Eleição previsível na Grande Vitória

Sem novidades, as eleições municipais 2016 terminaram apontando segundo turno nas quatro maiores cidades da Região Metropolitana – as únicas do Estado onde pode haver o novo pleito, considerando o critério do número mínimo de 200 mil eleitores. Vão duelar em Vitória Luciano Rezende (PPS) e Amaro Neto (SD); em Vila Velha Max Filho (PSDB) e Neucimar Fraga (PSD); em Serra Sergio Vidigal (PDT) e Audifax Barcelos (REDE) e em Cariacica Marcelo Santos (PMDB) e Juninho (PPS).

Lelo ia bem em Vitória, com candidatura ascendente e transitando melhor do que os demais oponentes em todas as classes sociais, já que Luciano enfrenta resistência nas classes menos favorecidas e Amaro nas mais favorecidas. Entretanto, na reta final, sua candidatura perdeu musculatura ao não se diferenciar muito do posicionamento de ataque adotado pelo deputado estadual Amaro, sobretudo nos debates. A propósito, o episódio em que Lelo precisou ficar bastante detido em papéis de apoio foi visto de forma negativa pelos eleitores e pelo meio político.

Em Cariacica, Marcos Bruno também cresceu ao longo do tempo e chegou a virar alvo principal de seus concorrentes no debate da TV Vitória, pois viam nele uma ameaça real. Entretanto, bastaram esses ataques pontuais para o candidato da REDE chegar ao seu teto de votos. Ele acredita que se houvesse mais tempo de campanha o resultado seria diferente. Entretanto, contou ao seu desfavor o fato de Helder Salomão (PT) não ter ingressado na campanha, apesar de o partido estar na coligação de Marcos Bruno. É que Helder preferia a candidatura própria de Célia Tavares (PT). Apesar de ser de uma sigla sob forte processo de construção, Helder foi um prefeito muito bem avaliado na cidade e certamente conseguiria beneficiar um candidato, caso assim realmente quisesse.

Na Serra, Givaldo (PT) conseguiu ultrapassar Gideão Svensson (PR) na reta final por uma diferença pequena, enquanto o candidato do partido de Magno Malta (PR) aparecia com leve vantagem em pesquisas de intenção de voto. Mas o deputado federal, levando em conta sua trajetória política, teve uma musculatura abaixo da que poderia conseguir. Foram apenas 342 votos de diferença entre ele e o vereador. Os dois tiveram posicionamentos semelhantes na campanha, atacando a polarização de duas décadas entre Audifax e Vidigal. Não deu outra: a dupla hegemônica teve mais de 90% dos votos válidos.

Em Vila Velha, o prefeito Rodney Miranda (DEM) teve de se contentar com o terceiro lugar e com seu nome na lista dos 18 chefes do Executivo que não conseguiram se reeleger no Espírito Santo. A desconstrução de imagem de Rodney começou bem lá atrás, quando viajou para Nova Iorque quando Vila Velha enfrentava a chamada pior chuva de sua história. Depois foi o episódio do homem desarmado assassinado dentro da prefeitura e os incessantes impasses com servidores do município, que o acusam de falta de diálogo. O ‘golpe’ final veio nos debates, quando Max e Neucimar fingiram que o prefeito nem existia e ficaram trocando farpas entre si – farpas essas que agora devem crescer de forma exponencial.

Novos aliados

Foi iniciada a caça aos apoios dos candidatos que não chegaram ao segundo turno, mas algumas alianças já estão fechadas informalmente há algum tempo. Em Vila Velha, Rafael Favatto (PEN) deve apoiar Max Filho. Na Serra, Givaldo pode engrossar o time de Audifax, já que a REDE o PT dialogam bem por lá. Em Vitória também não é surpresa que Lelo pode integrar a linha de frente do colega palaciano Amaro Neto, não descartando, é claro, alguma reviravolta… Já em Cariacica, Marcos Bruno faz mistério.

Base turbinada

Caso Luciano vença no segundo turno, terá uma base aliada daquelas. Com as eleições de Fabrício Gandini, Denninho, Davi Esmael, Vinicius Simões, Leonil, Nathan Medeiros, Luiz Paulo Amorim e Cleber Felix o prefeito teria oito, dos 15 vereadores. Maioria absoluta.

Perda de poder?

Enquanto uns saem fortalecidos das urnas, outros saem enfraquecidos. Os candidatos a prefeito apoiados pelo presidente da Assembleia Legislativa (Ales) Theodorico Ferraço (DEM) perderam a eleição. Reginaldo Quinta (PMDB), de Presidente Kennedy, perdeu para a sobrinha Amanta Quinta de 4.807 a 5.643 votos. A esposa do deputado, Norma Ayub (DEM), perdeu para Dr. Luciano (PROS) em Itapemirim por uma diferença de 9.067 votos. Já Jathir Moreira (SD) teve nas urnas de Cachoeiro de Itapemirim 24.594 votos, contra 59.377 de Victor Coelho (PSB).

Sem efeito

Não surtiu muito efeito o apoio declarado do governador Paulo Hartung (PMDB) a Erick Musso (PP), em Aracruz, e Rodney Miranda (DEM), em Vila Velha. O deputado estadual do Norte do Estado foi derrotado com uma grande diferença de votos em relação a Jones Cavaglieri (SD): 13.263 a 29.323. Já Sergio Vidigal (PDT) saiu por cima no primeiro turno, com 10.169 votos a mais do que Audifax Barcelos. Nesse caso, ponto para o governador. Voltando a Vila Velha, Rodney ficou muito atrás de Neucimar, o segundo colocado. Um total de 27.233 votos separaram os dois. Um abismo também separou Rodney de Dr. Rafael Favatto, o quarto colocado: foram 22.072 votos a mais para o demista.

Irregulares

A população estranhou os resultados das urnas em algumas cidades, pois muitos não sabiam que alguns dos candidatos a prefeito estão com a situação irregular perante à Justiça Eleitoral. Em Vila Velha, por exemplo, Alan Cláudio Melo (PRTB) teve o registro impugnado e a chapa majoritária não foi substituída a tempo do pleito. Também tem pendências Luiz Carlos Peruchi (PMDB), em João Neiva, Anderson Pedroni (PSD), em Fundão, Fernando Altoé (PDT), em Venda Nova do Imigrante, e Venturini Nicodemos (PPL), na Serra. Os votos desses candidatos não foram contabilizados e aparecem zerados no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até que saia uma decisão judicial contrária ou favorável a eles.

Ausente

O PT já tinha pouca penetração no Espírito Santo (eram apenas cinco prefeituras), mas agora foi quase varrido do mapa. Com a incessante divulgação de envolvimento do partido em escândalos de corrupção, a sigla só conseguiu se eleger em um, dos 78, municípios do Espírito Santo. Só resta a Alencar Marim (PT), de Barra de São Francisco, a tarefa de defender o legado petista. A maioria dos eleitos no Estado foi de partidos tidos como de direita e mais conservadores e elitistas, tais como PMDB e PSDB – as siglas, inclusive, com o maior número de candidatos a prefeito e vereador eleitos no Brasil neste ano.

Fenômeno adverso

Enquanto uns partidos ditos de esquerda declinam, outros ascendem. Apesar de não terem tido o direito de participar de debates na TV, por conta da nova legislação eleitoral, os candidatos do PSOL Andre Moreira, em Vitória, e a professora Liu Katrini, em Vila Velha, saíram fortalecidos. Com meros 17 segundos de TV, Andre teve 5.668 na capital (apenas 793 votos a menos do que Perly – bem mais conhecido e com trajetória política muito mais extensa). Na cidade-canela verde, Liu obteve 3.876 votos (3.655 a menos do que Vasco Alves). Única candidata mulher entre os quatro principais municípios da Grande Vitória, Liu pode comemorar, já que não ficou muito atrás de um ex-prefeito que tinha recurso financeiro, histórico político e considerável tempo de TV, enquanto ela só podia usufruir de 14 segundos.

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