Descobrindo Portugal e seus vinhos: o inverso do 22 de abril

Carol Santos é empresária capixaba de enoturismo. Foto: Carol Andrade

O ano era 1500, o mês de abril e o dia 22: os portugueses “descobrem” o Brasil. A chegada em Santa Cruz de Cabrália deve ter sido um misto de sentimentos: medo do desconhecido, empolgação pela novidade etc. Tudo ao mesmo tempo, no mesmo lugar.

Os anos se passaram, o Brasil sofreu diferentes divisões (desde as capitanias hereditárias até o que temos hoje como Estados Federados), muitas influências migratórias (italianos, alemães, japoneses), e tudo isso permitiu que as características do povo brasileiro fosse tão marcante.

Você sabia que o passaporte brasileiro é dos mais cobiçados pela criminalidade para a falsificação de documentos? Nós, brasileiros, somos tão diversos que “qualquer pessoa” pode “parecer” um brasileiro.

Com um salto gigante, chego ao século XX. Uma nova e grande imigração portuguesa chega ao Brasil – não há qualquer relação com os portugueses colonizadores.

Temos, no século XX, pessoas de nacionalidade portuguesa em busca de melhores condições de vida: a ditadura imposta a Portugal por Salazar leva pobreza e muita limitação aos cidadãos portugueses, especialmente àqueles que não estão em Lisboa (a capital de Portugal).

Estes imigrantes portugueses se mudam especialmente para São Paulo e Rio de Janeiro, e se estabelecem como comerciantes. Como todos os imigrantes, levam um pedaço do seu país para onde vão viver e se reconstruir.

E começamos a ter, no Brasil, o famoso “bolinho de bacalhau” às mesas, bem como o hábito de comer o bacalhau, consumir azeite e, claro, beber vinho português.

Esta grande imigração acabou por ter no Brasil os seus descendentes: filhos, netos e já bisnetos de portugueses nasceram e cresceram no Brasil, mas trouxeram em seu DNA um pouco (ou muito) de Portugal.

Muitos destes descendentes, em busca de uma vida melhor ou para reviver/reencontrar suas raízes, decidiram migrar para Portugal – e o caminho inverso, cíclico, voltou a acontecer.

Este grupo – com tantas outras pessoas – passaram a descobrir Portugal: sua culinária, sua história, sua natureza. Começaram a viver as tradições, a ouvir com frequência o fado que a avó colocava na vitrola, a saber o que é um pastel de bacalhau, a ouvir pessoas trocando o “v” pelo “b”.

E é exatamente neste ciclo que hoje temos o Brasil descobrindo Portugal: a 1ª maior imigração em Portugal é de brasileiros; o número de turistas brasileiros cresce a cada ano (em 2023 foram mais de um milhão de turistas brasileiros em Portugal).

Além disso, no Brasil também cresce o número de vinhos importados de Portugal, além dos pratos confeccionados com bacalhau (mas não só).

Nesta “onda”, no Espírito Santo também aconteceu um aumento de número de restaurantes portugueses. E para que possam experimentar estes sabores, e descobrir Portugal 524 anos depois, deixo a sugestão de lugares para conhecerem (em ordem aleatória):

– D’Belém: a pastelaria conta com os pasteis de natas (e não de Belém, pois não estão em Portugal), outros doces típicos, vinhos, e pratos do dia;´

– Lareira Portuguesa: restaurante tradicional da capital capixaba e que possui, principalmente, pratos com bacalhau e a famosa sobremesa chamada “Torta de Sintra”;

– Porto do Bacalhau: restaurante tradicional da cidade. Foi o lugar onde comi, pela primeira vez, um prato de bacalhau:

– Casa Portuguesa: o mais novo de todos, traz o bacalhau como “carro chefe”, mas também outras iguarias, como o polvo.

– Bacalhauzinho: restaurante antigo da cidade, com bom bacalhau e também bom atendimento.

Sobre os vinhos portugueses, baixe meu e-book Introdução aos Vinhos de Portugal no meu site.

Carol Santos

Empresária capixaba do ramo do enoturismo em Portugal

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