem os quais dificilmente conseguirá melhorar nos outros aspectos. O diálogo com o companheiro também é imprescindível para dar início a uma divisão de tarefas real. Se o homem será responsável por cuidar das roupas da família, ele não precisa que a mulher diga que o cesto está cheio para dar início ao processo de separar as peças, colocá-las na máquina de lavar, estendê-las no varal e recolher tudo depois que estiverem secas.

É verdade que a mudança não é fácil para os homens também, pois é preciso estar aberto para promover a desconstrução desse tipo de comportamento, que vem sendo encorajado pela sociedade desde sempre. Mas, conforme esse tema vem sendo trazido à tona, começamos a perceber pequenas mudanças na rotina das famílias.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran