Você tem bruxismo? Saiba como mudanças de hábitos podem ajudar no tratamento

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Dra. Daniela Feu

Pode parecer estranho, mas o tratamento do bruxismo pode começar com a mudança dos seus hábitos, sabia? Quem consome muito café tem 1,5 vezes mais chances de ter bruxismo do sono, quem fuma, tem cerca de duas vezes mais chances e quem consome álcool regularmente, também tem duas vezes mais chances de ter bruxismo do sono. E isso isoladamente, porque se forem combinados, esses fatores aumentarão suas chances de ter bruxismo do sono.

Em relação ao bruxismo da vigília, aquele que acontece durante o dia, o estresse e a ansiedade são grandes vilões. Nesse tipo de bruxismo, a pessoa aperta os dentes ou contrai os músculos mastigatórios por várias horas durante o dia, atividade que é muito irritante para nosso organismo. Controlar o estresse e a ansiedade do dia-a-dia com medidas paliativas e de autocuidado ajudarão muito, além do uso de lembretes como aplicativos ou dispositivos para te lembrar de desencostar seus dentes durante suas atividades.

A obstrução das vias aéreas em crianças e adultos também é um fator causal importante para o bruxismo do sono e, nesse caso, o bruxismo se torna protetivo, porque ele ocorre com o aumento da atividade muscular na tentativa do organismo de melhorar a passagem do ar, o que de fato ocorre. Nesse caso o bruxismo é como um “aviso” de que tem algo errado acontecendo. O tratamento dessa obstrução respiratória terá impacto muito positivo na redução da intensidade e frequência do bruxismo do sono. As evidências científicas comprovam que a disjunção maxilar (o alargamento da base óssea maxilar e consequentemente da base do nariz, realizado com um aparelho intra-bucal) aumenta a capacidade respiratória da criança e reduzem os episódios de bruxismo, sendo importante ferramenta para o tratamento dessa condição, junto com a remoção de obstruções por hipertrofia de amígdalas, adenoides ou cornetos nasais, quando houver.

No caso do refluxo gastroesofagico, que também é um importante fator causal para o bruxismo, é a acidez provocada pelo refluxo que “ativa” o bruxismo e nesse caso, ele também acaba sendo protetivo, ou seja, um aviso de que tenha algo errado acontecendo no organismo, mesmo que seja um refluxo subclínico, ou seja, sem sinais muito evidentes. O rastreamento e tratamento do refluxo vai consequentemente tratar o bruxismo também, caso esses seja um dos fatores causais.

O uso de alguns tipos de medicamentos anti-depressivos como os inibidores seletivos da receptação da serotonina; os anticonvulsivantes barbitúricos; o metilfenidato (conhecido como ritalina); e alguns medicamentos estimulantes, poderão aumentar ocorrência do bruxismo do sono. Verificar a possibilidade de alteração desses medicamentos por similares que não tenham esse efeito, junto com o médico que os prescreveu, será importante para o tratamento do bruxismo. Mas atenção: não se deve trocar nenhuma medicação sem o aval do seu médico!

Mas, e a placa de bruxismo? Ela é importantíssima! Primeiro porque ela “desprograma” a oclusão e isso reduz a atividade muscular, reduzindo a intensidade e frequência do bruxismo. Além disso, por mais que o bruxismo do sono tenha duração curta, ao contrário do bruxismo da vigília, ele é feito com força incrivelmente alta e causará consequências irreversíveis para os dentes como desgastes do esmalte, trincas do esmalte e até da raiz do dente (que podem causar a perda do dente), fraturas nas restaurações e coroas protéticas e a placa irá prevenir todos esses efeitos negativos.

Mas não é qualquer placa que terá esse efeito! A placa deve ser rígida, feita especificamente para você, com espessura, formato e ajustes feitos para o tipo de bruxismo que você tem. Placas moles, parecidas com as de clareamento, costumam piorar o problema, porque estimulam a atividade muscular, por isso são contra-indicadas.

Para tratar o bruxismo, tratamos a pessoa como um todo, procurando todos os possíveis problemas e fatores causais que estão levando o cérebro a ordenar a atividade dos músculos da mastigação e também protegendo os dentes, que são, na maioria das vezes, os mais prejudicados com esse comportamento.

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Dra. Daniela Feu

Cirurgiã Dentista Graduada em Odontologia pela UFES. Especialista em Ortodontia pela UERJ. Mestre e Doutora em Ortodontista (UERJ). Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia (BBO). Diretora do Colégio de Diplomados do BBO. Editora associada da Revista Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e editora da Revista Clinical Orthodontics. @dani_feu