Diário do coração: meu mundo azul e sua hipersensibilidade

Por Tarsilayne Dias, mãe dos Autistas Gustavo e Guilherme

Me lembro bem…

Me lembro bem de quantos choros e crises ele tinha quando estava em um lugar muito movimentado, com muito barulho. Quantos cultos assisti do lado de fora da igreja, olhando pela janela. Em determinadas dias, até voltava para casa. Meu Gute chorava, gritava e ficava muito agitado. Eu não entendia o motivo. Meu Deus! Por muitas vezes eu chorei junto.

Ele ainda não conseguia se comunicar verbalmente e eu não compreendia o que ele estava sentindo. Fomos orientados a procurar um neuropediatra e o diagnóstico veio depois de algumas consultas: Seu filho é autista!

Confesso que um turbilhão de emoções invadiu o meu peito. Aquele sentimento de insegurança e dúvidas eram presentes. Me senti como um pequeno barco a deriva. Ao mesmo tempo, senti alívio. Eu consegui entender todo aquele comportamento social inadequado e o porque ele se incomodava com som alto de determinados locais que frequentávamos.

Meu filho possui hipersensibilidade auditiva. Eu aceitei e sinto que isso é um ato de amor e respeito ao Gustavo. Comecei a estudar e a buscar ajuda. Percebi que infelizmente, vivemos em uma sociedade onde a inclusão é obrigação e não necessidade.

Os pedidos de socorro e empatia muitas vezes são vistos como vitimismo. Somos taxados como “chorões”. E sentimos isso na pele o quanto nós e nossos filhos somos invisíveis.

Sentimos na pele o preconceito, o capacitismo e a falta da empatia. Em nossos bairros sofremos com o som elevado de estabelecimentos de entretenimento. Músicas altas oriundas das marinas instaladas no Canal de Camburi invadem minha residência e as as crises sensoriais e os choros são rotina.

Por vezes a comunicação verbal não acontece bem, e ele se expressa de forma agressiva. O abafador, se tornou uma acessório pessoal do dia a dia do nosso filho. Sua hipersensibilidade às vezes vem carregada de medo, susto, desespero, angústia e sobrecarga sensorial.

Meu Deus, como eu sonho com uma sociedade mais justa para ele e para seu irmão Guilherme que sofre com enxaquecas oriundas do som elevado.

Não vamos desistir! Os desafios e as barreiras são enormes, porém acredito que as vitórias serão maiores!

Como dizemos no nosso grupo de Apoio Força Azul: “Desistir não existe no nosso vocabulário!”

Nosso desejo é por um mundo com mais amor e empatia!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *