Zumbido no ouvido pode ser sinal de problemas odontológicos?

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Dra. Daniela Feu

O zumbido pode ser percebido como estando dentro do(s) ouvido(s), dentro ou ao redor da cabeça, ou como um ruído externo distante. Os pacientes reportam desde ruídos intensos, chiados, som de cachoeira, até ruídos distantes. Quanto maior a intensidade e frequência, mais irão comprometer a qualidade de vida de quem o tem. De fato, o zumbido é uma queixa muito comum, com uma prevalência de 10 a 20% na população. O sintoma pode ter curta duração ou durar meses a anos; pode ser intermitente ou contínuo.

O bruxismo não tem relação com o zumbido, como muitos pacientes acreditam. Na verdade, o zumbido tem mais de trezentas possíveis causas e, por isso, seu tratamento é complexo. Uma das causas mais comuns é a perda auditiva. Quase todo mundo já teve zumbido por um curto período de tempo após ser exposto a um ruído extremamente alto. Por exemplo, ficar horas em uma boate ou ouvir de perto um estrondo, como uma explosão, pode provocar zumbido de curta duração.

Os zumbidos prolongados, por sua vez, costumam ocorrer em pessoas com lesão no ouvido interno, mais especificamente na cóclea. Nestes, além do zumbido, perda auditiva também costuma estar presente. Na cóclea existem células ciliadas minúsculas e delicadas, cujos cílios se movem quando o ouvido recebe ondas sonoras. Este pequeno movimento dispara sinais elétricos ao longo do nervo coclear, que vai do ouvido até o cérebro. Ao receber esses impulsos elétricos, o cérebro interpreta-os como sons.

Se os pequenos cílios dentro do seu ouvido interno estiverem tortos ou lesionados – isso acontece com a idade ou quando você é regularmente exposto a sons altos – eles podem gerar impulsos elétricos aleatórios para o seu cérebro, causando zumbido.

Portanto, a perda auditiva causada por exposição frequente a ruídos, medicamentos ototóxicos ou a perda auditiva relacionada à idade (presbiacusia), que ocorre a partir dos 60 anos de idade, são importantes fatores causais do zumbido. O exame de audiometria irá detectar se essa é a causa e direcionar o tratamento. Existem também fatores causais genéticos e, além disso, os angiomas cerebrais são fatores causais que sempre devem ser pesquisados através de exames de imagem específicos.

As Disfunções Temporomandibulares são também importantes fatores causais do zumbido. De fato, os pacientes com DTM frequentemente apresentam sinais e sintomas otológicos, ou seja, nos ouvidos. A evidência científica demonstra que o tratamento da DTM melhora o zumbido na maioria dos casos, mas nem sempre resolve 100% do problema, isso porque a DTM pode não ser o único fator causal envolvido. O zumbido tem etilologia (causa) multifatorial e é frequente que haja mais de um fator envolvido ao mesmo tempo, em especial nos zumbidos altos de longa duração.

Como muitas pessoas confundem DTM com bruxismo, elas consideram que o bruxismo poderia causar zumbido, mas essas são condições distintas (sugiro que você leia a matéria: “Disfunção temporomanbibular (DTM) e bruxismo são a mesma coisa?”) e apenas a DTM está relacionada com o aparecimento do zumbido. Saliento que a oclusão dentária também não tem relação com o zumbido e, por isso, desgastes oclusais e tratamento ortodôntico também não irão melhorar os ruídos. Para melhorar o quadro de zumbido, uma pesquisa minuciosa se seu caso, envolvendo uma equipe multiprofissional com dentista, fonoaudiólogo e médico otorrinolaringologista será importantíssima. A redução da frequência, intensidade ou até eliminação completa do zumbido será obtida quando essa equipe identificar qual ou quais fatores estão causando essa condição.

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Dra. Daniela Feu

Cirurgiã Dentista Graduada em Odontologia pela UFES. Especialista em Ortodontia pela UERJ. Mestre e Doutora em Ortodontista (UERJ). Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia (BBO). Diretora do Colégio de Diplomados do BBO. Editora associada da Revista Dental Press Journal of Orthodontics (DPJO) e editora da Revista Clinical Orthodontics. @dani_feu